segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Documento de Aparecida - Síntese da Segunda Parte



Título: Vida de Jesus “A Cristo nos discípulos missionários”
A fé em Jesus Cristo como fonte de vida para aqueles que percorrem o caminho dos discípulos missionário.
Capítulo III
A Alegria de ser “discípulos missionários” para anunciar o Evangelho
Jesus Cristo (Caminho, Verdade e Vida): é o primeiro e maior evangelizador, que nos envia para proclamar a Boa Nova em atitude de agradecimento e louvor a Deus.
A Boa Nova da Dignidade Humana: Deus nos criou à sua imagem e semelhança e nos associou à continuidade da obra da criação. O discípulo deve atuar incansavelmente na defesa da dignidade da pessoa, especialmente dos mais pobres e marginalizados.
A Boa Nova da Vida: A vida é dom e é dignificada quando é posta a serviço dos outros. A vida é um direito de todo ser humano que, com a ajuda de Jesus Cristo, torna-se apto a superar quaisquer obstáculos na busca de uma vida nova e plena. Para tanto, deve buscar sempre uma maior intimidade com Deus, fitar a ressurreição e a vida eterna, ter Deus como seu valor supremo, doar a sua própria vida e caminhar junto em comunidade, defendendo uma vida digna para todos, dispensando cuidado especial à natureza.
A Boa Nova da Família: a família é um patrimônio da humanidade. Deus criou o ser humano, homem e mulher, para que vivessem na reciprocidade e na complementariedade. No interior de uma família, a pessoa deve se sentir amada e acolhida descobrindo motivos e o caminho para pertença à família de Deus.
A Boa Nova da Atividade Humana (do Trabalho, da Ciência e tecnologia): com o trabalho, o ser humano se faz participante da tarefa criadora de Deus e se coloca a serviço de seus semelhantes. O trabalho garante a dignidade e a liberdade do homem e se constitui na chave essencial de toda a questão social. O discípulo missionário deve ter o compromisso de promover a dignidade do trabalhador e do trabalho, além de defender o justo reconhecimento dos deveres e direitos dos trabalhadores. Os discípulos são, também, promotores da cultura do trabalho e denunciam toda e qualquer injustiça.
A Boa Nova do Destino Universal dos Bens e da Ecologia: a criação também é manifestação do amor providente de Deus. O ser humano foi eleito para cuidar e transformar a natureza em fonte de vida digna para todos. Assim, o discípulo de Jesus Cristo deve contemplá-la, cuidar dela e utilizá-la, tendo presente inclusive os aspectos transcendentes da vida. A solidariedade com as gerações presentes e futuras é uma exigência do princípio do destino universal dos bens.
O Continente da esperança e do amor: Como discípulos e missionários temos muito a agradecer a Deus. Pelo dom da vitalidade da Igreja: por sua opção pelos pobres; por suas paróquias; por suas comunidades e associações; por seus movimentos eclesiais e novas comunidades e por seus múltiplos serviços sociais e educativos. Portanto, devemos louvar a Deus por ter feito do continente latino-americano um espaço de comunhão e comunicação dos povos, retratado nas palavras do Papa Bento XVI: “Só da Eucaristia brotará a civilização do amor que transformará a América Latina e o Caribe para que, além de ser o Continente da esperança, seja também o Continente do amor!”.
Capítulo IV
A Vocação dos Discípulos Missionários à Santidade
Chamados ao seguimento de Jesus Cristo: a primeira questão é que não é o discípulo que elege o Mestre, mas é o Mestre quem o chama. A segunda questão é que a resposta ao chamado do Mestre exige que o discípulo entre na dinâmica do “Bom Samaritano”, ou seja: acolher os pequeninos, curar os doentes, perdoar e libertar os pecadores e conversar com os excluídos.
Parecidos com o Mestre: no seguimento de Jesus prevalece o “Mandamento do Amor”. O discípulo pratica as bem-aventuranças e tem seu estilo de vida semelhante ao do próprio Jesus Cristo. Pratica um amor serviçal, capaz de entregar a sua própria vida. É radicalmente fiel à missão. Age com compaixão diante da dor e se aproxima dos pobres. Tem como características supremas o amor e a obediência ao Pai. Identificar-se com Jesus Cristo é partilhar seu destino, inclusive até a cruz. Serve-nos o exemplo de inúmeros missionários e mártires de ontem e de hoje
Enviados a anunciar o Evangelho do Reino da Vida: Jesus Cristo nos envia em missão para anunciar a todas as nações o Evangelho do Reino. Assim todo discípulo é missionário e não pode deixar de anunciar ao mundo que só Jesus Cristo nos salva. Jesus Cristo faz o discípulo missionário partícipe de Sua missão e, ao mesmo tempo, vincula cada discípulo a Ele como amigo e irmão. Deve-se ter presente sempre a opção preferencial pelos pobres; a promoção humana integral; e a autêntica libertação cristã.
