segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Creio em Jesus




Jesus Cristo (Catecismo da Igreja Católica, 595 a 682):

JESUS MORREU CRUCIFICADO

O processo de Jesus: Os judeus não são coletivamente responsáveis pela morte de Jesus. Todos os pecadores foram autores da Paixão de Cristo.  “Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras” (1 Cor 15, 3).
A morte redentora de Cristo no desígnio divino de salvação: A nossa salvação procede da iniciativa amorosa de Deus em nosso favor, pois “foi Ele que nos amou a nós e enviou o seu Filho como vítima de expiação por nossos pecados» (1 Jo 4, 10). “Foi Deus que, em Cristo, reconciliou consigo o mundo” (2 Cor 5, 19). Aquele que não conhecera o pecado, Deus o fez pecado por causa de nós.
Cristo ofereceu-se a seu Pai por nossos pecados: Jesus ofereceu-se livremente por nossa salvação. Este dom, ele o significa e o realiza por antecipação durante a Última Ceia: “Isto é o meu Corpo, que será dado por vós” (Lc 22, 19).
A morte de Cristo é o sacrifício único e definitivo: Nisto consiste a redenção de Cristo: Ele “veio dar a sua vida em resgate pela multidão” (Mt 20, 28), quer dizer; veio “amar os seus até ao fim” (Jo 13, 1), para que fossem libertos da má conduta herdada dos seus pais.
Jesus substitui nossa desobediência por sua obediência: Pela sua obediência amorosa ao Pai, “até a morte de cruz” (Fl 2, 8), Jesus cumpriu a missão expiatória do Servo sofredor, que justifica as multidões, tomando sobre Si o peso das suas faltas (Is 53, 11).
Nossa Participação no Sacrifício de Cristo: A Cruz é o único sacrifício de Cristo, “o único mediador entre Deus e os homens”. Fora da cruz não existe outra escada por onde subir ao céu.

JESUS CRISTO FOI SEPULTADO

Cristo com seu corpo na sepultura: Para benefício de todos os homens, Jesus Cristo experimentou a morte. Foi, de verdade, o Filho de Deus feito homem que morreu e foi sepultado.
“Não deixareis o vosso Santo sofrer a corrupção”: Durante a permanência de Jesus Cristo no túmulo, a sua pessoa divina continuou a assumir tanto a alma como o corpo, apesar de sepa­rados entre si pela morte. Por isso, o corpo de Jesus Cristo morto «não sofreu a corrupção» (At 13,37).
“Sepultados com Cristo”: O Batismo, cujo sinal original e pleno é a imersão, significa eficazmente a descida ao túmulo, por parte do cristão que morre para o pecado com Jesus Cristo, com vista a uma vida nova. 

“JESUS CRISTO DESCEU AOS INFERNOS, RESSUCITOU DOS MORTOS NO TERCEIRO DIA”

Jesus Cristo desceu aos infernos: Na expressão «Jesus desceu à mansão dos mortos», o Símbolo confessa que Jesus Cristo morreu realmente, e que, por ter morrido por nós, venceu a morte e o Diabo “que tem o poder da morte” (Hb 2, 14). Jesus Cristo morto, na sua alma unida à pessoa divina, desceu à morada dos mortos. E abriu as portas do céu aos justos que o haviam precedido.

NO TERCEIRO DIA RESSUSCITOU DOS MORTOS.

Acontecimento histórico e transcendente: A fé na ressurreição tem por objeto um acontecimento, ao mesmo tempo historicamente testemunhado pelos discípulos (que realmente encontraram o Ressuscitado) e misteriosamente transcendente, enquanto entrada da humanidade de Jesus Cristo na glória de Deus.
O túmulo vazio e as aparições do ressuscitado: O sepulcro vazio e os lençóis deixados no chão significam por si mesmos que o corpo de Jesus Cristo escapou aos laços da morte e da corrupção, pelo poder de Deus. E preparam os discípulos para o encontro com o Ressuscitado.
A Ressurreição como acontecimento transcendente: Jesus Cristo, “primogênito dentre os mortos” (Cl 1, 18), é o princípio da nossa própria ressurreição, desde agora pela justificação da nossa alma, mais tarde pela vivificação do nosso corpo. A Ressurreição é obra da Santíssima Trindade. Nela as três Pessoas Divinas agem ao mesmo tempo, juntas e manifestam sua originalidade própria. Ela aconteceu pelo poder do Pai que “ressuscitou” Jesus Cristo, seu Filho, e desta forma introduziu de modo perfeito sua humanidade na Trindade.
Sentido e alcance salvífico da Ressurreição: A ressurreição constitui antes de mais nada a confirmação de tudo quanto Jesus Cristo em pessoa fez e ensinou. A ressurreição de Jesus Cristo é o cumprimento das promessas do Antigo Testamento e do próprio Jesus Cristo, durante a sua vida terrena.  Existe um duplo aspecto no mistério pascal: pela sua morte, Jesus Cristo liberta-nos do pecado; pela sua ressurreição, abre-nos o acesso a uma nova vida. Esta é, antes de mais, a justificação, que nos repõe na graça de Deus. A ressurreição de Jesus Cristo – e o próprio Jesus Cristo Ressuscitado – é princípio e fonte da nossa ressurreição futura: “Jesus Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram”.

