sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Ideologia x Teologia

Breve comentário:

Hoje vi um representante de um partido (PSC Partido Social Cristão) fazer a seguinte afirmação:

"Nós seguimos a ideologia cristã e não a teologia cristã"

Como é possível tal situação?

Sendo uma ideologia cristã estamos nos referindo a uma ideologia de Cristo.

Assim, tendo Cristo como nosso Senhor e Deus não há como esquecer a teologia cristã. 

Prefiro acreditar que os pensadores deste partido não seguem nenhuma ideologia e constroem discursos vazios de coerência.

Até Breve!




segunda-feira, 15 de setembro de 2014

O Mistério da Redenção Humana

                        O Mistério da Redenção Humana

      Compreensão Teológica: Salvar, Redimir e Libertar. 

            No presente trabalho buscaremos desenvolver o tema relacionado ao mistério da redenção e sua compreensão teológica e buscaremos explorar a noção de redenção em virtude da qual Deus salva, redime e liberta o ser humano.

                 Esta relação de Deus com o povo eleito é bem próxima e mostra o modo privilegiado que Ele escolheu para salvar Israel livrando-o da escravidão egípcia[1] e constituindo-o seu “povo particular”[2] e, nesse mesmo sentido, emerge a obra de Cristo como Salvador no resgate da humanidade e de toda iniquidade, purificando um povo que lhe pertence como próprio[3].  Fica evidente e bem caracterizada a continuidade do plano salvífico de Deus.

       Deus criou o homem incorruptível[4] e a imortalidade é seu destino, a morte é o fruto do mal. Daí uma vida terrestre de sofrimento, mas vivida santamente, terá sua recompensa junto ao Senhor, enquanto a impiedade levará seus partidários à aniquilação de seus sonhos e à sua destruição. Após a queda dos nossos primeiros pais, com a prometida redenção, Deus alentou-os a esperar uma salvação e velou permanentemente pelo gênero humano, a fim de dar a vida eterna a todos aqueles que, pela perseverança na prática do bem, procuram a salvação.[5]

O projeto divino da salvação mediante a morte do “Servo, o Justo”[6] havia sido anunciado antecipadamente na Escritura como um mistério de redenção universal, isto é, de resgate que liberta os homens da escravidão do pecado.

A vida humana, estendida entre seu nascimento e morte e determinada pela lembrança e expectativa, tem uma constituição essencialmente temporal. A própria experiência de Deus e seu conhecimento são transmitidos a nós seres humanos em termos históricos, e somente nesses termos históricos é que podem ser transmitidos. Toda nova tentativa de descrever a fé cristã em Deus por isso se vê remetida ao testemunho da experiência e da história da salvação do povo de Deus no qual Deus cumpre sua promessa.

Enquanto Jesus não morresse na Cruz, pagando pelos pecados dos homens, nenhuma alma podia entrar no céu: ninguém podia ver a Deus face a face.  E, não obstante, haviam existido muitos homens e mulheres que tinham crido em Deus e na sua misericórdia, e guardado suas leis. Como estas almas não haviam merecido o inferno “permaneciam (até a Crucifixão) num estado de felicidade[7] puramente natural, sem visão direta de Deus. Eram muito felizes, mas com a felicidade que nós poderíamos alcançar na terra, se tudo nos corresse perfeitamente bem” (TRESE, 1990).  A estas almas Jesus apareceu enquanto seu corpo jazia na sepultura, para anunciar-lhes a boa nova da sua redenção.