Animados pelo Espírito Santo: Jesus Cristo ressuscitado comunicou o Espírito Santo em Pentecostes e este mesmo e único Espírito guia e fortalece a Igreja. Seja no anúncio da palavra, na celebração da fé e no serviço da caridade. Com o Espírito Santo a Igreja experimenta a vitalidade divina que se expressa em diversos dons e carismas.
Capítulo V
A Comunhão dos Discípulos Missionários na Igreja
Chamados a viver em comunhão: Não há discipulado sem comunhão. A Igreja atrai quando vive em comunhão. A diversidade dos carismas é dom do Espírito Santo, que contribui para a comunhão, quando colocados à disposição dos demais. A comunhão é missionária e a missão é para a comunhão.
Lugares Eclesiais para comunhão: Os lugares são as:
·         Dioceses (Lugar privilegiado da comunhão e primeiro âmbito da comunhão e da missão) A Igreja particular é totalmente Igreja, mas não é toda a Igreja. O amadurecimento no seguimento de Jesus e a paixão por anunciá-lo requerem que a Igreja particular se renove constantemente em sua vida e ardor missionário. É chamada a ser “comunidade missionária”.
·         Paróquias (“Comunidade de Comunidades”: células vivas da Igreja e espações de iniciação cristã, educação e celebração da fé). Todos os membros da comunidade paroquial são responsáveis pela evangelização dos homens e mulheres em cada ambiente. Seguindo o exemplo da primeira comunidade cristã, a comunidade paroquial se reúne para partir a o pão da Palavra e da Eucaristia e perseverar na catequese, na vida sacramental e na prática da caridade.
·      CEB (escolas que formam cristãos comprometidos com a fé e resgatam a experiência das primeiras comunidades) É a célula inicial de estruturação eclesial. Tem na Palavra de Deus a fonte da sua espiritualidade. Serve de fonte e semente de serviços e ministérios).
·         Conferências Episcopais (Espaço de discernimento solidário dos bispos sobre os grandes problemas da sociedade e da Igreja) O Povo de Deus se constrói como comunhão de Igrejas particulares, e através delas como intercâmbio entre as culturas.
Discípulos Missionários com Vocações Específicas: A condição de discípulo brota de Jesus Cristo como de sua fonte, pela fé e pelo batismo, e cresce na Igreja, comunidade onde todos os seus membros adquirem igual dignidade e participam de diversos ministérios e carismas.
·    Bispos: Discípulos missionários de Jesus Sumo Sacerdote. Sucessores dos apóstolos são chamados a “fazer da Igreja uma escola de comunhão”. São os animadores da comunhão e pais e centro de unidade.
·      Presbíteros: Discípulos missionários de Jesus Bom Pastor. Vivem seu ministério com fidelidade a despeito dos desafios do momento atual, tais como: identidade teológica do ministério presbiteral (não pode cair na tentação de se considerar um mero delegado ou apenas representante da comunidade, mas sim um dom para ela, pela unção do Espírito e por sua especial união com Cristo); ministério do presbítero inserido na cultura atual (envolve a necessidade de desenvolver e potencializar adequadamente a formação inicial e permanente em suas quatro dimensões: humana, espiritual, intelectual e pastoral); aspectos vitais e afetivos, ao celibato e a uma vida espiritual intensa fundada na caridade pastoral. Também desafios estruturais: paróquias muito grandes, muito pobres ou localizadas em regiões de extrema violência. É chamado a ser homem de misericórdia e compaixão, próximo ao seu povo e servidor de todos, particularmente dos que sofrem grandes necessidades.
·       Diáconos Permanentes: Discípulos missionários de Jesus Servidor. São ordenados para o serviço da Palavra, da caridade e da liturgia, especialmente para os sacramentos do Batismo e do Matrimônio; também para acompanhar a formação de novas comunidades eclesiais.
