domingo, 23 de fevereiro de 2014

Teologia Liturgica - Parte Final

A época Moderna

É o período no qual se cria uma ruptura com qualquer forma de culto externo, seja qual for. 

O fato acontece num movimento de reforma, em que, colocando o interiorismo religioso como a meta que devia ser alcançada, teorizou-se sobre o que então se chamou Devotio moderna. Isso se verificou nos séculos XIV-XVI, nos quais aconteceu uma revisão crítica de toda a situação religiosa espiritual.

Três aspectos sobressaem e favoreceram que a liturgia aparecesse como algo exterior à vida religiosa, a saber:

a)   Uma vida espiritual que não encontra ajuda nem na liturgia, nem na devoção, ambas afetadas de um materialismo cultual.

b)    Não se tira nenhum proveito da teologia, que se enredou pelo intelectualismo.

c)   A exigência não correspondida de retornar a uma vida espiritual “nova”, junto com uma vida interior orientada pela imitação de Cristo.

Com efeito, os fiéis continuarão assistindo com grande devoção à missa, mas raras vezes acontecerá a ocasião para uma verdadeira comunhão sacramental com Cristo. Assim, tal procedimento contribui para criar formas de espiritualidade mais íntimas e pessoais, que a tornam menos teológica e mais afetiva, distantes das catequeses mistagógicas dos primeiros séculos.

            No entanto, observa-se que foi aberto um espaço para uma devoção sensível que vem representar o sinônimo da espiritualidade dos tempos modernos e que pode ser definida como “busca do contato com o divino, visto sensivelmente na humanidade de Cristo e sentida num processo interior, pessoal e individual”.

O fundador deste movimento é Gerard Grote (1340-1384), tendo sido uma força poderosa de espiritualidade cristã. O livro mais importante dessa época é Imitação de Cristo, atribuído a Tomás de Kempis (1380-1471). 

Enquanto a liturgia tendia a unir o ser humano a Deus através de um contato objetivo com a humanidade de Cristo a devotio moderna orientou para um contato imediato, individual, pessoal, alcançado mediante um processo psicológico, isto é, através de um esforço de meditação-contemplação sobre a humanidade de Cristo.

Um exemplo concreto são os milagres eucarísticos, os milagres e as aparições dos santos e veneração do crucifixo. 

Assim, este movimento caracteriza-se por:

  • Tentar imitar Cristo; 
  • Metodizar a oração; 
  • Dar grande importância ao recolhimento; e 
  • Manifestar aversão pelos fenômenos místicos e pela linguagem confusa                             contemplativa. 

O ser humano, para se unir a Cristo, contempla a humanidade do Senhor. Assim são meditadas, veneradas as feridas, as chagas, os espinhos, as lágrimas, o coração, o rosto, a cabeça e os membros.

A reforma protestante situa-se na época da grande devoção eucarística. Lutero faz ouvir sua voz afirmando que “a pregação, ou sermão, é a única cerimônia e o único exercício de culto que Cristo instituiu, para que os cristãos se recolham, se exercitem e se mantenham devotos. Nesse nível de comportamento e nesse ambiente, não chega a ser uma reforma, mas a abolição da liturgia.

A conseqüência mais grave será o empobrecimento da oração na Igreja e a perda definitiva daquela grandiosa visão eucarística do acontecimento da salvação, que era viva aos olhos da Igreja primitiva.

Apesar desses efeitos negativos, lentamente se começou a insistir em algo que, com o tempo, será o caminho justo por onde se podia chegar a uma compreensão teológica da liturgia. Nessa direção, começou-se a pensar que a liturgia, especialmente a missa, já não é algo clericalizado, mas uma realidade viva que pertence por direito a todo o povo cristão.


Podemos concluir que não há, ainda, uma teologia da liturgia, mas começa-se a encontrar algum elemento seu e, sobretudo, o estudo das antigas fontes litúrgicas redescobre uma riqueza de pensamento que conduz a uma reflexão que será, depois, não somente histórica, mas teológica.

Até breve.


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