“JESUS SUBIU AOS CÉUS E ESTÁ SENTADO À DIREITA DE DEUS, PAI TODO-PODEROSO”

Jesus Cristo foi elevado ao céu: A ascensão de Jesus Cristo marca a entrada definitiva da humanidade de Jesus Cristo no domínio celeste de Deus, de donde voltará, mas que até lá o esconde aos olhos dos homens.
Cabeça da Igreja: Jesus Cristo, cabeça da Igreja, precede-nos no Reino glorioso do Pai, para que nós, membros do seu corpo, vivamos na esperança de estarmos um dia eternamente com Ele.
Mediator Dei: Jesus Cristo, tendo entrado, uma vez por todas, no santuário dos céus, intercede incessantemente por nós, como mediador que nos garante permanentemente a efusão do Espírito Santo.

“DONDE VIRÁ JULGAR OS VIVOS E OS MORTOS”

Cristo já reina pela Igreja: Cristo Senhor reina já pela Igreja, mas ainda não Lhe estão submetidas todas as coisas deste mundo. O triunfo do Reino de Jesus Cristo só será um fato, depois dum último assalto das forças do mal.
O advento glorioso de Cristo esperança de Israel: No dia do Juízo, no fim do mundo, Jesus Cristo virá na sua glória para completar o triunfo definitivo do bem sobre o mal, os quais, como o trigo e o joio, terão crescido juntos no decurso da história.
Para julgar os vivos e os mortos: Quando vier; no fim dos tempos, para julgar os vivos e os mortos, Jesus Cristo glorioso revelará a disposição secreta dos corações, e dará a cada um segundo as suas obras e segundo tiver acolhido ou rejeitado sua graça.

Referências
  • Bíblia de Jerusalém. 6ª. Reimpressão. São Paulo: Paulus, 2010.
  • CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA – Edição Típica Vaticana – São Paulo: Loyola, 2000.
Até Breve!

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Nova Evangelização

Desafios da “Nova Evangelização” e a Dimensão Social


           
          Para a Igreja, o anúncio evangélico não é uma tarefa a mais, entre outras possíveis, mas a tarefa essencial. Realiza-se quando a presença cristã é anúncio e testemunho. Presente este importante aspecto, vale o registro de que a “Nova Evangelização” como formulação e proclamação é da década de oitenta do século passado. Aparece já em Medellín (1969) e depois em Puebla (1979). Porém, é em 1983 que S. João Paulo II fala pela primeira vez em “Nova Evangelização”, também em contexto latino-americano (no Haiti em 1983 e em São Domingos em 1984).

            Nesse sentido, S. João Paulo II nos ensina que o mundo precisa de uma “Nova Evangelização” para promover a “civilização do amor” e, no documento Sollicitudo Rei Socialis, destaca a cultura da solidariedade como fruto dessa “Nova Evangelização”. Ademais, elege a solidariedade, o amor e a fraternidade como antídotos para a situação de tensões sociais, econômicas e políticas que estamos vivendo continuamente na humanidade.

    A Encíclica Redemptoris Missio, alerta-nos para os problemas da descristianização e do surgimento de inúmeras seitas. Diante desta realidade, a “Nova Evangelização” de alguma maneira terá que mostrar o Cristo Vivo e presente no meio de uma sociedade que já foi cristã e que agora está se descristianizando.

     Conforme o documento Christifidelis Laici, notamos que é também objetivo da “Nova Evangelização” a formação de comunidades eclesiais maduras, traduzidas em Igrejas autênticas onde a fé, a esperança e a caridade tenham toda sua expressão na própria vida eclesial: não são igrejas moribundas, mas igrejas que estejam carregadas de vitalidade. Nessa linha, o foco da “Nova Evangelização” está dirigido a um nível global (envolve todo o mundo em um espírito de amor e solidariedade); a um nível restrito (cuida daqueles que progressivamente vão se afastando da igreja); e a um nível eclesial (formação de comunidades eclesiais maduras).

   Todavia, embora distintos entre si, notamos que tais níveis estão intrinsecamente relacionados, pois se queremos construir uma sociedade com justiça social precisamos fazer com que tanto os irmãos que vivem dentro da Igreja, como os que dela vão se separando, voltem a encontrar a força de Cristo. É desta forma que a “Nova Evangelização” se constitui o elemento englobante, a ideia central e iluminadora que, na consciência atual da Igreja, tem um significado de grande amplitude, que não deve ficar limitado ao anúncio aos não crentes e deve abranger toda a atividade missionária da Igreja, em todas as suas formas. Essa necessidade leva a Igreja a compreender “que sua mensagem social encontrará credibilidade primeira no testemunho das obras e só depois na sua coerência e lógica interna” (Centesimus Annus, 57).

