quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Catecismo da Igreja Católica (uma síntese)





Profissão de Fé, A Celebração do Mistério Cristão, A vida em Cristo e a Oração Cristã.

  

            Presente a inegável importância do Catecismo da Igreja Católica para todos os fiéis, sobretudo por ser norma segura para a transmissão da doutrina da Igreja Católica, buscaremos desenvolver, neste trabalho, uma análise objetiva e destacar as principais idéias acerca dos temas relacionados às quatro partes em que se divide o mencionado documento, a saber: à profissão de fé, celebração do mistério cristão, a vida em cristo e a oração cristã.
            A elaboração do Catecismo da Igreja Católica foi concluída com a aprovação pontifícia em 25 de junho de 1992 e foi promulgado pela constituição apostólica Fidei Depositum, de João Paulo II, datada de 11.10.1992. Para uma visão geral da forma com que o Catecismo está estruturado vale assinalar que cada uma de suas partes está articulada em duas seções: a primeira apresenta os fundamentos do tema; na segunda, cada um dos temas é abordado separadamente. Assim, a primeira seção de cada parte trata dos conteúdos teológicos fundamentais da Doutrina (Parte I), os fundamentos da Liturgia (Parte II), os fundamentos da Moral (Parte III) e a doutrina geral sobre a Oração (Parte IV). A segunda seção trata respectivamente dos doze artigos da fé, dos sete sacramentos, dos dez mandamentos e dos sete pedidos do Pai-nosso.
A profissão de fé
            Na primeira parte do Catecismo temos que o ponto principal reside claramente nas ações de Deus, que o credo confessa fielmente.  Em primeiro lugar vem o ser, só depois o agir. Vem em primeiro lugar o que Deus fez: só depois se pode falar sobre o que o homem deve e pode fazer para responder a isso. O imperativo moral resulta do indicativo da ação de Deus.
            O ponto de partida do Catecismo é algo comum a todos os homens: a sua “capacidade de Deus”, a sua dimensão religiosa. Para tanto, segue a profissão de fé apostólica, o Símbolo Apostólico, antiga profissão de fé batismal da Igreja de Roma[1] mas sempre faz referência ao chamado Símbolo Niceno-Constantinopolitano[2].
            Para isso adota-se, seguindo o credo, uma estrutura trinitária da profissão de fé e também sua subdivisão tradicional em 12 artigos[3]: Não em vão é reconhecida a doutrina da Trindade Santa como o “ensinamento mais fundamental e essencial da hierarquia das verdades da fé” [4].
            O Catecismo centra-se na Trindade porque é cristrocêntrico: “O que se ensina na catequese é Cristo (...); o único que ensina é Cristo” [5]. Ele é o grande sacramento no qual Deus mesmo nos é manifestado[6]; a liturgia é a obra de Cristo glorioso que continua a agir na sua Igreja, por meio de seu Santo Espírito[7], para a cura e a salvação do homem[8]; assim é que se torna possível a vida em Cristo, isto é, seu seguimento verdadeiro[9], e que a oração, enquanto comunhão com Cristo tenha as mesmas dimensões que seu amor [10].
            Convém sublinhar alguns temas particulares da primeira parte: “a importância capital” [11] da catequese sobre a criação, que é apresentada como “fundamento de todos os desígnios salvíficos de Deus” [12] e, portanto, como “obra da Santíssima Trindade” [13]; a apresentação da ressurreição como “a verdade culminante de nossa fé em Cristo” [14]. Porém não como ponto de chegada de uma cristologia meramente de cima, mas como supremo e sem par ponto de conexão da história humana com o Deus transcendente; a explicação da realidade da Igreja em conexão íntima com os artigos sobre Cristo e sobre o Espírito Santo “para não confundir Deus com suas obras” [15] e para entender bem em que sentido não há salvação fora dela[16]·.
            No “Creio em Deus Pai Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra” [17] temos que se explica que a fé em um só Deus inclui a fé na Trindade. “Crer em Deus, o Único, e amá-lo com todo o seu ser, tem consequências imensas para toda a nossa vida” [18]. A fé na Santíssima Trindade não está em contradição com a fé em um só Deus, mas é sua plena revelação: “A fé de todos os cristãos consiste na Trindade” [19]. O conceito sempre recorrente de “economia” ou “economia da Fé” refere-se a todas as obras de Deus, que são sempre obras comuns às três pessoas divinas[20].