Sob o aspecto etimológico, o termo “redimir” significa recuperar algo perdido, vendido ou oferecido. Pelo pecado, o homem tinha perdido seu direito a herança à união eterna com Deus e à felicidade perene no céu. O Filho de Deus feito homem assumiu a tarefa de recuperar esse direito para nós. Por isso o chamamos Redentor, e à tarefa que realizou, redenção.  Jesus é mediador em sua qualidade de homem, que lhe permite ser salvador de todos, com sua morte em resgate por eles: “Eis que o que é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador, que quer que todos os homens sejam salvos, e cheguem ao conhecimento da verdade: Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, um homem, Cristo Jesus, que se deu em resgate por todos.”[8]

Podemos depreender que, do mesmo modo que a traição do homem a si mesmo se realiza pela negativa em dar seu amor a Deus (negativa expressada no ato de desobediência que é o pecado), assim também a tarefa redentora de Cristo assumiu a forma de um ato de amor infinitamente perfeito, expresso no ato de obediência infinitamente perfeita que abrangeu toda a sua vida na terra. A morte de Cristo na Cruz foi a culminância do seu ato de obediência; mas o que precedeu o Calvário e o que ele se seguiu é também parte do seu Sacrifício.

Tudo o que Deus faz tem valor infinito. Por ser Deus, o menor dos sofrimentos de Cristo era suficiente para pagar o repúdio de Deus pelos homens. O mais leve calafrio que o Menino Jesus sofresse na gruta de Belém bastaria para reparar todos os pecados que os homens pudessem empilhar no outro prato da balança. Mas, no plano de Deus, isso não era o bastante. O Filho de Deus realizaria seu ato de obediência infinitamente perfeito até o ponto de “aniquilar-se” totalmente, até o ponto de morrer no Calvário. O Calvário foi o ápice, a culminância do ato redentor.

Pelo fato de a paixão e a morte de Cristo terem superado tanto o preço realmente necessário para satisfazer pelo pecado, Deus nos tornou patente de um modo inesquecível as duas lições paralelas da infinita maldade do pecado e do infinito amor que Êle nos têm.

Ainda que o sofrimento de Cristo baste para pagar por todos os pecados de todos os homens, isto não quer dizer que cada um de nós fique automaticamente liberado do pecado. Ainda é necessário que cada qual, individualmente, aplique a si os méritos do sacrifício redentor de Cristo, ou, no caso das crianças, que outro lhos aplique pelo Batismo.

Ensina-nos João Paulo II em sua carta Redemptor Hominis que: “a única orientação do espírito, a única direção da inteligência, da vontade e do coração para nós é esta: na direção de Cristo, Redentor do homem; na direção de Cristo, Redentor do mundo. Para Ele queremos olhar, porque só n'Ele, Filho de Deus, está a salvação, renovando a afirmação de Pedro: « Para quem iremos nós, Senhor? Tu tens as palavras de vida eterna ». “

Em Cristo foi revelado de um modo novo, de maneira admirável, aquela verdade fundamental respeitante à criação que o Livro do Genesis atesta quando repete mais de uma vez: Deus viu que as coisas eram boas. O bem tem a sua nascente na Sapiência e no Amor. Em Jesus Cristo, o mundo visível, criado por Deus para o homem — aquele mundo que, entrando nele o pecado, foi submetido à caducidade --  readquire novamente o vínculo originário com a mesma fonte divina da Sapiência e do Amor. Com efeito, “Deus amou tanto o mundo que lhe deu o seu Filho unigênito”.  Assim como no homem-Adão este vínculo foi quebrado, assim no Homem-Cristo foi de novo reatado. 

Jesus Cristo, Filho de Deus vivo, se tornou a nossa reconciliação junto do Pai. Ele precisamente e só Ele satisfez ao eterno amor do Pai, àquela paternidade que desde o princípio se expressou na criação do mundo, na doação ao homem de toda a riqueza do que foi criado, ao fazê-lo “pouco inferior aos anjos”, enquanto criado ”à imagem e à semelhança de Deus”; e, igualmente satisfez àquela paternidade de Deus e àquele amor, de um certo modo rejeitado pelo homem, com a ruptura da primeira Aliança e das alianças posteriores que Deus « repetidas vezes ofereceu aos homens ».