        É nesse sentido que a Igreja, através de seu magistério e de sua doutrina, aponta o caminho a seguir: renovar nossas comunidades cristãs, nossos ambientes, a cultura, a civilização. Esta renovação deve ser entendida com o auxílio do Concílio Vaticano II, que nos convida a criar Igrejas renovadas e adaptadas às novas circunstâncias. Igrejas e comunidades que resgatem sua missão evangelizadora no mundo. Pode haver pessoas que, com um sentido muito tradicional, pense em cristãos cumpridores dos deveres, fiéis executores de todas as obrigações, mas que se esquece de algo muito importante: ser missionário e ser evangelizador. A vocação do cristão não é salvar-se, mas salvar, ou, de alguma maneira, salvar-se salvando, envangelizar-se evangelizando.

         Nas palavras do Beato Paulo VI ”evangelizar constitui, de fato, a graça e a vocação própria da Igreja a sua mais profunda identidade” (Evangelii Nuntiandi, 14). Neste particular, a “presença e ação do cristão no mundo” assume especial importância, pois se refere às diversas formas de testemunho evangélico na sociedade, a saber: promoção humana, ação social e política, ação educativa e cultural, promoção da paz, atuação em prol da ecologia. São âmbitos de presença nos quais a Igreja é chamada a sair do seu recinto interno e colocar-se decididamente a serviço do Reino de Deus no mundo.

       Assim, o Cristão deve ter sua identidade revelada mais na cidade que no templo, mais na ação transformadora do que na frequência às práticas religiosas, eis que a evangelização supõe uma preocupação a partir do Evangelho e uma preocupação intrínseca à fé, por todos os problemas que existem no mundo. A comunidade que somente se preocupa com seus próprios problemas internos deixa de ser realmente, neste sentido, comunidade plenamente cristã, porque perdeu todo o sentido de fraternidade e de evangelização.
  
   O chamamento está na direção da comunhão, comprometimento e solidariedade. Não se pode estar em uma comunidade e ignorar a situação daqueles que mais necessitam. O cristão deve ouvir a voz, a denúncia, a esperança dos pobres e agir incessantemente no combate à opressão. É importante que nós cristãos não nos consideremos “donos” do Evangelho. Jesus Cristo está sempre presente em nós, e também nos outros. Jesus Cristo fala a partir do Evangelho, dos nossos santos, do Magistério, dos teólogos, do povo simples e humilde, mas também fala através das situações sociais. Nossas comunidades devem ser conscientes não só da profunda dimensão teológica, mas também da realidade histórica, cultural, social em que cada um está envolvido.
    
    O apostolado cristão no meio social deve ser impregnado do vigor do evangelho contaminando positivamente a mentalidade, os costumes, as leis e as estruturas da comunidade em que vive. O apostolado deve mostrar coerência entre a fé e a vida para que, no campo do trabalho, da profissão, do estudo, da moradia, da diversão ou da vida social, nos sintamos mais capazes de ajudar os irmãos, uma vez que, “apesar de tudo, é a nossa história. Sobre a Palavra do Senhor insistimos em privilegiar tudo aquilo que o mundo recusou, considerando-o inútil e pouco eficiente. O doente crônico, o moribundo, o marginalizado, o deficiente e tudo quanto exprime aos olhos do mundo que aí não pode haver futuro nem esperança, encontram resposta na ação dos cristãos” (FISICHELLA, 2012 pag. 81).

            A salvação em Cristo não pode apresentar-se completa se não puder assumir um humanismo integralmente reconstruído, pois “ainda que o processo terreno deva ser distinto do aumento do Reino de Cristo, contudo é de grande interesse para o Reino de Deus” (Gaudium Spes, 39). A fé é a luz que ajuda a compreender o humano nas suas profundas exigências. A esperança teologal se abre para a mesma compreensão crítica dos projetos sociais. A caridade se inclina para a doação para o outro em todas as suas necessidades, também terrenas. A graça faz superar o estado de pecado, que atinge toda existência humana. A história da salvação impele em busca de um processo cultural. O ser criatura nova em Cristo conduz a uma libertação de todo o mal e de toda opressão. Não podemos deixar de lado a situação sociopolítica dos homens, “em vista da conexão vital que esta tem com Cristo” (Gaudium Spes, 38). A evangelização leva a um esforço para que as atuais condições humanas se tornem situações de reconciliação, de paz, de justiça, de fraternidade e de amor, inspiradas no Evangelho. O sinal de autenticidade da evangelização é que os pobres sejam evangelizados. A evangelização leva consigo uma mensagem, especialmente vigorosa em nossos dias sobre a libertação (Evangelii Nutiandi, 29).

     No nosso mundo, conforme nos ensina São João Paulo II no documento Redemptoris Missio, há uma série de valores que devem ser defendidos: o valor da igualdade, o valor da liberdade, os grandes valores da fraternidade e da democracia. Ao mesmo tempo, porém, nosso mundo é o lugar das vítimas. Vivemos num mundo de contradições: grandes valores democráticos de um lado e as grandes vítimas de nossos sistemas sociais de outro.

      O tema dos pobres não é apenas um capítulo da moral evangélica, é um capítulo da cristologia, em sentido estrito. A evangelização libertadora, a partir da opção pelos pobres, anuncia a presença do Reino de Deus entre nós. Mas a salvação não é condicionada por nenhuma situação social. É para todos, também para os ricos, contando que se convertam. Deus ama os pobres, que têm um “privilégio evangélico”, pelo fato de serem sofredores e oprimidos. Porém, quando se trata de atitude de acolhida do Reino de Deus, fala-se de “pobres em espírito”. Exige-se “coração de pobre”.

