domingo, 17 de agosto de 2014

São Lucas: Paixão e Ressurreição de Jesus Cristo

Evangelho de São Lucas (Parte Final)

A separação e, consequência da morte de Jesus é muito difícil para os seus seguidores. Mas a descoberta de sua nova presença como ressuscitado enche-os de alegria e eles se transformam em testemunhas de Jesus. Como fazer a experiência? Os dois discípulos na sua caminhada com Jesus parecem ter chegado ao seu destino e na celebração da Eucaristia, da partilha, eles o reconhecem.

O papel da Escritura é mostrar que realizou o que Deus pedia e prometia: liberdade e vida para todos. São Lucas mostra-nos como encontrar Jesus ressuscitado, à luz da experiência realizada pelos discípulos. Eles tiveram dificuldades para reconhecer a presença de Jesus, assim como pode ocorrer com os discípulos em todos os tempos.

O sentido eucarístico deste gesto de Jesus torna-se mais evidente no contexto da obra de São Lucas, poi ele utiliza a expressão “fração do pão” para referir-se à eucaristia. A partilha do pão de cada dia, que é consequência da partilha do pão eucarístico, também se torna ocasião da presença do Ressuscitado em nosso meio e da vida nova que Ele nos trouxe.

Jerusalém é o espaço central da terra de Jesus, onde se encontra o Templo.

Jesus ajudava seus discípulos a VER a situação, fazendo a análise dos fatos, mostrava-lhes a Escritura para iluminar a mensagem à luz da vontade do Pai, mostrando pouco a pouco a necessidade de agir em vista de mudanças, para que todos estivessem incluídos no processo de vida melhor e digna. Jesus formou liderança junto a uma comunidade de ONZE apóstolos. 

O encontro com Jesus ressuscitado não acontece no túmulo, mas na caminhada da vida e na comunidade reunida. O túmulo vazio é apenas um indicativo da ressurreição. Ele precisa ser iluminado pela palavra de Jesus. 

Jesus ressuscitado manifesta-se aos seus discípulos. Onde e como? 

A história dos discípulos de Emaús oferece as indicações certas. 

Primeiro Jesus manifesta-se na “viagem” dos discípulos, isto é, na sua vida real, onde a dura realidade parece sufocar a esperança. Nesta caminhada, o reconhecimento de Jesus ressuscitado não é fácil. Mas na medida em que a vida vai sendo retomada no diálogo e vai sendo relacionada com a Bíblia acende-se um ardor nos corações. Algo como um sentimento de quem nem tudo está morto. A acolhida do caminhante, companheiro na própria casa, e a partilha do pão fazem explodir a experiência da presença do ressuscitado.

Após a ressurreição, é hora de lembrar o que Jesus falou antes de morrer e o que diz a Bíblia sobre Jesus. A nova conjuntura é iluminada com uma retomada e uma nova compreensão das palavras de Jesus e de toda a Escritura Sagrada. Escutar a palavra de Jesus e fazer a vontade de Deus foi sempre um dos pontos acentuados por São Lucas.

Jesus ressuscitado não é um espírito, não é alguém outro que não o próprio crucificado. Os discípulos de Jesus daquele tempo e de hoje não podem criar um Jesus ressuscitado distante e diferente do crucificado. É o Jesus da pregação do Reino de Deus na Galileia e da cruz em Jerusalém que ressuscitou. Para deixar claro isso, Jesus mostra as mãos e os pés e come com eles. 

Jesus ensinou por que Ele foi escolhido por Deus para fazer isso. (Lc 24,46-48). O próprio Jesus mostra que o caminho para entender a sua pessoa e atividade é a leitura da Bíblia. Nela está anunciado tudo o que o Messias enviado por Deus deveria realizar. O que não significa que Deus tivesse decretado que Jesus fosse perseguido sofresse e fosse morto. Não. Deus queria que Jesus realizasse o seu projeto até o fim. Jesus o realizou e por isso foi condenado e morto. Deus não quis a morte de Jesus. Os responsáveis por ela foram os mantenedores de uma ordem social fundada na injustiça.

Jesus morreu para que pudéssemos pregar o arrependimento e a remissão de pecados (Lc 24, 46-47). 

O evangelho está impregnado se um espírito de alegria. Esta é a compreensão. E Jesus envia a benção do Senhor. 

Partilhar o pão pode significar a experiência concreta da partilha dos bens e da vida. Pode significar também a celebração da Eucaristia, onde o ressuscitado se faz presente, de modo especial. A manifestação do ressuscitado acontece ainda na comunidade reunida. A vida da comunidade e, particularmente, a celebração litúrgica são espaços de experiências forte do ressuscitado. Eles remetem para a vida concreta. Enviam para a vivência do testemunho e renovam a esperança, por isso a razão da alegria. 