            A primeira obra de Deus é a criação, e a ela é atribuída uma importância especial no Catecismo, sendo efetuada uma introdução geral sobre o significado da catequese sobre a criação[21]. Somente Deus é Criador[22] e a criação é a obra de seu amor e de sua bondade incomensurável, é expressão de sua sabedoria. Por isso, as criaturas são “palavra de Deus, e o homem, a quem é dada a luz da razão, pode perceber a linguagem de Deus em toda a sua criação” [23].
            Ligada, de modo inseparável, à fé na criação está a fé na “providência Divina, providência através da qual deus conduz sua criação à perfeição” [24]. Trata-se de uma solicitude concreta, direta de Deus.[25]. O fato de Deus em sua providência também incluir a atuação própria das causas segundas criadas acaba tendo grandes consequências para a visão da liberdade e da responsabilidade humana[26].
            O tema do mal é uma questão inevitável para todo o homem, e “não há nenhum elemento da mensagem cristã que não seja também uma resposta ao problema do mal” [27]. O testemunho dos santos[28] encoraja-nos a crer que Deus conduz tudo para o bem.
            O Catecismo tenta tirar da mensagem bíblica da obra dos “seis dias” as verdades que continuam válidas independentemente de questões relativas à concepção do mundo[29]. No contexto da criação são mencionados os anjos e o lugar deles na consciência da fé e na vida da liturgia não deve ser desprezado[30].      O parágrafo sobre a criação do homem[31] apresenta, de forma extremamente sucinta, os fundamentos daquela antropologia e podemos observar que a ênfase na unidade e ao mesmo tempo na distinção do corpo e da alma faz parte do cerne da visão cristã do homem.  Faz parte da fé a convicção da unidade essencial de corpo e alma constituindo uma única pessoa humana, e também a doutrina da criação direta do espírito por Deus, e a compreensão da morte como separação de corpo e alma até a ressurreição[32].
            Sobre o pecado original, expõe a doutrina de fé, com forte centralização cristológica do tema: “É preciso conhecer a Cristo como fonte da graça para conhecer Adão como fonte do pecado” [33]. “A doutrina do pecado original é o reverso da Boa Notícia de que Jesus é o Salvador de todos os homens, que todos têm necessidade da salvação” [34]. No âmbito do pecado original, é tratada também a questão dos Demônios que, segundo a fé, Deus os criou bons em sua natureza, mas se tornaram maus por sua própria iniciativa[35].
            Os artigos cristológicos[36] ocupam a maior parte da profissão de fé.  Em locais próprios são reconhecidos os atributos da maternidade divina de Maria[37] e um longo trecho é dedicado aos mistérios da vida de Cristo[38]. Cristo é o grande sacramento de Deus[39]. Também são expostas as particularidades da relação de Jesus com Israel[40] e o Catecismo lembra que foram nossos pecados que crucificaram Cristo: pecados que ele expiou e remiu por sua morte, segundo o desígnio de Deus[41]. No capítulo sobre escatologia e liturgia, o Catecismo faz afirmações importantes sobre o relacionamento entre cristãos e judeus.[42].
            Para a fé cristã é da maior importância a fé na ação redentora de Jesus Cristo e o Catecismo busca enaltecer os fatos a ela relacionados[43], valendo destacar: o cumprimento do desígnio divino da salvação; a morte de Jesus é considerada sob a perspectiva do projeto divino de salvação, que não exclui ninguém; e a morte de Jesus é o sacrifício perfeito da Nova Aliança. “A Ressurreição de Jesus é a verdade culminante da nossa fé em Cristo” [44].
            O Catecismo trata detalhadamente dos símbolos e alegorias do Espírito Santo[45] e, além disso, enfatiza a unidade que existe entre o envio do Filho e do Espírito Santo[46]. Faz-se referência expressa à atuação oculta do Espírito Santo no Antigo testamento.
            Sobre a Igreja, o Catecismo apresenta as denominações e alegorias da Igreja, vindo depois sua realização progressiva na história: ela tem suas raízes no desígnio eterno de Deus; de certo modo, tem na obra da criação seu primeiro esboço e projeto; é preparada na Antiga Aliança; é estabelecida por Cristo e manifestada pelo Espírito. Somente no final dos tempos ela terá consumação[47]. Sua essência e seu mistério tornam-se visíveis a partir de sua origem: a Igreja é ao mesmo tempo visível e espiritual, celeste e terrestre, divina e humana; é sacramento da união íntima dos homens com Deus e dos homens entre si.