      Segundo o Papa Francisco, a evangelização procura também o crescimento e cada ser humano precisa sempre mais de Cristo. Para tanto, conclama a todos a perseguir o bem comum e a paz social. As reivindicações sociais, que têm a ver com a distribuição de renda, a inclusão social dos pobres e os direitos humanos não podem ser sufocadas com o pretexto de construir um consenso de escritório ou uma paz efêmera para uma minoria feliz. 

        Para avançar nesta construção de um povo em paz, justiça e fraternidade, o Papa Francisco propõe quatro princípios, que derivam dos grandes postulados da Doutrina Social da Igreja, que constituem o “primeiro e fundamental parâmetro de referência para a interpretação e o exame dos fenômenos sociais”, a saber:

a)  O tempo é superior ao espaço: este princípio permite trabalhar no longo prazo, sem obsessão pelos resultados imediatos.
b)  A unidade prevalece sobre o conflito: deve-se aceitar e suportar o conflito, resolvê-lo e transformá-lo no elo de um novo processo. “Felizes os pacificadores” (Mt 5,9).
c)  A realidade é mais importante que a ideia: Isto supõe evitar formas de ocultar a realidade: os purismos angélicos, os totalitarismos do relativo, os nominalismos declaracionistas, os projetos mais formais que reais, os fundamentalismos anti-históricos, a ética sem bondade, os intelectualismos sem sabedoria.
d)  O todo é superior à parte: não se deve viver demasiado obcecados por questões limitadas e particulares. É preciso alargar sempre o olhar para reconhecer um bem maior que trará benefícios a todos nós.

       Com efeito, podemos afirmar que a “Nova Evangelização” pretendida pela Igreja busca gerar comunidades novas, conscientes dos graves problemas sociais, para serem agentes da transformação do mundo, guiadas pelo Espírito Santo e conforme os ensinamentos do Concílio Vaticano II. Somente comunidades deste tipo podem conseguir o grande objetivo de reintegrar na Igreja os que se encontram afastados, e promover em todo o mundo e em todas as nações aquilo que se chama de “civilização do amor”.

 Referências:

  • ALBERICH, Emílio. Catequese Evangelizadora: Manual de catequética fundamental. 1ª. ed. São Paulo: Salesiana, 2007.
  • BRIGHENTI, Agenor. A missão evangelizadora no contexto atual: Realidades e desafios a partir da América Latina. São Paulo: Paulinas, 2006.
  • CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. São Paulo: Loyola, 2000.
  • CONCÍLIO VATINO II. Compêndio do Vaticano II: Constituições, decretos e declarações. 29 ed. Petrópolis: Vozes, 2000.
  • CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Anúncio Querigmático e Evangelização Fundamental. 1ª. Ed. Brasília: Edições CNBB, 2009.
  • ... A Nova evangelização para a transmissão da fé cristã. 1ª. Ed. Brasília: Edições CNBB, 2013.
  • ... Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2011-2015. 3 ed. Brasília: Edições CNBB, 2011.
  • FISICHELLA, Rino. A Nova Evangelização: Um desafio para sair da indiferença. Lisboa: Paulus, 2012.
  • FRANCISCO. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium. 1ª. Ed. São Paulo: Paulinas, 2013.
  • JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Centesimus Annus. 7 ed. São Paulo: Paulinas, 2007.
  • ... Carta Encíclica Evangelium Vitae. 7 ed. São Paulo: Paulinas, 2011.
  • ... Carta Encíclica Redepmtoris Missio. 9 ed. São Paulo: Paulinas, 2008
  • ... Carta Encíclica Solicitudo Rei Socialis. 6 ed. São Paulo: Paulinas, 2003
  • ... Exortação Apostólica Christifideles Laici. 4 ed. São Paulo: Loyola, 1998.
  • LOPES, Geraldo. Gaudium et Spes: Texto e Comentário. São Paulo: Paulinas, 2011.
  • PAULO VI.  Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi. 17 ed. São Paulo: Paulinas, 2004.
  • ... Carta Encíclica Ecclesiam Suam. 4 ed. São Paulo: Paulinas, 2004.
  • PONTIFÍCIO COSELHO ‘JUSTIÇA E PAZ’. Compêndio da Doutrina Social da Igreja. 6 ed. São Paulo: Paulinas, 2010.
  • SINODO DOS BISPOS: XII Assembleia Geral Ordinária “A nova evangelização para a transmissão da fé cristã”. 1 ed. Brasília: Edições CNBB, 2011.


Até Breve!


quinta-feira, 13 de novembro de 2014

O Livro de Jó

A Mensagem do Livro de Jó



A Palavra de Deus transcende qualquer conhecimento que o intelecto humano seja capaz de produzir e somente é possível compreendê-la à luz dos mistérios da fé, cujas nuances nos servirão de sustentáculo para a realização do presente trabalho que tem o objetivo de analisar o problema concreto de um homem e seu destino narrado no Livro de Jó das Sagradas Escrituras.