Lucas termina o seu evangelho com Jesus voltando ao Pai. É a ascensão. Significa que Jesus ressuscitado está agora na vida de Deus (V. 51). E isso diferencia das situações mencionadas em 24,3. 12. 24 e 31. O fato de Jesus ir para Deus é, portanto, a maior garantia de que ele estará no meio de nós. 

E o evangelho termina como começou: em Jerusalém e no Templo. A cidade e o santuário eram o coração do antigo povo de Deus. É daí também que partirá o anúncio e a ação dos cristãos para todos os tempos e lugares. Jerusalém e o Templo se tornam o ponto de chegada e o ponto de partida de toda a história. 

Quais os recursos dos cristãos para realizarem sua missão? Não simplesmente os recursos humanos que, embora sejam muitos, são sempre limitados. A grande força do alto, que Jesus promete é o próprio Espírito de Deus, que animou Jesus em toda a sua atividade. É com a força desse Espírito que os cristãos poderão enfrentar todas as situações de escravidão e de morte, certos do triunfo da liberdade e da vida.

Com esta parte encerramos esta etapa do trabalho.

Boa Leitura. Até Breve!

sábado, 9 de agosto de 2014

São Lucas: Paixão e Ressurreição de Jesus

Evangelho de São Lucas (Capítulos 23 e 24) - Parte IV


As mulheres choram, em luto. 

Por quê? – pergunta Jesus. 

Não devem chorar por ele e por todos os justos que são sacrificados inocentemente. Devem chorar, sim, porque o projeto de Deus está sendo rejeitado, e isso lhes custará muito caro.

Custou toda a luta realizada nos anos 66-70 d.C, quando a Palestina e Jerusalém foram completamente subjugadas pelo império romano. 

Custa até hoje todo o sofrimento da grande maioria da humanidade, explorados e oprimidos por uma minoria poderosa. Jesus e seu projeto são a esperança de um mundo novo.

Se fazem isso com um justo inocente o que não farão com um injusto culpado?

A natureza das tentações é a mesma: deixar tudo para salvar a própria pele. 

Em outras palavras, trair o projeto de Deus, negar tudo o que fora dito e feito até o momento, e salvar a própria vida. 

Mas Jesus vence as tentações uma a uma. Ambas perícopes apresentam Jesus como modelo de vitória humana sobre as tentações. Jesus aparece como o novo Adão, o protótipo de cada cristão na tentação e na vitória sobre ela. Após ter tentado Jesus exaustivamente no deserto, o diabo deixou Jesus até o tempo oportuno (Lc 4,13). Agora chegou este momento oportuno (Lc 23,35-39).

O coração da fé cristã é a morte e ressurreição de Jesus. É madrugada e as mulheres vão ao túmulo de Jesus, levando os perfumes que haviam preparado. Pensam encontrar um morto. 

A primeira surpresa foi, certamente, a de encontrar a grande pedra da entrada removida. Entram no túmulo, mas não encontram o corpo de Jesus, e ficam sem saber o que está acontecendo. 

É o que se chama de prova negativa da ressurreição de Jesus: ele não se encontra entre os mortos. Onde estará então? A prova positiva é o anúncio cristão, que aqui é dado pelos dois homens, vestidos com roupas brilhantes. São testemunhas que anunciam a ressurreição. Essa missão continua hoje e o primeiro anúncio feito por todos os cristãos, é o de que Jesus está vivo, conforme havia prometido. Jesus não deve ser procurado entre os mortos, porque está vivo. 

Desta forma, as primeiras a anunciarem são as mulheres. São elas que se preocupam em primeiro lugar com o corpo de Jesus. Graças a esse cuidado que elas são as primeiras a testemunhar o centro da fé, que é a passagem da morte para a vida. 

Não é dentro delas que o milagre da vida sempre se renova? Não são sempre elas que anunciam a boa notícia: estou esperando um filho? Também são elas que anunciam o primeiro filho da ressurreição. Contudo, os apóstolos não acreditaram nelas. Simplesmente porque as mulheres naquele tempo não tinham valor na sociedade. 

Pedro, porém, o chefe dos discípulos e futuro chefe da Igreja, vai conferir. Também ele não vê Jesus morto. 

Assim, temos o quadro completo: a ressurreição é testemunhada pelos que não contam (as mulheres) e pelos que lideram. Por que o testemunho dos pequenos e marginalizados é recebido com descrença? O fato de ser pobre e sem poder influi no testemunho cristão? Não deveria ser exatamente o contrário? 

O fato de os pobres e os fracos testemunharem é a maior prova da força transformadora da fé cristã. É o testemunho em si que derrota a arrogância dos poderosos que oprimem.

Até a quinta e última parte.