            A Igreja é apresentada em seu mistério trinitário: como Povo de Deus, como Corpo de Cristo e como Templo do espírito Santo[48]. Todavia, a unidade nupcial da Igreja com Cristo acaba sendo o centro mais íntimo de seu mistério. As quatro características da Igreja são tematizadas expressamente: ela é uma Igreja uma, santa, católica e apostólica[49]·. A apostolicidade continua a ser explicitada no tratado sobre as três ordens dos fiéis de Cristo: hierarquia, leigos e religiosos.[50] Mostra que a dimensão essencial da Igreja vai muito além da forma visível como peregrina sobre a Terra. Há uma ligação entre a Igreja Celeste com a Igreja Terrestre. Com Maria e todos os santos, a Igreja da terra e dos céus constitui a única família de Deus.[51].
            No seu final expõe a doutrina sobre a ressurreição dos mortos, na qual a ressurreição de Cristo atinge a plenitude.[52]·. Terminamos com as palavras de Santo Agostinho: “O Símbolo seja para ti como um espelho. Olha-te nele para ver se realmente crês tudo o que declaras crer, e alegra-te cada dia com tia fé”[53]
Os Sacramentos
A segunda parte aparece muito estreitamente ligada à primeira, pois nela apresenta-se a liturgia da Igreja como a obra atual do Deus trino enquanto encaminha à salvação e santificação cada um dos seres humanos. As duas primeiras partes do Catecismo manifestam, em conjunto, algo de importância fundamental, que deveria ficar claro na catequese: é Deus que sai ao encontro da humanidade em sua Palavra e nos sacramentos.  A vida de moral e a vida de oração serão resposta à iniciativa divina.
Além do caráter trinitário, e em particular pneumatológico, do tratamento dado aos sacramentos, convém sublinhar sua ótica mistagógica e sua sensibilidade para o rito oriental. O sentido dos sacramentos é exposto a partir de seus elementos celebrativos, que aparecem como caminho introdutório ao mistério da salvação e santificação que celebram. A atenção aos ritos orientais ajuda a compreender melhor o mesmo mistério. Por outro lado, a classificação empregada (sacramentos de iniciação, de cura e da comunidade) é fundamentalmente pedagógica e não deverá fazer perder de vista que “todos os sacramentos estão unidos à eucaristia e a ela se ordenam” [54].
A segunda parte do Catecismo divide-se, como na construção de todas as quatro partes, em duas seções. A primeira, de caráter mais geral, aborda a economia da salvação sacramental, numa espécie de liturgia fundamental; a segunda trata da celebração dos sete sacramentos e dos sacramentais.
A grande perspectiva, na qual os sacramentos da Igreja continuam hoje as obras realizadas por Jesus Cristo durante sua vida terrestre[55]. Os sacramentos são como que essa força que sai do Corpo de Cristo, para curar as feridas do pecado e para nos dar vida nova em Cristo[56].
Quanto à hierarquia de verdades, os sacramentos são interpretados trinitária e cristocentricamente. Ambas as perspectivas completam-se. Assim sendo, no primeiro artigo a Liturgia é apresentada como obra da Trindade: O Pai é a origem e o fim da Liturgia[57]. No artigo sobre Eucaristia isso é mais concretizado: A Eucaristia é “ação de graças e louvor ao Pai” [58]. A liturgia é a obra de Cristo glorificado, que continua a atuar na Igreja[59], fazendo memória de seu mistério através do Espírito Santo na Igreja, atualizando-o e tornando-o atuante[60]. Neste capítulo fundamental são apresentados também os conceitos litúrgicos mais importantes como a anamnese (“memória”) [61], epíclese (“a invocação ao Espírito Santo”.) [62], Palavra de Deus[63].
O segundo artigo oferece uma breve sistemática dos sacramentos, através dos quais Cristo atualiza seu mistério e o torna eficaz. Os elementos mais importantes de uma doutrina sacramental geral estão apresentados[64].