A redenção do mundo — aquele tremendo mistério do amor em que a criação foi renovada — é, na sua raiz mais profunda, a plenitude da justiça num Coração humano: no Coração do Filho Primogênito, a fim de que ela possa tornar-se justiça dos corações de muitos homens, os quais, precisamente no Filho Primogênito, foram predestinados desde toda a eternidade para se tornarem filhos de Deus e chamados para a graça, chamados para o amor. A cruz no Calvário, mediante a qual Jesus Cristo — Homem, Filho de Maria Virgem, filho putativo de José de Nazaré —“deixa” este mundo, é ao mesmo tempo uma nova manifestação da eterna paternidade de Deus, o Qual por Ele (Cristo) de novo se aproxima da humanidade, de cada um dos homens, dando-lhes o três vezes santo “Espírito da verdade”.

Com esta revelação do Pai e efusão do Espírito Santo, que imprimem um sigilo indelével no mistério da Redenção, se explica o sentido da cruz e da morte de Cristo. O Deus da criação revela-se como Deus da redenção, como Deus “fiel a si próprio”, fiel ao seu amor para com o homem e para com o mundo, que já se revelara no dia da criação. E este seu amor é amor que não retrocede diante de nada daquilo que nele mesmo exige a justiça. E por isto o Filho, que não conhecera o pecado, Deus tratou-o, por nós, como pecado. E se tratou como pecado Aquele que era absolutamente isento de qualquer pecado, fê-lo para revelar o amor que é sempre maior do que tudo o que é criado, o amor que é Ele próprio, porque Deus é amor. E, sobretudo o amor é maior do que o pecado, do que a fraqueza e do que a caducidade do que foi criado, mais forte do que a morte; é amor sempre pronto a erguer e a perdoar, sempre pronto para ir ao encontro do filho pródigo, sempre em busca da revelação dos filhos de Deus, que são chamados para a glória futura. Esta revelação do amor é definida também misericórdia; e tal revelação do amor e da misericórdia tem na história do homem uma forma e um nome: chama-se Jesus Cristo.

O homem não pode viver sem amor. Ele permanece para si próprio um ser incompreensível e a sua vida é destituída de sentido, se não lhe for revelado o amor, se ele não se encontra com o amor, se o não experimenta e se o não torna algo seu próprio, se nele não participa vivamente. E por isto precisamente Cristo Redentor revela plenamente o homem ao próprio homem. Esta é a dimensão humana do mistério da Redenção.

Nesta dimensão o homem reencontra a grandeza, a dignidade e o valor próprios da sua humanidade. No mistério da Redenção o homem é novamente reproduzido e, de algum modo, é novamente criado. “Não há judeu nem gentio, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher: todos vós sois um só em Cristo Jesus”.

O homem que quiser compreender-se a si mesmo profundamente deve, com a sua inquietude, incerteza e também fraqueza e pecaminosidade, com a sua vida e com a sua morte, aproximar-se de Cristo. Ele deve, por assim dizer, entrar n'Ele com tudo o que é em si mesmo, deve apropriar-se e assimilar toda a realidade da Encarnação e da Redenção, para se encontrar a si mesmo. Se no homem atuar este processo profundo, então ele produz frutos, não somente de adoração de Deus, mas também de profunda maravilha perante si próprio. Que grande valor deve ter o homem aos olhos do Criador, se mereceu ter um tal e tão grande Redentor, se Deus deu o seu Filho, para que ele, o homem, não pereça, mas tenha a vida eterna.

Na realidade, aquela profunda estupefação a respeito do valor e dignidade do homem chama-se Evangelho, isto é a Boa Nova. Chama-se também Cristianismo. Uma tal estupefação determina a missão da Igreja no mundo, também, e talvez mais ainda, « no mundo contemporâneo ». Tal estupefação e conjuntamente persuasão e certeza, que na sua profunda raiz é a certeza da fé, mas que de um modo misterioso vivifica todos os aspectos do humanismo autêntico, está intimamente ligada a Cristo. Ela estabelece também o lugar do mesmo Jesus Cristo — se assim se pode dizer — o seu particular direito de cidadania na história do homem e da humanidade. A Igreja, que não cessa de contemplar o conjunto do mistério de Cristo, sabe com toda a certeza da fé, que a Redenção que se verificou por meio da Cruz, restituiu definitivamente ao homem a dignidade e o sentido da sua existência no mundo, sentido que ele havia perdido em considerável medida por causa do pecado. E por isso a Redenção realizou-se no mistério pascal, que, através da cruz e da morte, conduz à ressurreição.

