sábado, 18 de janeiro de 2014

Afinal: Quem sou eu?

Afinal: Quem sou eu?


Quem sou eu? Esta é apenas uma parte de mim.
Eu sou aquele que os meus amigos acreditam que eu seja?
Sou aquele que eu mesmo acredito que seja?
Identifico-me com o papel que represento diante de quem me conhece, ou ainda com a máscara com a qual me revisto diante dos estranhos?
Na Igreja me comporto de modo diverso de como ajo no trabalho?
E, estando em casa, comporto de modo diferente de quando estou em público.

Quem sou eu verdadeiramente?

Constato que não me identifico sequer com os meus sentimentos e com os meus pensamentos.
Os pensamentos e sentimentos estão dentro de mim, porém não absorvem completamente o meu eu que pode ser encontrado para além de qualquer forma de pensamento ou sentimento.
Este “eu” inclui algo mais do que um diferencial em relação aos outros, mais do que a minha capacidade, o meu saber e o meu sentir. Muito mais do que o resultado da história da minha vida.
O “eu” significa: sou chamado por Deus pelo meu nome.
Assim, encontrar-me comigo mesmo significa ter idéia daquela única palavra de Deus em mim. Deus já falou através de minha existência, pronunciou sua palavra em mim.
Não podemos responder de forma consciente e engajada se não seguimos o caminho que nos leva à maturidade pessoal, se não nos perguntarmos:
“Quem sou eu? O que procuro? O que quero?
Para construir minha personalidade, é preciso uma vida toda, pois é somente ao término que terei plenamente realizado o projeto de Deus. Só então poderei reconhecer o meu nome inscrito nos céus desde o primeiro dia da Criação.
Será que me conheço verdadeiramente, no mais profundo do meu ser?
Esta é a pergunta que sempre me fiz, particularmente nas horas em que os acontecimentos e as circunstâncias põem minhas reações, comportamento e a minha própria identidade à dura prova, quando os meus projetos e desejos encontram obstáculos e insucessos.
O tempo que passa renova esta pergunta por ocasião das nossas experiências mais determinantes, porque o que somos nunca foi fixado de modo definitivo. Os acontecimentos, os encontros significativos, as alegrias e os sofrimentos contribuem para construir nossa identidade ao longo do tempo.  Quem sou eu?
Ao nascer, não passava de uma promessa a realizar, de uma realidade que é um vir-a-ser.
Recebi os dons do acolhimento e do afeto de meus pais. As carícias, o calor, a alimentação, a resposta solícita às minhas necessidades primárias foram fundamentais para estabelecer as primeiras bases da minha identidade.
Esse processo não parou com o fim da primeira infância, mas continuou durante a adolescência, a juventude e segue por toda a vida. Precisarei sempre de amor para encontrar o equilíbrio, a maturidade e, portanto, a minha identidade.
Portanto, a pergunta “quem sou eu” nunca recebe uma resposta definitiva, porque amadurece a cada dia.
O Senhor da história me ampara e constantemente me dá vida pelo amor e pelo dom representado pelos que me amam. Deus está sempre presente em minha vida pela atenção e pelo bem que transmite por intermédio das pessoas que me acolhem, que me perdoam, que me amparam e que me escutam.
Muitas vezes me vi tentado pelo individualismo, pela auto-suficiência e pelo orgulho.
“Não preciso de ninguém para viver”
Essa tentação é forte e me levou e ainda me leva a emitir juízos que excluem os outros da minha vida. 
“É assim que eu sou, e em nada mudarei”
Fecho-me para situações que poderiam modificar em mim as palavras e os gestos de amor.
Sofri e aprendi que o isolamento pode provocar muitos danos. 
Sou grato pelos dons que Deus me concede por intermédio daqueles que me amam.  Sei, também, que não estou na origem do que tenho de bom, porque tudo me foi dado: as qualidades, a ternura que se exprime em mim, o nível de gratuidade que coloco nas minhas ações, tudo isso são graças que Deus deixa penetrar em mim, por meio daqueles que, pelo amor que têm por mim, ensinaram-me a amar.
Posso considerar como meu tesouro e minha propriedade os dons recebidos?
Ou sou chamado a tornar-me dons para os outros, como os outros foram e são para mim?
O nome “filho de Deus” é a identidade à qual todo homem é chamado. Essa identidade será a nossa intimidade com Deus, uma relação de amor exclusiva e única para cada um.
Seremos o templo do Deus vivo se nos entregar, comunicar os nossos sentimentos, nossas angústias e nossas alegrias a todos, se nos esforçarmos em ser amor para os outros. Seremos consoladores, artífices da paz, de justiça e de misericórdia.