As exposições que o artigo 3 apresenta são importantes do ponto de vista catequético (“Celebrar a liturgia da Igreja”, porque oferecem uma espécie de catequese da celebração litúrgica:
a)    Quem celebra? A relação da liturgia celeste com a liturgia terrestre é apresentada dentro da linha do Concílio[65]
b)    Como celebrar a liturgia? Os sinais e símbolos mais importantes da liturgia são analisados em seu significado antropológico, veterotestamentário, cristológico e litúrgico[66]. Palavras e ações, canto, música e imagens sagradas fazem parte da totalidade da liturgia[67].
c)    Quando celebrar a liturgia? O tempo litúrgico é apresentado em seus desdobramentos na Liturgia das Horas, no dia do Senhor e no ano litúrgico[68].
d)    Onde celebrar a liturgia? Fala-se sobre o local da celebração da liturgia, sobre a casa de Deus e sua simbologia[69]. Essas considerações completam-se como que se diz sobre a arte sacra na Parte III[70].
O artigo 4 do Capítulo II fala da diversidade das liturgias na unidade da Igreja celebrante. A questão de aculturação coloca-se no campo da Liturgia com especial urgência (Liturgia e Culturas) [71].
A apresentação dos sete sacramentos na Seção II faz-se através de um esquema catequético que pode, é claro, ter uma divisão diferente: os três sacramentos da iniciação cristã (Batismo, Confirmação e Eucaristia), os sacramentos de cura (Penitência e Unção dos Enfermos) e os sacramentos do serviço da comunhão (Ordem e Matrimônio).
Os sacramentos são apresentados de acordo com um esquema comum, e o ponto de partida é, na maioria das vezes, a explicação do nome com o qual o sacramento é designado[72]. A instituição dos sacramentos por Cristo[73] não é considerada isoladamente cada sacramento é situado no todo da história da salvação. Com seus prenúncios no Antigo Testamento, com sua fundamentação na vida de Cristo e seu desdobramento no tempo da Igreja[74].
A doutrina sobre cada sacramento não é apresentada de forma abstrata, mas a partir da Mistagogia da celebração litúrgica[75], pois os ritos do sacramento é o local próprio da catequese sacramental. Essa Mistagogia litúrgica é complementada por referências ao receptor, aos ministros e aos efeitos salvíficos do sacramento [76].
De caso pensado, procura-se apresentar não somente a tradição litúrgica latina, mas incluir também a práxis sacramental da Igreja Oriental. Assim são apresentados os sete sacramentos:
a)    Batismo: quanto a seus efeitos, merece referência especial o trecho sobre o batismo de crianças[77], sobre as crianças falecidas sem batismo[78], bem como sobre o mútuo relacionamento entre a remissão dos pecados (em primeiro lugar do pecado original) e o dom da graça[79].
b)    Confirmação: é devidamente apresentada a diferença de tradições entre Oriente e o Ocidente[80]. Com relação à idade exigida para o sacramento, faz-se referência ao pensamento de Santo Tomás de Aquino: “maturidade” não é uma questão de idade biológica[81].
c)    Eucaristia: para expor os aspectos litúrgicos da Eucaristia usando uma raiz comum a todas as famílias litúrgicas, o Catecismo parte da apresentação feita por S. Justino. A Mistagogia contém o que é comum a todas as famílias litúrgicas[82]. O caráter sacrifical da Eucaristia é claramente enfatizado, já que atualmente muitas vezes há falhas nesse ponto[83]. A doutrina sobre a real presença do Senhor na Eucaristia confirma-se com o apreço dado à adoração eucarística[84]. “Os frutos da eucaristia” são tratados de forma pormenorizada[85]. A questão da intercomunhão tem seu lugar especial[86]. O que de uma forma geral se pode dizer sobre os sacramentos[87] vale de forma particular para a Eucaristia: ela é o “penhor da glória futura” [88].
d)    Penitência e Reconciliação: nesse sacramento também é enfatizada a dimensão escatológica: ele é a antecipação do juízo[89]. O caráter salvífico do Sacramento da Reconciliação é fortemente acentuado[90]. O texto sobre as indulgências complementa a doutrina sobre a comunhão dos santos[91].
e)    Unção dos Enfermos: nesse sacramento o aspecto salvação é particularmente enfatizado[92]; e não faltam referências à associação aos sofrimentos de Cristo[93], ao significado do sofrimento para a santificação da Igreja[94] e à preparação para a morte, última passagem do cristão[95].
