A Questão dos Evangelhos Sinóticos
Parte II
Se há concordância quase geral em
postular documentos escritos, há um desacordo entre os exegetas sobre o tipo de
hipótese proposta.
A hipótese mais provável, capaz de oferecer uma explicação
satisfatória, continua sendo a teoria das duas fontes, que prevaleceu no século
passado e ainda é compartilhada pela maioria dos estudiosos. São necessárias,
mas ao mesmo tempo também suficientes, como fontes Mc e Q (Quelle). Os sinóticos estão em dependência entre si.
Vale realçar que a primeira redação
do Evangelho ocorreu por volta do ano 50 e se deu por obra de Mateus na terra
de Israel e, por isto, em aramaico. Esta redação serviu de modelo para os
evangelhos de Marcos, escrito entre os anos de 65 e 70, e de Lucas, escrito no
ano 75, que utilizaram o esquema de Mateus, acrescentando-lhe características
pessoais.
O texto de Mateus foi traduzido para o grego, visto que o aramaico
entrou em desuso quando Jerusalém caiu em 70. Desta forma, o tradutor, desconhecido
de nós, retocou e ampliou o texto aramaico servindo-se de Marcos – ano 65/70.
Isto quer dizer que o texto grego de Mateus (único existente, porque o aramaico
se perdeu) é, segundo alguns aspectos, o mais arcaico, e, segundo outros
aspectos, o mais recente dentre os sinóticos.
Desta forma, consideramos que o Evangelho
segundo São Marcos foi o primeiro a ser escrito. A quantidade de palavras
encontradas nele não ultrapassa as que se contam em um jornal diário. “Trata-se
de um texto eloquente, vivo e ágil, que relata os últimos anos de vida de Jesus
e começa com uma inscrição simples: Início do evangelho de Jesus Cristo, o
filho de Deus” (BLAINEY, 2012).
A primeira história trata da sensação causada
por João Batista, quando começou a batizar pessoas aos milhares, e a última
descreve o momento em que três mulheres descobrem, ao encontrar o túmulo vazio,
que Jesus ressuscitou. “As três mulheres nada disseram a ninguém, porque
sentiam medo”. Essas foram as últimas palavras de Marcos; assim ele terminou,
com um ar de mistério, deixando sem resposta questões vitais.
O Evangelho de Marcos exerceu forte
influência sobre o Evangelho de Mateus. Este possuía tantos méritos literários,
tanta clareza e segurança, que se tornou o evangelho mais conhecido, e era o
mais lido nas igrejas. Lucas, que
escreveu o terceiro Evangelho, não foi amigo pessoal de Jesus e, de acordo com
alguns historiadores, não era judeu. Provavelmente médico, e com certeza amigo
de Paulo, com frequência demonstrava simpatia por suas ideias, por vezes
diferentes das ideias da maioria. Lucas começa sua história com a afirmativa de
que “assistiu de perto aos acontecimentos” e vai dizer a verdade.
Assim, temos que são considerados sinóticos
os evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas. Sinótico advém da palavra “sinopse” [1]. Esses
evangelhos são chamados assim graças ao trabalho de GRIESBACH[2] que, em
1776, dispôs os três primeiros evangelhos em três colunas paralelas de modo a
ter uma visão dos três textos ao mesmo tempo.
A questão sinótica consiste em explicar as concordâncias e discordâncias
existentes entre os três evangelhos, a interdependência existente entre os três
documentos e a precedência de um texto sobre os outros.
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