sábado, 22 de fevereiro de 2014

Teologia da Liturgia na Idade da Média

Teologia da Liturgia - A Idade Média

Na continuidade do tema sobre liturgia temos que as coisas não melhoraram na baixa Idade Média, primeiro com o altar-relicário e depois com o altar geminado. Assim se cria o altar devocional, que centra a atenção nas relíquias e em seus santos. A “liturgia” cada vez mais será aquela forma de culto que se realiza segundo a ordem e o mandato da Igreja (hierárquica), que é executada em nome da Igreja (Universal) por pessoas delegadas.

O Clero faz a liturgia, o povo assiste à liturgia. Cria-se uma ruptura entre uma liturgia clericalizada e o povo que busca nas devoções a alternativa de uma liturgia que não compreende e na qual não participa. Agora, a liturgia não é a teologia, como antes. Esse fato se revela como uma das causas da crise espiritual da Igreja, que começa a perder de vista sua identidade e a natureza de sua missão.

O caos mais claro verifica-se no Ordo Romanus I: não é mais que um aglomerado complicadíssimo de nomes e de movimentos, onde a vontade de fazer espetáculo não é menos evidente que a intenção de colocar uma auréola de sacralidade nas pessoas e nas coisas que intervêm na ação cultual.

Implicações:

A.   Um afastamento do povo da liturgia que separa um campo reservado para certas pessoas delegadas ao povo.

B.   Contribui-se para a materialização do culto.

C.   Perdem-se o sentido teológico e a “reserva” teológica das fórmulas litúrgicas.

D.   A liturgia não enche a vida espiritual, por isso o afastamento do povo em relação à celebração.

Em razão de a liturgia ter se transformado num fato exterior do culto e algo reservado ao sacerdote surgem outros efeitos negativos, a saber:

  1. A liturgia era tanto mais litúrgica quanto maior era o revelo externo do rito.
  2. Quanto maior fosse a pompa exterior que se pedia ao sacerdote, tanto mais lhe devia corresponder uma adequada retribuição.
O perigo maior foi determinado pela chamada “inflação da liturgia”, na qual o aparato, na medida em que era cada vez mais exterior, tornava maior e mais profunda a incompreensibilidade dos ritos.

Daí surgiram tentativas de espiritualismo cultual. Diante dessa mentalidade materialista da liturgia houve algumas reações. Se não foram encontradas tentativas válidas, até então, de uma teologia da liturgia, verifica-se que desde a Idade Média foram seguidas algumas diretrizes principais como a explicação alegórica e o devocionismo.

No plano litúrgico, o alegorismo lança suas raízes na confusão criada entre símbolo e alegoria, a saber:

·         Símbolo é uma “dupla” realidade que se explicita nos dois planos diferentes. É um fato ou uma pessoa que, além de tornar visível sua própria realidade, manifesta em si, ao mesmo tempo, a realidade invisível à qual a primeira se refere. O símbolo não existe até que a primeira realidade visível não seja percebida como indicativa da realidade invisível.

·   Alegoria é uma linguagem subjetiva e metafórica elevada a um sistema de interpretação de fatos e coisas. Na alegoria, desaparece a realidade histórica do acontecimento ou do personagem e passa-se para uma visão subjetiva e arbitrária.

A liturgia havia se transformado, cada vez mais, num espetáculo, realizado numa língua desconhecida e preocupado com a sua exterioridade.

Na Idade Média assiste-se ao nascimento do devocionalismo, que, por si, em sua natureza, é um “sucedâneo” da liturgia. Nesse ambiente o movimento devocional encontra terreno fértil para seu crescimento. O culto devocional consiste em oferecer a Deus sentimentos de admiração, de penitência e gratidão convencidos de que a intensidade de tais sentimentos será a que, de fato, vai realizar a salvação.


A Igreja, neste período, conhecerá uma profunda crise teológica e espiritual, que se prolongará muito e, pelo menos, até o Concílio de Trento, não estando em condições de garantir nem a formação do povo de Deus, nem a formação de seu próprio clero, que, com muitíssima freqüência, mostrava uma forte carência no plano teológico e espiritual, assim como no pastoral.

Até Breve.

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