f)     Ordem: o sacramento da Ordem é aqui considerado em continuação ao que se expôs sobre eclesiologia[96], como forma especial da participação no único sacerdócio de Cristo. O sacerdócio ministerial é colocado a serviço do sacerdócio geral de todos os batizados[97]; o sacerdote, por este sacramento, age “na pessoa de Cristo-Cabeça” [98]. A exposição sobre os três graus da ordem segue amplamente os textos do Concílio Vaticano II. Faz-se referência aos textos litúrgicos que devem explicitar a graça desse sacramento[99].
g)    Matrimônio: primeiramente, chama-se a atenção para que é o “casamento no plano de Deus”: uma comunhão íntima de vida e de amor, que se destina ao bem do casal, à procriação e à educação de filhos. Ameaçada pela força do pecado, essa comunhão é restaurada por Cristo em sentido original[100]. O lugar do casamento na história da salvação é complementado através do significado da virgindade por causa do Reino dos Céus[101], já que ambos provêm do Senhor, que lhes dá pleno sentido[102]. Se a exigência do Senhor acerca do casamento parecer alta demais, ou até mesmo inatingível, mais importante será então a referência à graça que vem por Cristo[103]. Cita-se também o grande número de pessoas celibatárias, sobre cuja situação raramente se reflete[104].
Como uma coroa, os Sacramentais (as bênçãos, por exemplo) circundam os sete sinais dos sacramentos[105]. Eles são um lugar privilegiado da devoção popular. O CIC cita o Documento de Puebla, que acentua seu grande significado [106].
A segunda parte termina com a exposição sobre o funeral cristão, visto totalmente à luz do mistério pascal. Um belo texto de S. Simeão de Tessalônica, oriundo da tradição bizantina, que conclui este trecho e consequentemente a Parte II, faz referência ao objetivo último de toda a vida sacramental: “Estaremos todos reunidos em Cristo”[107]. Viver por e com Cristo é também a meta e o caminho da vida moral dos cristãos, como veremos na parte a seguir.
A vida em Cristo (O agir Cristão)
            O que foi tratado na primeira e segunda parte serve de ponte para a parte terceira (moral), que encontra seu ponto de partida no anseio do homem pela felicidade[108].
            A terceira parte articula as diversas questões concretas da vida moral no quadro tradicional do decálogo. Porém, o decálogo, por sua parte, não é apresentado como o quadro último da vida moral cristã. Isso teria dado lugar a uma moral do preceito e da obrigação. O quadro é dado, antes, pela lei nova, isto é pela lei interior da graça, do amor, da liberdade e do Espírito Santo[109]. Por isso, antes dos mandamentos fala-se, na primeira seção, do desejo de felicidade e da bem-aventurança cristã, da liberdade, da paixão natural e das virtudes que a orientam ao amor. Vale dizer que o quadro mais abarcante da moral cristã é a “pertença a Deus instituída pela aliança” [110] ou o seguimento de Jesus Cristo[111]. O decálogo, portanto, é interpretado à luz do “duplo e único mandamento da caridade” [112].
            Porém a moral Cristã não é só para os cristãos, não é moral de gueto; seu fundamento não se acha nas disposições mais ou menos sábias de um profeta inspirado a quem seguem os seus. O Espírito Santo, na verdade, conduz os seguidores de Jesus Cristo à verdade do próprio ser humano na qual estão radicadas as pautas do fazer verdadeiramente humano, que não permanecem nunca totalmente ignoradas por nenhum ser racional. A moral cristã é, por isso, tão específica como universal. Porque a lei nova assume e aperfeiçoa a lei natural. O Catecismo da Igreja Católica sai ao encontro da possível confusão entre lei moral natural e lei da natureza: aquela “chama-se natural não por referência à natureza dos seres irracionais, mas porque a razão que a proclama pertence propriamente à natureza humana” [113].
            Quanto aos conteúdos concretos da moral, o Catecismo não faz senão referir sinteticamente à doutrina da Igreja. A respeito da questão da pena de morte, que resultou tão controvertida.
            A terceira parte inicia-se com uma introdução cuja leitura é imprescindível. “Cristo, reconhece tua dignidade!” (São Leão Magno, 1691). As duas primeiras partes do Catecismo expõem o ser do cristão. Nesta terceira parte, o tema é a vida condizente com a dignidade do homem e do cristão.
            Novamente levando em conta a hierarquia das verdades, são ressaltados os dois pólos: a vida Cristã é uma vida que vem do Deus Trino[114], e é uma vida que vem em Cristo. Esta terceira parte expõe, em seu prólogo, o critério que deve ser seguido numa catequese da vida em Cristo[115].