A tarefa fundamental da Igreja de todos os tempos e, de modo particular, do nosso, é a de dirigir o olhar do homem e de endereçar a consciência e experiência de toda a humanidade para o mistério de Cristo, de ajudar todos os homens a ter familiaridade com a profundidade da Redenção que se verifica em Cristo Jesus. Simultaneamente, toca-se também a esfera mais profunda do homem, a esfera — queremos dizer — dos corações humanos, das consciências humanas e das vicissitudes humanas.

No desempenho desta missão, olhemos para o próprio Cristo, Aquele que é o primeiro evangelizador, e olhemos também para os seus Apóstolos, Mártires e Confessores. Cristo e, em seguida, os seus Apóstolos, ao anunciarem a verdade que não provém dos homens, mas sim de Deus — “a minha doutrina não é tão minha como daquele que me enviou”, ou seja, o Pai — embora agindo com todo o vigor do espírito, conservam uma profunda estima pelo homem, pela sua inteligência, pela sua vontade, pela sua consciência e pela sua liberdade. De tal modo, a própria dignidade da pessoa humana torna-se conteúdo daquele anúncio, mesmo sem palavras, mas simplesmente através do comportamento em relação à mesma pessoa livre. Um comportamento assim parece corresponder às necessidades particulares do nosso tempo. Uma vez que nem em tudo aquilo que os vários sistemas e também homens singulares veem e propagam como liberdade está de fato a verdadeira liberdade do homem, mais a Igreja, por força da sua divina missão, se torna guarda desta liberdade, a qual é condição e base da verdadeira dignidade da pessoa humana.

Jesus Cristo vai ao encontro do homem de todas as épocas, também do da nossa época, com as mesmas palavras que disse alguma vez: “conhecereis a verdade, e a verdade tornar-vos-á livres”. Estas palavras encerram em si uma exigência fundamental e, ao mesmo tempo, uma advertência: a exigência de uma relação honesta para com a verdade, como condição de uma autêntica liberdade; e a advertência, ademais, para que seja evitada qualquer verdade aparente, toda a liberdade superficial e unilateral, toda a liberdade que não compreenda cabalmente a verdade sobre o homem e sobre o mundo. Ainda hoje, depois de dois mil anos, Cristo continua a aparecer-nos como Aquele que traz ao homem a liberdade baseada na verdade, como Aquele que liberta o homem daquilo que limita, diminui e como que espedaça essa liberdade nas próprias raízes, na alma do homem, no seu coração e na sua consciência. Que confirmação estupenda disto mesmo deram e não cessam de dar aqueles que, graças a Cristo e em Cristo, alcançaram a verdadeira liberdade e a manifestaram até em condições de constrangimento exterior.

O próprio Jesus Cristo, quando compareceu prisioniero diante do tribunal de Pilatos e por ele foi interrogado acerca das acusações que Lhe tinham sido feitas pelos representantes do Sinédrio, porventura não respondeu Ele: “Para isto é que eu nasci e para isto é que eu vim ao mundo: para dar testemunho da verdade?”  Com tais palavras pronunciadas diante do juiz, no momento decisivo, foi como se quisesse confirmar o que já havia dito em precedência: « Conhecereis a verdade, e a verdade tornar-vos-á livres ».