·    Leigos e Leigas: Discípulos missionários de Jesus Servidor. São os “cristãos que estão incorporados a Cristo pelo Batismo, que formam o povo de Deus e participam das funções de Cristo: sacerdote, profeta e rei. Realizam, segundo sua condição, a missão de todo o povo cristão na Igreja e no mundo”. São chamados a participar da ação pastoral da Igreja. Necessitam de espaços de participação e ministérios, bem como de responsabilidades próprias, em uma Igreja onde todos sejam co-responsáveis. Necessitam de uma sólida formação doutrinal, pastoral e espiritual. Suas associações devem ser apoiadas pelos pastores, como sinal de esperança,
·         Consagrados e Consagradas: Discípulos missionários de Jesus Testemunha do Pai. É um dom do Pai, por meio do Espírito, à sua Igreja. Em comunhão com os Pastores, os consagrados e consagradas são chamados a fazer de seus lugares de presença, de sua vida fraterna em comunhão de suas obras, lugares de anúncio explícito do Evangelho, principalmente aos mais pobres.
Os que deixaram a Igreja para unir a outros grupos religiosos: Muitos dos que passam a integrar outros grupos religiosos o fazem na expectativa de encontrar respostas para suas inquietações e aspirações. Os motivos não são doutrinais, mas vivenciais. Não são dogmáticos, mas pastorais. Não são teológicos, mas metodológicos de nossa Igreja. Para enfrentar o desafio deve-se deter especial atenção em quatro eixos: experiência religiosa; vivência comunitária; formação bíblico-doutrinal; e compromisso missionário de toda a comunidade.
Diálogo ecumênico e inter-religioso: A compreensão e a prática da eclesiologia de comunhão nos conduzem ao diálogo ecumênico. A relação com os irmãos e irmãs batizados em outras Igrejas e comunidades eclesiais é um caminho irrenunciável para o discípulo missionário, pois a falta de unidade representa um escândalo, um pecado e um atraso do cumprimento do desejo de Jesus Cristo (Jo 17,21). O ecumenismo é conseqüência de uma eclesiologia de comunhão e a unidade é antes de tudo um Dom do Espírito Santo. Isso implica conversão do coração e muita oração.
Relação com Judaísmo: Fortes laços nos relacionam com o povo judeu, sobretudo a união na fé no único Deus e sua palavra revelada no Antigo Testamento. São nossos irmãos maiores na fé de Abraão, Isaac e Jacó. O diálogo inter-religioso, em especial com as religiões monoteístas, fundamenta-se justamente na missão que Cristo nos confiou, solicitando a sábia articulação entre o anúncio e o diálogo como elementos constitutivos da evangelização.
Capítulo VI
O Caminho de Formação dos Discípulos Missionários
Uma Espiritualidade trinitária do encontro com Jesus Cristo: Uma autêntica proposta de encontro com Jesus Cristo deve-se estabelecer-se sobre o sólido fundamento da Trindade-Amor.
O encontro com Jesus: a experiência batismal é o ponto de início de toda a espiritualidade crista que sua funda na Trindade. Tal acontecimento nos permite superar o egoísmo e nos colocarmos plenamente ao serviço do outro. Para ser discípulo é necessário fazer a experiência do “encontro com Jesus”. A própria natureza do cristianismo consiste em reconhecer a presença de Jesus Cristo e segui-lo.
Os lugares privilegiados de encontro com Jesus Cristo são: Sagrada Escritura; Liturgia; Sacramento da Reconciliação; Oração pessoal e comunitária; no meio de uma comunidade; na fé e no amor fraterno; naqueles que dão testemunho de luta pela justiça, pela paz e pelo bem comum; nos acontecimentos da vida de nossos povos; nos pobres, aflitos e enfermos. No reconhecimento desta presença e proximidade, e na defesa dos direitos dos excluídos, encontra-se a fidelidade da Igreja a Jesus Cristo.
A piedade popular como lugar de encontro com Jesus Cristo: O Santo Padre destacou a “rica e profunda religiosidade popular, na qual aparece a alma dos povos latino-americanos”. A piedade popular penetra delicadamente a existência pessoal de cada fiel e, ainda que se viva em uma multidão, não é uma “espiritualidade de massas”.
Maria, discípula e missionária: A máxima realização da essência cristã como um viver trinitário de “filhos no Filho” nos é dada na Virgem Maria que, através de sua fé e obediência à vontade de Deus, assim como por sua constante meditação da Palavra e das ações de Jesus, é a discípula mais perfeita do Senhor.
