Evangelho de São Lucas (Parte Final)
A separação e, consequência da morte
de Jesus é muito difícil para os seus seguidores. Mas a descoberta de sua nova
presença como ressuscitado enche-os de alegria e eles se transformam em
testemunhas de Jesus. Como fazer a experiência? Os dois discípulos na sua
caminhada com Jesus parecem ter chegado ao seu destino e na celebração da
Eucaristia, da partilha, eles o reconhecem.
O papel da Escritura é mostrar que
realizou o que Deus pedia e prometia: liberdade e vida para todos. São Lucas
mostra-nos como encontrar Jesus ressuscitado, à luz da experiência realizada
pelos discípulos. Eles tiveram dificuldades para reconhecer a presença de
Jesus, assim como pode ocorrer com os discípulos em todos os tempos.
O sentido eucarístico deste gesto de
Jesus torna-se mais evidente no contexto da obra de São Lucas, poi ele utiliza
a expressão “fração do pão” para referir-se à eucaristia. A partilha do pão de
cada dia, que é consequência da partilha do pão eucarístico, também se torna
ocasião da presença do Ressuscitado em nosso meio e da vida nova que Ele nos
trouxe.
Jerusalém é o espaço central da terra
de Jesus, onde se encontra o Templo.
Jesus ajudava seus discípulos a VER a situação,
fazendo a análise dos fatos, mostrava-lhes a Escritura para iluminar a mensagem
à luz da vontade do Pai, mostrando pouco a pouco a necessidade de agir em vista
de mudanças, para que todos estivessem incluídos no processo de vida melhor e
digna. Jesus formou liderança junto a uma comunidade de ONZE apóstolos.
O encontro com Jesus ressuscitado não acontece no túmulo, mas na
caminhada da vida e na comunidade reunida. O túmulo vazio é apenas um
indicativo da ressurreição. Ele precisa ser iluminado pela palavra de Jesus.
Jesus ressuscitado manifesta-se aos seus discípulos. Onde e como?
A história
dos discípulos de Emaús oferece as indicações certas.
Primeiro Jesus
manifesta-se na “viagem” dos discípulos, isto é, na sua vida real, onde a dura
realidade parece sufocar a esperança. Nesta caminhada, o reconhecimento de
Jesus ressuscitado não é fácil. Mas na medida em que a vida vai sendo retomada
no diálogo e vai sendo relacionada com a Bíblia acende-se um ardor nos
corações. Algo como um sentimento de quem nem tudo está morto. A acolhida do
caminhante, companheiro na própria casa, e a partilha do pão fazem explodir a
experiência da presença do ressuscitado.
Após a ressurreição, é hora de
lembrar o que Jesus falou antes de morrer e o que diz a Bíblia sobre Jesus. A
nova conjuntura é iluminada com uma retomada e uma nova compreensão das
palavras de Jesus e de toda a Escritura Sagrada. Escutar a palavra de Jesus e
fazer a vontade de Deus foi sempre um dos pontos acentuados por São Lucas.
Jesus ressuscitado não é um espírito,
não é alguém outro que não o próprio crucificado. Os discípulos de Jesus
daquele tempo e de hoje não podem criar um Jesus ressuscitado distante e
diferente do crucificado. É o Jesus da pregação do Reino de Deus na Galileia e
da cruz em Jerusalém que ressuscitou. Para deixar claro isso, Jesus mostra as
mãos e os pés e come com eles.
Jesus ensinou por que Ele foi escolhido por Deus para fazer isso. (Lc
24,46-48). O próprio Jesus mostra que o caminho para entender a sua pessoa e
atividade é a leitura da Bíblia. Nela está anunciado tudo o que o Messias
enviado por Deus deveria realizar. O que não significa que Deus tivesse
decretado que Jesus fosse perseguido sofresse e fosse morto. Não. Deus queria
que Jesus realizasse o seu projeto até o fim. Jesus o realizou e por isso foi
condenado e morto. Deus não quis a morte de Jesus. Os responsáveis por ela
foram os mantenedores de uma ordem social fundada na injustiça.
Jesus morreu para que pudéssemos pregar o arrependimento e a remissão
de pecados (Lc 24, 46-47).
O evangelho está impregnado se um
espírito de alegria. Esta é a compreensão. E Jesus envia a benção do Senhor.
Partilhar o pão pode significar a experiência concreta da partilha dos
bens e da vida. Pode significar também a celebração da Eucaristia, onde o
ressuscitado se faz presente, de modo especial. A manifestação do ressuscitado
acontece ainda na comunidade reunida. A vida da comunidade e, particularmente,
a celebração litúrgica são espaços de experiências forte do ressuscitado. Eles
remetem para a vida concreta. Enviam para a vivência do testemunho e renovam a
esperança, por isso a razão da alegria.
Lucas termina o seu evangelho com Jesus voltando ao Pai. É a ascensão.
Significa que Jesus ressuscitado está agora na vida de Deus (V. 51). E isso
diferencia das situações mencionadas em 24,3. 12. 24 e 31. O fato de Jesus ir
para Deus é, portanto, a maior garantia de que ele estará no meio de nós.
E o evangelho termina como começou: em Jerusalém e no Templo. A cidade
e o santuário eram o coração do antigo povo de Deus. É daí também que partirá o
anúncio e a ação dos cristãos para todos os tempos e lugares. Jerusalém e o
Templo se tornam o ponto de chegada e o ponto de partida de toda a história.
Quais os recursos dos cristãos para realizarem sua missão? Não
simplesmente os recursos humanos que, embora sejam muitos, são sempre limitados.
A grande força do alto, que Jesus promete é o próprio Espírito de Deus, que
animou Jesus em toda a sua atividade. É com a força desse Espírito que os
cristãos poderão enfrentar todas as situações de escravidão e de morte, certos
do triunfo da liberdade e da vida.
Com esta parte encerramos esta etapa do trabalho.
Boa Leitura. Até Breve!