O Significado de "Filho do Homem" nas Sagradas Escrituras
No Antigo Testamento
encontramos a expressão “filho do homem”, especialmente no livro de Ezequiel e
o profeta é chamado assim por Deus, dando a entender que se dirige a uma pessoa
humana e ressaltando, ao mesmo tempo, sua pequenez.
No entanto em Dn 7,13-14
essa expressão assume significado muito especial, já que se refere a um
personagem celeste, representante
escatológico de Deus e dos “santos do Altíssimo”, que abre as portas
para que o título possa ter uma conotação messiânica. Ao mesmo tempo, indica a
concessão de um reino universal e eterno. Seria o representante do reino
escatológico: o verdadeiro Israel.
São
muitos os textos que apresentam ao longo dos evangelhos o termo “Filho do
Homem” e, normalmente, é pronunciado apenas pelos lábios de Jesus que, todavia,
fala do “Filho do Homem” em terceira pessoa. Portanto, não se identifica com
ele formalmente.
Os
Evangelhos sinóticos mostram que Jesus Cristo, falando de si mesmo, utilizou a
expressão para designar alguns aspectos importantes de sua vida. Os textos em
que aparece a expressão “Filho do Homem” costumam ser divididos em três grupos
conforme tratem: 1) do mistério da vida terrena de Jesus Cristo e de seu
poder; 2) da paixão, morte e
ressurreição; e 3) da glória escatológica e do retorno da parusia.
No
contexto da vida terrena vê-se que Jesus, ao chamar a si mesmo de “Filho do
Homem”, quer manifestar sua experiência de homem, mas quer dizer, ao mesmo
tempo, que foi enviado por Deus, que está cheio do Espírito Santo, que é o
sinal escatológico de Deus e que, todavia, é rejeitado pelos homens.
Em
relação à morte e ressurreição, temos que os textos sinóticos que se referem a
esse aspecto são todos posteriores à confissão messiânica de Pedro, quando
Jesus começou a explicar a modalidade de seu messianismo. Já os textos que se
relacionam com a glória futura do Filho do homem e com seu retorno parecem relacionarem-se
às tradições mais antigas a respeito dessa expressão e há uma semelhança com o
título em Daniel.
Podemos
notar, no entanto, uma diferença notável em relação ao texto de Daniel, uma vez
que neste se fala no modo futuro, isto é, que o filho do homem obterá a glória
e exercitará seu poder no tempo escatológico, enquanto nos Evangelhos a glória
aparece como já realizada no presente, e mostram o Filho do Homem exercendo
desde agora seu poder.
Esse
enigma do título “Filho do Homem” serviu a Jesus Cristo para expressar a tensão
que impregna toda a sua mensagem: a plenitude escatológica do tempo se realiza
em e por um pregador ambulante, pobre e ridicularizado, perseguido e,
finalmente, assassinado. Mas a
originalidade por parte de Jesus Cristo é ter ligado a figura gloriosa e
majestosa do Filho do homem à condição humilde e sofredora do Servo de Iahweh.
O
Filho do Homem é como uma circunlocução para exprimir o significado
escatológico e definitivo das palavras e da conduta de Jesus, bem como da
decisão de fé. É, ao mesmo tempo, símbolo da certeza de que Jesus tem de ser a
plenitude. Exprime uma igualdade funcional e não pessoal de Jesus com o “Filho
do Homem” que há de vir.
A
palavra rica e misteriosa sobre o Filho do Homem apresenta Jesus como
representante escatológico de Deus e de seu Reino, assim como o representante
do homem. Nele e por ele, em sua pessoa e em seu destino se decide o desígnio
de Deus sobre os homens. Traz e é a graça e o juízo de Deus. A partir do “Filho
do Homem” podemos compreender os desenvolvimentos essenciais da cristologia
pós-pascal e provar que são legítimas: a cristologia do sofrimento e da
exaltação, bem como a expectativa de sua volta e a importância pessoal e
universal de Jesus.
Cristologicamente
assume a característica de um enigma misterioso através do qual Jesus expressa
e vela sua pretensão messiânica. Assim, o título “Filho do Homem” ajuda a
esclarecer as características de sua missão ao unir simultaneamente o aspecto
glorioso e transcendente à sua realidade humilde e terrena, ao mesmo tempo em
que abre o campo para a revelação de sua própria realidade pessoal.
Até a próxima!
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