 A personagem bíblica Jó nos é apresentada como um homem de fé, “íntegro, correto, temente a Deus” (Jó 1,1) e que não se conformou com respostas prontas e não se contentou com o que os outros lhe disseram e saiu em busca de soluções para os problemas que afligiam sua vida.

A história desse homem mostra sua piedade, riqueza, fama e estima perante a sociedade (Jó 1,2-5). Deus permitiu a Satanás prová-lo para ver se ele continuaria fiel no infortúnio. Ferido primeiro nos seus bens e nos seus filhos, Jó aceita que Deus retome o que lhe havia dado. Atormentado em sua carne por doença repugnante e dolorosa, Jó se mantém conformado e censura sua mulher que o aconselha a amaldiçoar Deus.  Então três amigos seus chegam para compadecer-se dele. Jó e seus amigos contrapõem suas concepções da justiça divina. Depois de tanto sofrimento, Iahweh censura os três interlocutores de Jó e o próprio Jó reconhece sua incapacidade de julgar Deus que, em razão do comportamento de Jó, restituiu-lhe a saúde, os bens materiais e os filhos e filhas.

Feito este pequeno resumo, podemos seguir em nossas análises que apontam para o fato de que o autor do livro quer nos levar a refletir sobre uma pergunta difícil de ser respondida: Por que o sofrimento? Mas, além do sofrimento, somos instigados a revisar nossos conceitos sobre religião. Existe religião gratuita, ou ela é sempre um comércio interesseiro? Religião é uma relação que nasce do conhecimento intelectual de Deus ou uma relação que nasce da experiência vivencial de Deus? Como podemos perceber o livro de Jó traz questionamentos sérios e muito atuais.

A temática do sofrimento do homem reto está ligada a uma antiga tese israelita de que todo o sofrimento é castigo dos pecados do indivíduo, ao passo que a vida longa, saúde, dinheiro, boa fama seriam o prêmio dado pelo Senhor aos seus fiéis seguidores. Ora, Jó não pecou. O próprio Deus reconhece que na “terra não existe nenhum outro como ele: é um homem íntegro e reto, que teme a Deus e evita o mal” (Jó 1,8). Se não vem de Deus, de onde vem o sofrimento de Jó? Essa é a questão que atravessa todo o livro.

A mulher de Jó e seus amigos – Elifaz, Baldad e Sofar (e mais tarde Eliú) – tentam convencê-lo de ter pecado contra Deus. Quase todo livro é uma luta entre o preconceito dos amigos e a inocência de Jó. Ele quer disputar com Deus cara a cara. No fim, Deus fala com ele. E Jó descobre um rosto diferente de Deus. Encontrou-o presente em seu sofrimento, na sua dor e marginalizado.

Esta concepção se impunha aos judeus pelo fato de que ignoravam a existência de uma vida póstuma consciente; julgavam que, após a morte, o indivíduo perdia a lucidez da mente e se encontraria adormecido no cheol, incapaz de receber alguma sanção. Por isto admitiam a retribuição do bem e do mal nesta vida mesma. Eis, porém, que, com o decorrer do tempo, esta concepção se evidenciou discutível: na verdade, nem sempre os bons são recompensados pelo Senhor com os favores desta vida e nem sempre os maus são punidos com doença e miséria.

Como se vê, Deus não confirma a tese antiga, que explicaria o sofrimento como castigo de pecados pessoais, mas também não expõe o sentido do sofrimento, especialmente quando afeta os bons. A explicação do problema só poderia ser dada quando os judeus tivessem noção de que, após a morte, existe outra vida, em que os homens conservam plena consciência do que lhes acontece e, por isto, são capazes de colher os frutos das obras praticadas na terra. Ora somente no Século II a.C (Jó é talvez do século V a.C) Israel chegou à noção de vida póstuma consciente. Na era cristã, Jesus Cristo, o justo que sofre em expiação dos pecados alheios e ressuscita dentre os mortos, projetaria nova luz sobre o sentido do sofrimento.

Assim o livro de Jó se coloca na fase de transição entre as concepções mais antigas referentes ao sofrimento e a mensagem do Novo Testamento.

Gênero Literário

É uma obra-prima da literatura do movimento sapiencial e salta aos olhos o esquema literário cuidadosamente planejado. É inegável a unidade do livro, razão pela qual se pode afirmar que o livro de Jó tem uma unidade orgânica.

Podemos verificar que o livro apresenta estrutura artificiosa, constando dele prólogo e epílogo em prosa, enquadrando o corpo do livro, que é poético. Uma tão artificiosa composição sugere que o autor não esteja descrevendo a história propriamente, mas desenvolvendo outro gênero literário, que seria o do diálogo filosófico religioso. Interessava ao autor debater um problema muito focalizado tanto na literatura bíblica como na profana: o enigma do justo que padece. “Na visão do autor, o livro formado por 1,1-42,6 representava o equacionamento dos problemas dos exilados e, ao mesmo tempo, mostrava-lhes uma perspectiva nova. Nessa perspectiva não sobrava nenhuma esperança de restauração” (STORNIOLO, 2008).