No decorrer de tantos séculos e de tantas gerações, a começar dos tempos dos Apóstolos, não foi acaso o mesmo Jesus Cristo que tantas vezes compareceu ao lado dos homens julgados por causa da verdade, e não foi Ele para a morte, talvez, conjuntamente com homens condenados por causa da verdade? Cessa Ele, porventura, de continuamente ser o porta-voz e advogado do homem que vive em espírito e em verdade? Do mesmo modo que não cessa de sê-lo diante do Pai, assim também continua a sê-lo em relação à história do homem. E a Igreja, por sua vez, apesar de todas as fraquezas que fazem parte da história humana, não cessa de seguir Aquele que proclamou: “Aproxima-se a hora em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade”. 

O termo e a ideia de salvação são básicos na fé e na teologia veterotestamentárias. Como muito outros termos teológicos salvação tem originalmente significado próprio, mas no uso do AT isso transparece muito menos frequentemente do que o significado religioso. Portanto salvar significa prestar ajuda ou proteção nalguma “dificuldade”: Iahweh preserva a vida dos homens e dos animais[9]; uma jovem agredida clama por salvação[10]. Que Iahweh salva afirma-se centenas de vezes no AT e que somente Iahweh salva[11] e que a salvação de Israel está em Iahweh[12]. A ideia de salvação aprofunda-se e desenvolve-se com o exílio, pois o poder e a vontade salvíficos de Iahweh devem ser revelados de maneira que excedam também a grandeza de seus atos salvíficos no êxodo, se Israel deve sobreviver à catástrofe Mas a salvação futura assume bem cedo um caráter messiânico e é vista como uma nova criação de Israel, um evento em que todos os temas de vitória e libertação implícitos no termo atingem sua plenitude.

            Nos evangelhos sinóticos, por exemplo, “salvar” significa uma cura realizada por Jesus[13] e essa salvação é atribuída à fé da pessoa curada[14]. Mais significativa é a enfatização da verdade que a salvação é obra da iniciativa e eleição divinas e que é fruto da misericórdia de Deus, uma obra de sua graça e de sua paciência[15]. Jesus é o “princípio” e a fonte da salvação. Assim através do conhecimento da salvação, os cristãos se subtraem à corrupção do mundo.

Os termos hebraicos para redenção e resgate, como os termos portugueses, significam propriamente uma soma paga pela libertação de um objeto ou de uma pessoa que estava presa. O termo é também utilizado de forma metafórica no sentido de libertar ou redimir o povo de Israel da escravidão do Egito e isso não é feito mediante o pagamento de um resgate, mas mediante o poder de Iahweh[16]. Em outras passagens é usado na forma de libertar dos perigos e das tribulações[17]

A redenção é obra do poder de Iahweh[18] ou de seu amor [19] e assume também o sentido de adquirir, implícito na idéias de redenção quando Iahweh redime Israel para ser seu povo[20]. Como caminhar da história de Israel a ideia de redenção é transferida para a redenção do indivíduo e é utilizada no sentido metafórico de “libertar”.

No Novo Testamento o próprio Jesus é o resgate e torna-se o pagamento do resgate mediante a morte. O conceito de resgate implica o oferecimento de si mesmo e também a natureza vicária de sua morte. O resgate é pago em favor de outro o qual é o beneficiário do resgate pago, vale dizer, o benefício não reverte em favor daquele que resgata.

O Papa João Paulo II nos ensina que “as testemunhas da Nova Aliança falam da grandeza da Redenção, que se realizou mediante o sofrimento de Cristo. O Redentor sofreu em lugar do homem e em favor do homem. Todo homem tem sua participação na Redenção. E cada um dos homens é também chamado a participar daquele sofrimento por meio do qual se realizou a Redenção; é chamado a participar daquele sofrimento por meio do qual foi redimido também todo o sofrimento humano. Realizando a Redenção, mediante o sofrimento, Cristo elevou ao mesmo tempo o sofrimento humano ao nível de Redenção. Por isso, todos os homens, com o seu sofrimento, se podem tonar também participantes do sofrimento redentor de Cristo.[21] “Deus amantíssimo, planejando e preparando com solicitude a salvação de todo o gênero humano por providência especial, escolheu um povo a quem confiar suas promessas.” [22]