Por mais que seja enfatizada a correlação entre a ação moral e a graça, nesta parte começa mencionando a vocação do homem, de sua condição de imagem de Deus[116]. Com isso, o Catecismo retoma o início da Constituição Pastoral do Concílio Vaticano II Gaudium Spes. O caminho do homem em direção a sua altíssima vocação, a eterna bem-aventurança, está predefinido no fato de ser ele imagem de Deus, e é determinado a partir desse objetivo.
            A estrutura da Moral Fundamental segue a grande intuição da Summa de Santo Tomás de Aquino.  Apresenta-se primeiramente a doutrina sobre o fim último, a felicidade[117] e depois a doutrina sobre os meios que Deus proporciona ao homem para alcançar esse fim: a razão e o livre-arbítrio, através dos quais o homem determina seu caminho, a lei e a graça com as quais Deus o auxilia nesse caminho.
            Chamado à felicidade, o homem pode movimentar-se livre e responsavelmente em direção a esse fim último. A liberdade é o pré-requisito para um comportamento verdadeiramente humano e moral[118]. Em seguida fala-se a respeito do que caracteriza uma ação moral: seu objeto, sua intenção e suas circunstâncias[119]. Notável é a doutrina sobre as paixões, sem as quais faltam os impulsos para a ação moral[120], mas que também, quando não integradas, destroem o senso moral.
            A consciência julga a moralidade das ações. A obrigação de seguir a consciência é tão certa quanto à obrigação de examinar continuamente essa consciência, regulando suas convicções por critérios objetivos de moralidade[121].
            Do comportamento moral nascem disposições para o correto agir moral. Essas disposições para o bem são as virtudes. Elas estruturam o homem e conferem-lhe um caráter verdadeiramente humano[122]. As virtudes naturais necessitam de uma reformulação profunda e total através das disposições que só Deus pode conferir por meio da graça, e que relacionam nosso agir diretamente a Deus: fé, esperança e caridade[123].
            Pecado é o agir falho, que deixa de atingir o devido objetivo do ser humano. Sua realidade só pode ser plenamente percebida à luz da graça. Somente o Evangelho revela toda a verdade do pecado[124]. Porque o pecado é uma violação contra a razão, a verdade e a reta consciência[125] é uma afronta a Deus, que criou o homem para si[126]. A diferença entre o pecado mortal e o pecado venial é determinada pelo critério do amor[127]. Temos depois a exposição sobre a difusão do pecado até as suas consequências sociais, que finalizam o capítulo[128].
A dimensão social, comunitária do homem pertence inseparavelmente à moralidade. Em estreita dependência da Gaudium et Spes e da Doutrina Social da Igreja, trata-se da pessoa e da sociedade, da autoridade e do bem comum, da responsabilidade e da colaboração, da justiça social e da solidariedade[129]. Os desdobramentos concretos encontram-se na Seção II, sobre os Dez Mandamentos, principalmente nos artigos sobre o quarto, quinto e sétimo mandamentos. Assim, os diversos aspectos da Doutrina Social da Igreja são inseridos organicamente no conjunto da moralidade e fica patente a dimensão social e comunitária de toda a ação humana.
            O capítulo sobre a Lei e a Graça encerra a “Moral Fundamental”: “Chamado à Felicidade, mas ferido pelo pecado, o homem tem necessidade da salvação de Deus. O Socorro divino lhe é dado em Cristo na Lei que o dirige e na graça que o sustenta” [130]. A doutrina sobre a “lei moral” apresenta os três níveis da lei: a lei natural, a lei da antiga e a lei da nova aliança. A doutrina sobre a nova lei é, sem dúvida, o cerne da doutrina moral cristã[131]: É “uma lei do amor, da graça, da liberdade” [132].             O artigo da graça inicia-se com a doutrina da justificação, de grande importância do ponto de vista ecumênico. Ela é totalmente orientada por São Paulo, principalmente na Carta aos Romanos. O tema da graça perpassa todo o Catecismo. Aqui, ele é tratado de forma sistemática e sucinta[133]. A difícil, mas insubstituível, doutrina sobre o mérito[134] mostra como, através da graça e da justificação, possibilita-se ao querer e ao agir humano uma verdadeira cooperação com Deus. O parágrafo termina com a palavra de Santa Teresinha do Menino Jesus que, como ninguém, falando de coração, dá uma resposta à crítica dos reformadores contra a doutrina do mérito. Fiel ao Vaticano II, a doutrina da graça e do mérito leva à referência ao chamamento de todos para a santidade[135]: “Santidade” é a perfeita cooperação entre o socorro da graça divina e a liberdade humana. Assim, a “moral fundamental” culmina na consideração dessa realização máxima do homem, criado livre e à imagem de Deus, que consiste na comunhão salvífica e santificante com Deus: a santidade. Seu lugar é a Igreja, o “sacramento” dessa comunhão (2016; 2030).     O artigo sobre a Igreja, enquanto “Mãe e Mestra”, faz a passagem para o Decálogo. Vale a pena examinar esse trecho de forma mais pormenorizada, para inserir o magistério moral da Igreja no conjunto da realidade eclesiástica, principalmente da vida litúrgica[136].