Quando menino eu me perguntava: o que é esta vida, se, afinal de contas, todos acabarão num túmulo? Observava as pessoas correndo de um lado para outro, contava os carros circulando na rua e pensava que todos andariam pela terra alguns anos e no final, o mistério do nada engoliria a todos.
Mas tive a graça de perceber que a vida é um breve lapso, apenas um piscar de olhos, comparada com a eternidade que nos espera.
Do Bem aventurado João Paulo II guardei uma frase que muito me ajudou: “Não tenhais medo! Procurai abrir, ou melhor, escancarar as portas para DEUS”.
Mas, o que é que permanece, afinal, ao longo da vida?
Pude compreender que o mais importante não é a quantidade de tempo que disponho. Mesmo porque o tempo é uma convenção criada pelo próprio homem. Entrei na vida num ponto determinado, mas o ponto final só conhecerei quando ele chegar.
Embora Deus aja como queira, quando queira e com os instrumentos que queira, Ele utiliza da livre colaboração de cada um de nós para realizar os seus desígnios. Só sei que, mesmo sendo um ser tão limitado, a minha vida é prova de que podemos conseguir maravilhas quando vivemos e trabalhamos por Deus e unidos a Ele.
Tenho consciência de que recebi muitos dons de Deus: a existência, o batismo, a fé, o conhecimento de Jesus e muitos outros.  Mas, pergunto: em meio à luta diária para construir a minha existência terrena, o que é que estou fazendo para ganhar a vida eterna?
Como posso oferecer ao Senhor como fruto de tantos anos de vida algo que poderia ter realizado em 20 ou 40 anos apenas.  Será que vegetei e vaguei, buscando satisfazer os meus próprios desejos?
O mais importante para mim foi encontrar Deus.
Você já reparou que a gente está sempre sentindo uma espécie de falta de alguma coisa? Por mais que se preencha o tempo com uma porção de atividades, sempre vem aquela espécie de vazio.
Repare quando você compra ou ganha uma coisa que desejou muito, um relógio, por exemplo, nos primeiros dias é aquele encantamento! A toda hora você vê o relógio! Mas depois, aos poucos, parece que aquilo vai perdendo a graça, e agente passa a desejar outra coisa.
É para preencher esse vazio, essa ânsia, que uns procuram refúgio em situações extremas.
Pois bem, esta falta, esta ânsia é o desejo de encontrar Deus, porque nós fomos feitos para Ele.
Esse momento é muito particular de cada um.
O importante  é “ Ser” e não “Ter”. O homem é chamado a prolongar, através do seu trabalho e de suas ocupações ordinárias, a ação criadora de Deus no mundo. O Cristão é um ser comprometido, através das suas próprias ocupações, com a construção da civilização da justiça e do amor.
Somos uma síntese perfeita de espírito e matéria. A nossa alma é espírito, de natureza similar ao anjo; seu corpo é matéria, similar em natureza aos animais. Porém, não somos nem anjo e nem animal; somos um ser à parte por direito próprio, um ser com um pé no tempo e outro na eternidade. Todas as nossas ações não podem ser atribuídas isoladamente ao corpo ou ao espírito, mas ao terceiro componente daí resultante: o homem
O nosso corpo é um dom que temos de apreciar, um dom que devemos agradecer. É a morada para a alma espiritual, que é a que lhe dá vida, poder e sentido. O homem tem um sentido imortal. No homem se encontram o mundo da matéria e o do espírito. A alma é a parte imortal. Além de sentir, viver e mover-se, implica por extensão o pensar e o entender.
Deus nos fez à sua imagem e semelhança. Enquanto o nosso corpo, como todas as obras de Deus, reflete o poder e sabedoria divinos, a nossa alma é um retrato de seu Autor de um modo especialíssimo. É um retrato em miniatura e bastante imperfeito. Mas esse espírito que nos dá a vida e substância é imagem do Espírito infinitamente perfeito que é Deus.
Este é o tempo – o único tempo – que dispomos para lutar e forjar o meu próprio destino eterno.  Aprendi que triunfar na vida não é ter bens materiais, mas é ter Deus como origem e meta da minha vida.   Como foi bom para o meu coração descobrir em Deus o meu refúgio. Como foi bom compreender que a amizade com Deus é mais importante do que qualquer tesouro da terra. De que vale gastar todos os anos da vida pensando em ganhar mais e mais dinheiro só para continuar enchendo o baú. O que iremos levar para a outra vida?
Hoje, no escuro do nosso quarto e no silêncio desta noite estaremos frente a frente com o filme da minha vida que continuará rodando.  Somente uma coisa é impossível a Deus: Deixar de te amar.
Vamos aproveitar este momento para nos indagar:
Quem sou eu?

”Regnare Christum Volumus”
(Queremos que Cristo Reine).

Texto: César Bergo


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