Não há dúvida de que o escritor era um judeu, nutrido das obras dos profetas e dos ensinamentos dos sábios. O tempo era a época patriarcal e o lugar era nos confins da Arábia e do país de Edom. O livro pertence ao período pós-exílico. “Não se aplica ao livro o gênero literário histórico. Trata-se de um livro doutrinal, de tese, em que seu personagem principal, Jó, faz parte essencial dos ensinamentos do autor sábio” (LÍNDEZ, 2011).

No particular, temos que discussão de um tema em termos abstratos não era familiar aos israelitas nem aos antigos orientais. Foi por isto que, a fim de propor suas considerações sobre o problema, o autor sagrado quis utilizar uma narrativa de fundo histórico que circulava no mundo oriental: o drama de um homem digno e aflito chamado Jó. Este drama serviu-lhe de ponto de partida para as suas meditações; ele não hesitou em ornamentar e dramatizar o texto, a fim de torná-lo veículo de suas idéias; com raro talento ele se escreveu valendo-se de artifícios da didática na trama histórica primitiva. Daí se originou o livro de Jó, no qual é difícil discernir os traços de história propriamente dita e os recursos típicos do gênero literário.

Mensagem do Livro

O autor quis exprimir suas dúvidas a respeito da concepção tradicional que associava quase mecanicamente virtude e felicidade, pecado e desgraça temporal. Para fazê-lo, escolheu a forma de um debate entre diversos sábios. Logo no início é posto o problema: eis um justo, Jó, que sofre.

Na discussão do problema, a tese tradicional tem três advogados, que são os três amigos de Jó; incitam o infeliz a confessar seus pecados. Assim, os três amigos são os defensores da “ortodoxia”; aceitaram sem discussão o ensinamento clássico e recusam-se formalmente admitir que Jó não concorde com os fatos no caso presente. É muito simples a posição deles: o sofrimento é castigo do pecado; se um homem sofre é porque é um pecador. Jó não se dobra ao convite, pois ele nada tem que o acuse. O herói torna-se assim o porta-voz das dúvidas relativas à antiga sentença judaica; aponta o caso dos ímpios que prosperam, e professa perplexidade diante dos seus sofrimentos.

Por isso Jó Protesta. Sabe que é inocente. O seu mundo caiu aos pedaços à sua volta, porque ele também seguia a doutrina tradicional. Agora vê que ela não se ajusta ao seu caso. Luta virilmente com o seu problema, mas não há solução; seu sofrimento agora não tem o menor sentido e ele é tentado a pôr em dúvida a justiça de Deus.

Os longos debates chegam ao final com a entrega da questão a Deus. O verdadeiro conflito de Jó não é com os três amigos ou com a tradição, mas é com Deus mesmo: “Aquilo que vocês sabem, eu também sei, não lhes ou inferior, ma é com o Todo-Poderoso que eu desejaria falar, é com Deus que eu desejaria discutir” (Jó 13,2-3). “O drama é uma espécie de júri simulado. Instaura um processo em que comparecem Deus e o homem para acertarem as suas diferenças e tirarem a limpo o conflito que existe” (MESTERS, 2012).

A grandeza de Jó está em que ele é capaz de desafiar os sofrimentos que o perturbam para despojá-lo da sua fé no Deus oculto. Pode, na sua agonia, ter criticado a Deus e seus caminhos, mas isso é compensado pelo seu brado a Deus e seu anseio de encontrá-lo. Eis, porém, que o Senhor, em vez de dar a explicação desejada, impõe silêncio a Jó: não queira o homem pedir contas a Deus. Reconheça, antes, a sabedoria do Criador, atestada pelas maravilhas da natureza, e se entregue, confiante, a ela.

Nos diálogos Jó luta com um problema torturante: ele está sofrendo, e sabe que é inocente. A insuficiência da posição tradicional [1] tornou-se patente, mas os homens podem fechar os olhos a uma nova verdade que os perturba. Assim, ele resignou-se em aceitar a Deus como ele é e não interpela mais os desígnios divinos.

Jó real é um homem de fé e dele podemos aprender que a fé num Deus cujos caminhos não podemos conhecer nos conduz à paciência e à paz. A mensagem religiosa do livro pode ser descrita em que o homem deve persistir na fé mesmo quando seu espírito não encontra sossego. “Deus mostra confiança em Jó e reconhece a sua firmeza e virtude mesmo ao passar por grandes sofrimentos” (CERESKO, 2004).

Conclusão

O conflito de Jó provém de sua oposição à concepção tradicional distributiva de Deus por Israel. Fomos levados a entrar nessa dialética e a percorrer o caminho de Jó e de seus amigos para comprovar que poderemos descobrir a presença de Deus no próprio sofrimento, não atrás e nem por fora dele.
            O tema do justo que é provado e sofre, apesar de inocente, é um tema comum que extrapola o tempo e o espaço – é de ontem e de hoje, e principalmente de hoje, quando três quartos da humanidade fazem a experiência de Jó. O drama apresentado no livro de Jó é o roteiro que alguém percorreu na vida e que ele agora oferece como resultado da sua própria experiência e busca. Oferece-o como um caminho possível para outros poderem enfrentar, com ele, o mistério da dor, derrubando visões antigas que já não resistem à realidade e à consciência nova que nasce. Jó e seus amigos são a humanidade caminhando pela estrada da vida e da dor, discutindo, acabrunhada e curvada sob o sofrimento que tanto pesa. É o conflito permanente entre revelação e realidade: revelação, tal como está encarnada nos pensamentos da cultura humana; realidade, tal como se apresenta, em cada época, à consciência dos homens, questionando as coisas que vêm do passado. Tudo isso é expressão típica da atitude dos sábios tendo a consciência de não querer ser derrotado pela vida como ponto de partida da sua reflexão.