Os apóstolos e os santos: Marcaram a espiritualidade e o estilo de vida de nossas Igrejas. Suas vidas são lugares privilegiados de encontro com Jesus Cristo. Seu testemunho se mantém vigente e seus ensinamentos inspiram o ser e ação das comunidades.
O processo de formação dos discípulos missionários: Deve estar pautado em cinco aspectos:
· O encontro com Jesus Cristo (O querigma como iniciação cristã)
· A conversão (mudança na forma de pensar e agir)
· O discipulado (amadurecimento do seguimento)
· A comunhão (inserção na comunidade)
·A missão (necessidade de partilhar com os outros a alegria de ser enviado)
Critérios Gerais
Uma formação integral, querigmática e permanente: A missão principal da formação é ajudar os membros da Igreja a se encontrar sempre com Jesus Cristo, e assim reconhecer, acolher, interiorizar e desenvolver a experiência e os valores que constituem a própria identidade e missão cristã no mundo.Trata-se de um longo processo que acontece em quatro dimensões, que devem obedecer aos princípios da integralidade e da harmonia, a saber:
A.   Dimensão humana e comunitária
B.   Dimensão Espiritual
C.   Dimensão Intelectual
D.   Dimensão Pastoral e Missionária
Uma formação respeitosa dos processos: é um caminho longo que requer itinerários diversificados zelando pelos ritmos comunitários, contínuos e graduais.
Uma formação que contempla o acompanhamento dos discípulos: cada setor do povo de Deus pede que a pessoa seja acompanhada e formada de acordo com a peculiar vocação e ministério para os quais tenha sido chamada.
Uma formação na espiritualidade da ação missionária: Baseada na docilidade ao impulso do Espírito, à sua potência de vida que mobiliza e transfigura todas as dimensões da existência.
Iniciação à vida cristã e catequese permanente
Iniciação à vida cristã: Inclui o querigma, é a maneira prática de colocar alguém em contato com Jesus Cristo e iniciá-lo no discipulado. Dá-nos, também, a oportunidade de fortalecer a unidade dos três sacramentos da iniciação e aprofundar o rico sentido deles.
Propostas para iniciação cristã: Deve começar pelo querigma e que, guiado pela Palavra de Deus, conduza a um encontro pessoal, cada vez maior, com Jesus Cristo, perfeito Deus e perfeito Homem, experimentado como plenitude da humanidade e que leve à conversão, ao seguimento em uma comunidade eclesial e a um amadurecimento de fé na prática dos sacramentos, do serviço e da missão.
Catequese Permanente: A catequese não deve ser ocasional, reduzida a momentos prévios aos sacramentos ou à iniciação cristã, mas sim “itinerário catequético permanente”. A catequese não pode se limitar a uma formação meramente doutrinal, mas precisa ser uma verdadeira escola de formação integral.
Lugares de formação para os discípulos missionários:
·         Família (primeira escola da fé): “Escola de comunhão”
·         Paróquias: Para que sejam centros de irradiação missionária, devem ser lugar de formação permanente.
·     Pequenas comunidades eclesiais: Ambientes propícios para viver a fraternidade, para a oração, para aprofundar processos de formação na fé e para fortalecer o compromisso de ser apóstolo na sociedade atual.
·    Movimentos Eclesiais: Oportunidades para que muitas pessoas distantes possam ter uma experiência de encontro vital com Jesus e recuperem sua identidade batismal e sua ativa participação na vida da Igreja.
·   Seminários e Casas de Formação: A pastoral vocacional começa na família e continua na comunidade. É urgente dedicar cuidado especial à Pastoral Vocacional.
·         Educação Católica: constitui responsabilidade estrita à escola, enquanto instituição educativa, destacar a dimensão ética e religiosa da cultura, precisamente com o objetivo de ativar o dinamismo espiritual do sujeito e ajudá-lo a alcançar a liberdade ética que pressupõe e aperfeiçoa a psicológica.
·     Centros Educativos Católicos: A Igreja é chamada a promover em suas escolas uma educação centrada na pessoa humana que é capaz de viver na comunidade oferecendo a esta o bem que a Igreja possui.
·   As universidades e centros superiores de educação católica: Prestam importante ajuda à Igreja em sua missão evangelizadora. Trata-se de vital testemunho institucional sobre Jesus Cristo e sua mensagem, tão necessário e importante para as culturas impregnadas pelo secularismo.
REFERÊNCIAS:

CONSELHO EPISCOPAL LATINO AMERICANO, CELAM. Documento de Aparecida: Texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe .4 ed. Brasília: Edições CNBB, 2007.


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