Fontes de Informação sobre Jesus
Jesus não nos deixou
nada escrito de próprio punho e podemos conhecê-lo somente da palavra das
testemunhas próximas a ele no tempo e especialmente dignas de confiança.
Do mundo romano
Os três mais importantes testemunhos do mundo
latino que remontam aos primeiros vinte anos do século II, e dizem respeito aos
cristãos, ao novo culto, ao fundador foram escritos por Tácito, Suetônio e
Plínio.
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Tácito: Falou do incêndio de Roma e acusou
Nero de ter culpado injustamente os “crestãos” (por volta dos anos 120). Menciona
que o fundador, conhecido não com seu nome Jesus, mas com o título “Cristo” (=ungido).
De fonte própria ou, mais provavelmente de informação cristã, direta ou
indireta, conheceu a condenação de Jesus à morte “Sob o império de Tibério, foi
supliciado pelo procurador Pôncio Pilatos”
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Suetônio: O envolvimento dos cristãos no
incêndio de Roma é confirmado por Suetônio e, em publicação do ano 121, ao
falar da expulsão dos judeus de Roma menciona “Cresto”. Fala dele como se
tivesse sido ativo pessoal fomentador das desordens. Um conhecimento impreciso,
porém válido.
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Plínio: Provavelmente no ano 113, manteve um
rico intercâmbio de cartas com o imperador Trajano, chegando a solicitar
diretivas sobre o modo de comportar-se a respeito dos cristãos, denunciados no
sue tribunal. O testemunho de Plínio fez-nos conhecer o processo de divinização
de Jesus de Nazaré efetuado pelo cristianismo primitivo.
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Outros autores: Marco Cornélio Frontão (100-160)
expõe ao ridículo o fato de que “um homem punido por seu delito com a pena
suprema e o lenho de uma cruz constituem a lúgubre substância da sua liturgia”,
dos cristãos, “aqueles patifes sem lei”. Luciano de Samósata (120-190) denuncia
a crendice de tantos cristãos e calunia o fundador.
Testemunhos judaicos
O mais importante testemunho é Flávio Josefo.
Escreveu por volta do ano 93 e testemunha sobre Tiago, irmão de Jesus,
condenado ilegalmente à morte em 62 pelo sumo sacerdote Anamo (filho do Anás
dos evangelhos). Escreveu ainda que por aquele tempo “viveu Jesus, homem sábio,
se na verdade se pode chamá-lo de homem; de fato, ele realizava obras
extraordinárias, doutrinava os homens que com alegria acolhem a verdade, e
convenceu muitos judeus e gregos. Ele era o Cristo.” E acrescentou que Cristo ”
apareceu no terceiro dia, novamente vivo”. As três expressões são artigos da
confissão cristã: divindade, messianidade, ressurreição de Jesus profeticamente
predita.
Da literatura rabínica é importante a
passagem de Sanherin 43ª do Talmude babilônico a história de um condenado
identificado mais tarde com o nome e título: “Jesus, o nazoreu”.
Fontes Cristãs
Se prescindirmos dos evangelhos, canônicos e
apócrifos, sabemos muito pouco de Jesus pelos outros escritos do cristianismo
das origens.
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As cartas Autênticas
de Paulo:
As cartas de Paulo são os escritos cristãos mais antigos. O importante é que as
fontes cristãs não procuram atestar materialmente o que Jesus disse e fez, mas
oferecer dele uma própria “leitura” ou compreensão.
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Os quatro evangelhos
canônicos:
João mostra um Jesus terreno que aparece
ali transfigurado em ser divino e o escrito se mostra como expressão de uma
cristologia concentrada na Palavra eterna de Deus. No entanto, não abandona
totalmente o campo histórico: a Palavra divina encarnada é sempre o Nazareno. Marcos oferece a imagem de Jesus filho
de Deus não glorioso. Mas Deus o exaltou na ressurreição e ele virá no fim,
desta vez, sim, de modo glorioso. Mateus
trata Jesus como competente mestre de vida, em palavras e obras, Intérprete
divinamente autorizado da lei mosaica e Lucas
propõe a imagem de Jesus salvador do mundo. Fica, contudo, sempre a ligação
geral com o Jesus Terreno: seu retrato teológico é nutrido substancialmente com
material variado transmitido em um processo vital de memória. Fusco resume
assim o sentido dos evangelhos: “Importância dos acontecimentos narrados,
insuficiência das tentativas precedentes, acurada pesquisa, ordenada exposição,
plena confiabilidade”.
