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Antiguidade cristã: espiritualismo cultual
Na antiguidade cristã, a liturgia é teologia e podemos observar três aspectos, a saber:
- Ritualismo cultual (a liturgia coincide com a teologia),
- Espiritualismo cultual (culto em espírito e verdade) e
- Teologia do culto (o mistério invade toda a vida cristã).
O culto espiritual é confrontado com o culto ritual do
paganismo. Jesus não criou do nada os atos do culto que a Igreja celebra, mas
tomou-os da práxis vigente no culto hebraico acrescentando a grande novidade de
sua pessoa e de sua Páscoa.
A Igreja Apostólica seguiu esta linha: as formas cultuais
não praticadas ainda por Jesus quase nunca foram inventadas como novidades pela
Igreja, mas inspiraram-se nos modelos já existentes nas tradições cultuais do
judaísmo.
Cristo é o centro do culto e a presença divina já não
fica vinculada ao templo, mas à pessoa de Cristo.
O conjunto do culto, ritual e
sacrifício, já não têm valor. A antiga estrutura da religião é substituída por
outra nova. É um novo modelo de religião, estruturada em torno da fé em Cristo
ressuscitado. Trata-se de um culto espiritual no sentido mais etimológico da
palavra. Eles mesmos consideravam a santidade interior seu verdadeiro culto,
como homenagem ao Deus três vezes santo.
O conjunto do culto ritual e sacrifical não tem valor. A
oferenda de si mesmos é viva e vivente e não se realiza mediante os animais
mortos. A vida cristã não consiste em se abster do mundo presente, com um
sentido puramente negativo, mas numa ótica positiva através da transformação
positiva de cada um e da renovação da mente e do coração.
Cristo é templo, sacrifício, altar e Páscoa. Cristo
recebeu um ministério superior. Ele é o mediador de uma aliança bem melhor,
baseada em promessas melhores. Toda a existência cristã transforma-se no
exercício de um sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais
agradáveis a Deus por meio de Jesus Cristo. O ser humano consagrado no nome de
Deus e a ele prometido, enquanto morre para o mundo para viver de Deus é um
sacrifício.
O sacrifício dos cristãos consiste em todos formarem um
único corpo com Cristo: o sacrifício de Cristo, que configura o mistério
pascal; e o sacrifício dos cristãos através da vida, das boas obras e da
oração.
Cristo é também altar e isso indica que tal altar não é
tanto a mesa eucarística, mas a cruz na qual Cristo foi imolado, mediante o
qual são oferecidas orações a Deus.
São Gregório Magno que em sua Homilia
sobre Ezequiel registra que sobre o altar, diz: “Que é o altar de Deus senão a
alma daqueles que levam uma vida santa. Com razão, portanto, o coração dos justos
chama-se altar de Deus”.
Clemente de Alexandria ensina que “Temos aqui na terra
um altar que é a união dos que se dedicam à oração e que têm uma voz comum e um
mesmo ideal”.
Cristo é a verdadeira Páscoa. Nos primeiros séculos havia
somente uma celebração anual da Páscoa, enquanto o domingo era a festa semanal:
ambas as festas celebravam a totalidade do mistério pascal da salvação
realizada por Cristo, celebrando sua ressurreição.
Antes do século IV, não
havia nenhum ciclo de liturgias comemorativas da Semana Santa. A celebração da
vigília pascal constituía o ponto de apoio de toda a vida espiritual da
comunidade primitiva.
A partir do século III, a incorporação do batismo ao
ritual da vigília pascal acrescentou algo mais ao significado da festa pascal.
Paulo ensina que, assim como Jesus morreu e ressuscitou pela nossa salvação, no
batismo também o neófito morre para o pecado e ressuscita para a vida nova
nele.
Diferentemente dos hebreus, os judeus cristãos, ao
professar que o Messias já havia chegado à pessoa de Jesus, simplesmente
transportavam essa espera da segunda vinda de Jesus para parusia.
Até Breve! Envie suas sugestões. Obrigado
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