Deus oferece ao homem esta novidade de vida. “Poder-se-á rejeitar Cristo e tudo aquilo que Ele introduziu na história do homem? Certamente que sim; o homem é livre: ele pode dizer não. A fé exige a livre adesão do homem. E esta fé pode, pois, tentar perscrutar as circunstâncias da morte de Jesus, transmitidas fielmente pelos Evangelhos e iluminadas pelas outras fontes históricas, para melhor compreender o sentido da Redenção[23]

Podemos concluir que diante do Cristo crucificado, morto e ressuscitado: por meio dele realiza-se a plena e autêntica libertação do mal, do pecado e da morte; nele Deus dá a “vida nova”, divina e eterna. [24]Toda a vida de Cristo é mistério de Redenção. A Redenção nos vem antes de tudo pelo sangue da Cruz, mas este mistério está em ação em toda a vida de Cristo: já em sua Encarnação, pela qual, fazendo-se pobre, nos enriqueceu por sua pobreza, em sua vida oculta, que, por submissão, serve de preparação para nossa insubmissão; em sua palavra, que purifica seus ouvintes; em suas curas e em seus exorcismos, pelos quais “levou nossas fraquezas e carregou nossas doenças” [25]. Cristo, morrendo, destruiu nossa morte, e ressuscitando, recuperou nossa vida.



[1] Ex 12,27; 14,13; Is 63,9
[2] Ex 19,5; 26,18
[3] Tt 2,13s
[4] Sb 2,23
[5] CIC 55
[6] Is 53,11; At 3,4
[7] O estado de felicidade natural em que essas almas aguardavam a completa revelação da glória divina chama-se limbo.
[8] 1, tm 2,4-5
[9] Sl 36,7
[10] Dt 22,27.
[11] Os 12,4
[12] Jr 3,23; 1Mc 3,18; 4,11; 2Mc 1,11; 2,17
[13] Mt 9,21; MC 3,4; Lc 6,9
[14] Mt 9,22; Mc 5,34; Lc 8,48
[15] 1 Ts 5,9; Hb 1,4; Tt 3,5; Ef 2,5
[16] Dt 7,8; 13,6; 15,15; 24,18; Mq 6,4
[17] 2Sm 4,9; 1Rs 1,29; Sl 25,22.
[18] Dt 15,5
[19] Sl 44,27
[20] 2Sm 7,23; 1Cr 17,21
[21] Salvifici Doloris, pag. 38
[22] Dei Verbum, pag. 25
[23] CIC, 573
[24] Redemptoris Missio, pag 72
[25] CIC, 517

Referências
BÍBLIA DE JERUSALÉM, 6ª. Impressão. SP: Paulus, 2010.
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. São Paulo. Loyola, 2000.
DUFOUR, Xavier Léon-Dufour. Vocabulário de Teologia Bíblica. 12 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.
JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Redemptor Hominis.  SP: Paulinas, 2008.
.......... Carta Encíclica Redemptoris Missio.  9ª Ed. SP: Paulinas, 2008.
.......... Carta Apostólica Salvifici Doloris. 1ª. SP: Ed. Paulinas, 1984.
McKENZIE, John L. Dicionário Bíblico. 1ª ed. SP: Paulus, 1984.
SCHNEIDER, Theodor. Manual de Dogmática Volume I. 4ª. Ed. Petrópolis: Vozes, 2012
SAGRADO CONCÍLIO VATICANO II. Constituição Dogmática Dei Verbum, sobre a Revelação Divina. 19ª. SP: Paulinas, 2011.
TERRA, João Evangelista Martins. Lectio Divina: Leitura de meditação, oração e contemplação da Palavra de Deus. 3. ed. São Paulo: Ave Maria, 2013.
TRESE, Leo J. A fé explicada. São Paulo: Quadrante, 1990.

Boa Leitura e até a próxima.