Finalmente, o livro indica a solução prática estritamente religiosa, que é válida até hoje. Mesmo depois de Jesus Cristo, o homem não pode indicar o motivo de todos os seus sofrimentos.  Somente a fé absoluta na infalível Providência Divina é capaz de superar todos os sofrimentos. O sofrimento é disposto por Deus não como mera punição do pecado, mas como remédio do próprio mal. A Cruz sobre o Calvário foi erguida como árvore da vida e da ressurreição gloriosa. O homem, portanto, não sofre unicamente para pagar um tributo à justiça, mas para se purificar do pecado e voltar ao Pai com Cristo – o que é a suma felicidade.

REFERÊNCIAS

BETTENCOURT, Dom Estevão. Para Entender o Antigo Testamento. 3ª. ed. Rio de Janeiro: Livraria Agir Editora, 1965.

BÍBLIA DE JERUSALÉM. Nova edição revista. 5ª. Impressão. São Paulo: Paulinas, 1991.

BRIGHT, John. História de Israel. 9ª. ed. São Paulo: Paulus, 2010.

CERESKO, Anthony R. A Sabedoria no Antigo Testamento, espiritualidade libertadora. São Paulo: Paulus, 2004.

HARRINGTON, Wilfrid J. Chave para a Bíblia: A Revelação, a Promessa, a Realização. 9ª. ed. São Paulo: Paulus, 2008.

LINDEZ, José Vílchez. Sabedoria e Sábios em Israel. 2ª. ed. São Paulo: Loyola, 2011.

MESTERS, Carlos. Deus, onde estás? Uma introdução prática à Bíblia. 16 ed. Petrópolis: Vozes, 2012.

STORNIOLO, Ivo. Como ler o Livro de Jó: O Desafio da verdadeira religião. 5ª. ed. São Paulo: Paulus, 2008.

TAMAYO, Juan José. Novo Dicionário de Teologia. São Paulo: Paulus, 2009.



[1] A doutrina tradicional da retribuição, na sua mais singela forma, diz que os bons são recompensados e os maus são punidos nesta vida.



Até Breve!

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

"O Filho de Deus"

O Significado do Título "O Filho de Deus" nas Sagradas Escrituras


        A fé cristã confessa que Jesus é o “Filho de Deus”. Este é o núcleo central da profissão de fé. É a designação que se mostra mais adequada e frutífera.

Na antiguidade, o título está presente em muitos relatos mitológicos das religiões orientais, nas quais se fala com frequência de filhos de deuses nascidos de uma mulher humana. O termo não encontra sentido no pensamento judaico veterotestamentário e helenístico. Na linha do estoicismo todos os homens eram filhos de Deus por participação no único logos.

O Antigo Testamento apresenta esse título em diversas ocasiões, mas num sentido diferente, já que geralmente o vincula a uma missão especial que devem cumprir os anjos, o povo ou o próprio rei. Desse modo, o Primeiro Testamento não fala de uma descendência divina, mas, antes, de uma particular escolha de Deus, de uma missão que supõe obediência e serviço. Trata-se, portanto, de uma filiação adotiva que se baseia na misericórdia e no perdão.

No Novo Testamento, o próprio Jesus jamais se chamou a si mesmo de “Filho de Deus”. Apenas na declaração exigida pelo sumo sacerdote é que Jesus aceita o título a si próprio. Mas acrescenta uma predição de sua segunda vinda a fim de eliminar toda dúvida sobre o significado do termo.

Essa fórmula representa, certamente, uma clara profissão de fé da Igreja primitiva. Isso, contudo, não tira a autenticidade da filiação divina de Jesus, uma vez que a fé apostólica se baseia na referencia explícita feita por ele, ao se chamar de “Filho” e ao invocar a Deus como “Pai”.

O título significa uma filiação única e sobrenatural. Trata-se mais de um título soteriológico do que metafísico. A relação única de Jesus Cristo, Filho de Deus, com o Pai o torna capaz de ser mediador entre o Pai e a humanidade e dá aos seus atos salvíficos e à sua intercessão uma eficácia única.

            Com a expressão “Filho de Deus” quis Jesus nos mostrar a consciência que tinha de sua realidade filial. Com seu modo de se expressar em relação a Deus, sentindo-se Filho de modo único e exclusivo, e invocando a Deus como seu Pai, com quem tem uma relação de familiaridade, de obediência e de respeito, nos revela a verdade ontológica de sua própria pessoa.

Se ele não fosse o “Filho”, seria impensável que os homens recebessem a adoção que ele confere e que significa uma união com Deus muito mais intima do que a adoção de Israel no Antigo Testamento. Se ele não fosse o “Filho”, o Pai não poderia ter para com ele o amor que torna aceitável o sacrifício em si.


