sexta-feira, 14 de março de 2014

Sinóticos - continuação (Parte II)

A Questão dos Evangelhos Sinóticos
Parte II


Se há concordância quase geral em postular documentos escritos, há um desacordo entre os exegetas sobre o tipo de hipótese proposta. 

A hipótese mais provável, capaz de oferecer uma explicação satisfatória, continua sendo a teoria das duas fontes, que prevaleceu no século passado e ainda é compartilhada pela maioria dos estudiosos. São necessárias, mas ao mesmo tempo também suficientes, como fontes Mc e Q (Quelle). Os sinóticos estão em dependência entre si.

Vale realçar que a primeira redação do Evangelho ocorreu por volta do ano 50 e se deu por obra de Mateus na terra de Israel e, por isto, em aramaico. Esta redação serviu de modelo para os evangelhos de Marcos, escrito entre os anos de 65 e 70, e de Lucas, escrito no ano 75, que utilizaram o esquema de Mateus, acrescentando-lhe características pessoais. 

O texto de Mateus foi traduzido para o grego, visto que o aramaico entrou em desuso quando Jerusalém caiu em 70. Desta forma, o tradutor, desconhecido de nós, retocou e ampliou o texto aramaico servindo-se de Marcos – ano 65/70. Isto quer dizer que o texto grego de Mateus (único existente, porque o aramaico se perdeu) é, segundo alguns aspectos, o mais arcaico, e, segundo outros aspectos, o mais recente dentre os sinóticos.

Desta forma, consideramos que o Evangelho segundo São Marcos foi o primeiro a ser escrito. A quantidade de palavras encontradas nele não ultrapassa as que se contam em um jornal diário. “Trata-se de um texto eloquente, vivo e ágil, que relata os últimos anos de vida de Jesus e começa com uma inscrição simples: Início do evangelho de Jesus Cristo, o filho de Deus” (BLAINEY, 2012). 

A primeira história trata da sensação causada por João Batista, quando começou a batizar pessoas aos milhares, e a última descreve o momento em que três mulheres descobrem, ao encontrar o túmulo vazio, que Jesus ressuscitou. “As três mulheres nada disseram a ninguém, porque sentiam medo”. Essas foram as últimas palavras de Marcos; assim ele terminou, com um ar de mistério, deixando sem resposta questões vitais.

O Evangelho de Marcos exerceu forte influência sobre o Evangelho de Mateus. Este possuía tantos méritos literários, tanta clareza e segurança, que se tornou o evangelho mais conhecido, e era o mais lido nas igrejas.  Lucas, que escreveu o terceiro Evangelho, não foi amigo pessoal de Jesus e, de acordo com alguns historiadores, não era judeu. Provavelmente médico, e com certeza amigo de Paulo, com frequência demonstrava simpatia por suas ideias, por vezes diferentes das ideias da maioria. Lucas começa sua história com a afirmativa de que “assistiu de perto aos acontecimentos” e vai dizer a verdade.


Assim, temos que são considerados sinóticos os evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas. Sinótico advém da palavra “sinopse” [1]. Esses evangelhos são chamados assim graças ao trabalho de GRIESBACH[2] que, em 1776, dispôs os três primeiros evangelhos em três colunas paralelas de modo a ter uma visão dos três textos ao mesmo tempo.  A questão sinótica consiste em explicar as concordâncias e discordâncias existentes entre os três evangelhos, a interdependência existente entre os três documentos e a precedência de um texto sobre os outros.


[1] Synopsis – visão de conjunto
[2] J.J. Griesbach: pesquisador alemão em sua obra Synopsis evangeliorum, publicada em Halle, 1776.

Retornaremos em Breve com a parte III. Até lá.!

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