·
Além dos Evangelhos: Outro resultado da
crítica histórica do século XX, confirmado no século passado, é a solução do
problema sinótico da fonte dupla, adotada pela maioria dos estudiosos em
preferência da dependência entre si dos evangelistas. Os autores da fonte Q
inseriram material tradicional, por eles estruturado, dentro de um preciso
quadro de interpretação teológica. Isso inclui igualmente a fonte da qual Lucas
extraiu o grosso de seu material exclusivo, não derivado nem de Marcos nem de Q
(uma cinquenta perícopes).
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Os Outros “Evangelhos”: Dos apócrifos (evangelhos
de Tomé, de Pedro, de Egerton 2, Secreto de Marcos) o de Tomé tem maior importância,
eis que conservou tradições que com toda a probabilidade são as mais autônomas
e quase todos os ditos de Jesus são introduzidos com: “Jesus disse”.
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Ditos esparsos de
Jesus: os agrapha:
Fora dos evangelhos canônicos, encontram-se muitas outras palavras do Jesus
terreno atestadas em diversos escritos. No entanto, fora dos evangelhos
canônicos poucas são as novas palavras de Jesus com atestado de certa
autenticidade.
Leitura Crítica
A
dificuldade não está no número das fontes cristãs, mas na sua natureza. São
testemunhos da fé dos crentes das primeiras gerações, interessados não em
reconstruir minuciosamente o passado, mas em dar sentido ao presente,
referindo-se, porém sempre àquele passado vivido como carregado de significado.
Portanto: in dúbio pro traditio, a menos que se demonstre sua
inconfiabilidade dos casos específicos e neste caso: o onus probandi cabe a quem
intenta afirmar a autenticidade jesuana deste ou daquele testemunho. Vários são
os critérios, a saber:
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Critério metodológico
da diversidade ou dessemelhança: Procura
contrapor o Nazareno ao Cristo do dogma das Igrejas, fazendo valer, na prática
o que na new quest dos anos 1950-70
tornou-se imperante. Evidencia a originalidade de Jesus com relação ao
judaísmo, destacando-o de sua matriz cultural para fazer dele o fundador de uma
nova “religião”, aquela da graça em contraste com a relegião da lei. “Uma
estrita aplicação desse método produz um Jesus que não foi um judeu e que não
teve nenhum seguidor”, segundo Charlesworth.
·
Critério do
constrangimento:
aquele da Igreja nascente no conservar e transmitir alguns aspectos da vida e
do ensinamento de Jesus, que por isso não podem remontar a ele. Mas é análogo
ao critério da diversidade, mesmo que seja visto somente de uma ótica
psicológica.
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Critério da múltipla
atestação (Crossan)
de um dado presente em mais fontes independentes. Considera o testemunho tanto mais válido
quanto mais numerosas são suas fontes independentes.
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Critério da análise
da linguagem e do estilo dos ditos de Jesus, das nossas fontes à descoberta de
aramaísmos e estilemas semíticos.
·
Critério tradicional
da coerência,
consistente em atribuir a Jesus um dado congruente em relação ao quanto já dele
conhecemos, de fato está subordinado ao critério da diversidade.
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Critério da coerência
histórica (Sanders) põe na sua base a pesquisa
fundamentada sobre alguns fatos certos e busca apresentar uma imagem de Jesus
coerente com tais certezas, no intuito de ser “um sério esforço de explicar
historicamente alguns dos principais problemas sobre Jesus, em particular por
que ele atraiu a atenção sobre si, por que foi condenado à morte, por que foi
seguidamente divinizado”.
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Critério da razão
suficiente
(Fusco com outros) que se aplica mais aos fatos que aos ditos de Jesus e se
baseia sobre dados certos estabelecidos por outra via.
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Critério plausibilidade
histórica (Theissen
e Winter) que objetiva demonstrar “a coerência de uma imagem geral de Jesus no
contexto do judaísmo e do cristianismo das origens”.
Na
pesquisa histórica sobre Jesus, a via mestra deve ser marcada pela aplicação
convergente dos diversos critérios indicados. Desta forma o autor considera
promissor o método de Sanders de partir não dos ditos de Jesus mas de fatos
certos. O Jesus histórico não pode pretender sobrepor-se AP Jesus terreno que
viver então: é uma construção nossa que, feita com honestidade científica,
ciente das possibilidades mas também dos limites do método histórico, ambiciona
aproximar-se de qualquer modo dele.
Bibliografia:
BARBAGLIO, Giuseppe. Jesus, Hebreu da
Galileia: Pesquisa Histórica. SP: Paulinas, 2012.