A cristologia posterior do “Filho” não é outra coisa que a explicação e a tradução do que se encontra oculto na obediência e na entrega filial de Jesus Cristo. Para Jesus Cristo ser “Filho” não é apenas uma “relação” privada, mas, ao mesmo tempo, uma missão publica. Ser e missão como “Filho” são indissociáveis. O ser de Jesus Cristo como “Filho” é inseparável de sua missão e de seu serviço. Ele é a existência de Deus para os outros. A cristologia essencial e cristologia funcional não podem ser contrapostas, nem podem ser separadas uma da outra, pois se condicionam reciprocamente. Sua função, sua existência para Deus e para os outros constitui, ao mesmo tempo, sua essência, e vice-versa, a cristologia funcional implica uma essencial.

Até Breve!

terça-feira, 11 de novembro de 2014

O "Filho do Homem"

O Significado de "Filho do Homem" nas Sagradas Escrituras


     No Antigo Testamento encontramos a expressão “filho do homem”, especialmente no livro de Ezequiel e o profeta é chamado assim por Deus, dando a entender que se dirige a uma pessoa humana e ressaltando, ao mesmo tempo, sua pequenez. 

      No entanto em Dn 7,13-14 essa expressão assume significado muito especial, já que se refere a um personagem celeste, representante  escatológico de Deus e dos “santos do Altíssimo”, que abre as portas para que o título possa ter uma conotação messiânica. Ao mesmo tempo, indica a concessão de um reino universal e eterno. Seria o representante do reino escatológico: o verdadeiro Israel.

São muitos os textos que apresentam ao longo dos evangelhos o termo “Filho do Homem” e, normalmente, é pronunciado apenas pelos lábios de Jesus que, todavia, fala do “Filho do Homem” em terceira pessoa. Portanto, não se identifica com ele formalmente.

Os Evangelhos sinóticos mostram que Jesus Cristo, falando de si mesmo, utilizou a expressão para designar alguns aspectos importantes de sua vida. Os textos em que aparece a expressão “Filho do Homem” costumam ser divididos em três grupos conforme tratem: 1) do mistério da vida terrena de Jesus Cristo e de seu poder;  2) da paixão, morte e ressurreição; e 3) da glória escatológica e do retorno da parusia.

No contexto da vida terrena vê-se que Jesus, ao chamar a si mesmo de “Filho do Homem”, quer manifestar sua experiência de homem, mas quer dizer, ao mesmo tempo, que foi enviado por Deus, que está cheio do Espírito Santo, que é o sinal escatológico de Deus e que, todavia, é rejeitado pelos homens.

Em relação à morte e ressurreição, temos que os textos sinóticos que se referem a esse aspecto são todos posteriores à confissão messiânica de Pedro, quando Jesus começou a explicar a modalidade de seu messianismo. Já os textos que se relacionam com a glória futura do Filho do homem e com seu retorno parecem relacionarem-se às tradições mais antigas a respeito dessa expressão e há uma semelhança com o título em Daniel.

Podemos notar, no entanto, uma diferença notável em relação ao texto de Daniel, uma vez que neste se fala no modo futuro, isto é, que o filho do homem obterá a glória e exercitará seu poder no tempo escatológico, enquanto nos Evangelhos a glória aparece como já realizada no presente, e mostram o Filho do Homem exercendo desde agora seu poder.

Esse enigma do título “Filho do Homem” serviu a Jesus Cristo para expressar a tensão que impregna toda a sua mensagem: a plenitude escatológica do tempo se realiza em e por um pregador ambulante, pobre e ridicularizado, perseguido e, finalmente, assassinado.  Mas a originalidade por parte de Jesus Cristo é ter ligado a figura gloriosa e majestosa do Filho do homem à condição humilde e sofredora do Servo de Iahweh.

O Filho do Homem é como uma circunlocução para exprimir o significado escatológico e definitivo das palavras e da conduta de Jesus, bem como da decisão de fé. É, ao mesmo tempo, símbolo da certeza de que Jesus tem de ser a plenitude. Exprime uma igualdade funcional e não pessoal de Jesus com o “Filho do Homem” que há de vir.

A palavra rica e misteriosa sobre o Filho do Homem apresenta Jesus como representante escatológico de Deus e de seu Reino, assim como o representante do homem. Nele e por ele, em sua pessoa e em seu destino se decide o desígnio de Deus sobre os homens. Traz e é a graça e o juízo de Deus. A partir do “Filho do Homem” podemos compreender os desenvolvimentos essenciais da cristologia pós-pascal e provar que são legítimas: a cristologia do sofrimento e da exaltação, bem como a expectativa de sua volta e a importância pessoal e universal de Jesus.

Cristologicamente assume a característica de um enigma misterioso através do qual Jesus expressa e vela sua pretensão messiânica. Assim, o título “Filho do Homem” ajuda a esclarecer as características de sua missão ao unir simultaneamente o aspecto glorioso e transcendente à sua realidade humilde e terrena, ao mesmo tempo em que abre o campo para a revelação de sua própria realidade pessoal.

Até a próxima!