Teologia da Liturgia - A Idade Média
Na continuidade do tema sobre liturgia temos que as coisas não melhoraram na baixa Idade Média, primeiro com o
altar-relicário e depois com o altar geminado. Assim se cria o altar
devocional, que centra a atenção nas relíquias e em seus santos. A “liturgia”
cada vez mais será aquela forma de culto que se realiza segundo a ordem e o
mandato da Igreja (hierárquica), que é executada em nome da Igreja (Universal)
por pessoas delegadas.
O
Clero faz a liturgia, o povo assiste à liturgia. Cria-se uma ruptura entre uma
liturgia clericalizada e o povo que busca nas devoções a alternativa de uma
liturgia que não compreende e na qual não participa. Agora, a liturgia não é a
teologia, como antes. Esse fato se revela como uma das causas da crise
espiritual da Igreja, que começa a perder de vista sua identidade e a natureza
de sua missão.
O
caos mais claro verifica-se no Ordo Romanus I: não é mais que um aglomerado
complicadíssimo de nomes e de movimentos, onde a vontade de fazer espetáculo
não é menos evidente que a intenção de colocar uma auréola de sacralidade nas
pessoas e nas coisas que intervêm na ação cultual.
Implicações:
A.
Um afastamento do povo da liturgia que separa
um campo reservado para certas pessoas delegadas ao povo.
B.
Contribui-se para a materialização do culto.
C.
Perdem-se o sentido teológico e a “reserva”
teológica das fórmulas litúrgicas.
D.
A liturgia não enche a vida espiritual, por
isso o afastamento do povo em relação à celebração.
Em
razão de a liturgia ter se transformado num fato exterior do culto e algo
reservado ao sacerdote surgem outros efeitos negativos, a saber:
- A liturgia era tanto mais litúrgica quanto maior era o revelo externo do rito.
- Quanto
maior fosse a pompa exterior que se pedia ao sacerdote, tanto mais lhe
devia corresponder uma adequada retribuição.
O
perigo maior foi determinado pela chamada “inflação da liturgia”, na qual o
aparato, na medida em que era cada vez mais exterior, tornava maior e mais
profunda a incompreensibilidade dos ritos.
Daí
surgiram tentativas de espiritualismo cultual. Diante dessa mentalidade
materialista da liturgia houve algumas reações. Se não foram encontradas
tentativas válidas, até então, de uma teologia da liturgia, verifica-se que
desde a Idade Média foram seguidas algumas diretrizes principais como a
explicação alegórica e o devocionismo.
No
plano litúrgico, o alegorismo lança suas raízes na confusão criada entre
símbolo e alegoria, a saber:
·
Símbolo é uma “dupla” realidade que se
explicita nos dois planos diferentes. É um fato ou uma pessoa que, além de
tornar visível sua própria realidade, manifesta em si, ao mesmo tempo, a
realidade invisível à qual a primeira se refere. O símbolo não existe até que a
primeira realidade visível não seja percebida como indicativa da realidade
invisível.
· Alegoria é uma linguagem subjetiva e
metafórica elevada a um sistema de interpretação de fatos e coisas. Na
alegoria, desaparece a realidade histórica do acontecimento ou do personagem e
passa-se para uma visão subjetiva e arbitrária.
A
liturgia havia se transformado, cada vez mais, num espetáculo, realizado numa
língua desconhecida e preocupado com a sua exterioridade.
Na
Idade Média assiste-se ao nascimento do devocionalismo, que, por si, em sua
natureza, é um “sucedâneo” da liturgia. Nesse ambiente o movimento devocional
encontra terreno fértil para seu crescimento. O culto devocional consiste em
oferecer a Deus sentimentos de admiração, de penitência e gratidão convencidos
de que a intensidade de tais sentimentos será a que, de fato, vai realizar a salvação.
A Igreja, neste período, conhecerá uma profunda crise
teológica e espiritual, que se prolongará muito e, pelo menos, até o Concílio
de Trento, não estando em condições de garantir nem a formação do povo de Deus,
nem a formação de seu próprio clero, que, com muitíssima freqüência, mostrava
uma forte carência no plano teológico e espiritual, assim como no pastoral.
Até Breve.
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