            O prólogo da segunda seção apresenta os Dez Mandamentos segundo a Escritura e a Tradição. Salientam-se o caráter libertador do Decálogo[137], sua presença na pregação de Jesus[138], seu lugar na catequese da Igreja[139]. Não deve haver qualquer dúvida quanto à primazia da misericórdia[140].
            Os Dez Mandamentos são apresentados como desdobramentos do duplo mandamento do amor[141]. Ao tratar de cada mandamento sempre se faz referência primeiramente aos aspectos positivos, às virtudes e às condutas correspondentes. Contra esse pano de fundo, tonam-se patentes as condutas erradas que devem ser apontadas como falhas e pecados.  A relação dos pecados referentes a cada um dos mandamentos pode parecer, à primeira vista, muito severa. É preciso distinguir entre imputabilidade objetiva e imputabilidade subjetiva de uma ação[142]. A ignorância inculpável pode diminuir a responsabilidade de um pecado objetivamente grave, ou até “aboli-la definitivamente” [143]. Também na vida moral vale a “lei do crescimento” [144], do amadurecimento da personalidade e, consequentemente, da responsabilidade. Tal amadurecimento exige a ajuda da sociedade, formação e educação adequada[145] e a ajuda da graça[146].
            O artigo sobre o primeiro mandamento trata das “virtudes teologais” [147], antes de tratar das formas errôneas de atitude religiosa (superstição, idolatria, magia, ateísmo, agnosticismo). Dá-se importância especial à obrigação de a sociedade cultuar a Deus e ao direito à liberdade religiosa[148]. A santificação do nome de Deus e a santificação do Dia do Senhor são ressaltadas nos artigos sobre o segundo e o terceiro mandamento.  No artigo sobre o quarto mandamento, fala-se da família no plano de Deus. O quarto mandamento abrange, num sentido mais amplo, a relação com as diversas formas de autoridade, até mesmo a relação entre Estado e Igreja[149]. Positivamente, trata-se de uma postura de respeito que devemos primeiramente a nossos pais[150], mas também às autoridades[151]. Nesse sentido, faz-se referência, por exemplo, ao direito (e às vezes dever) que o cidadão tem de apresentar suas justas reclamações contra o que lhe parece prejudicial à dignidade das pessoas e ao bem da comunidade[152], e ao dever que as nações mais desenvolvidas têm de acolher os estrangeiros “na medida do possível” [153]. Fala-se também dos deveres dos pais[154] e das autoridades públicas[155]. O artigo sobre o quinto mandamento discorre sobre o respeito pela vida humana. Respeito que pode significar também a proteção da vida mediante as diversas formas de legítima defesa[156]. Todas as formas de homicídio são proscritas pelo quinto mandamento[157]. O respeito à dignidade humana exige respeito tanto pela alma como pelo corpo[158]. O esforço pela paz, enquanto condição para o bem comum[159] faz parte do quinto mandamento[160]. No sexto mandamento, aponta-se primeiramente o chamamento de todos à castidade enquanto bem-sucedida integração da sexualidade na pessoa[161]. Por isso as faltas contra o sexto mandamento são tratadas como ofensas à castidade[162]. O sexto mandamento significa positivamente um sim ao amor e à fidelidade conjugal[163], e condena tudo o que ofende a dignidade do matrimônio[164]. O sétimo mandamento fundamenta-se na virtude da justiça[165] e diz respeito ao trato correto dos bens terrenos. Fala-se do roubo[166], mas também da preservação da criação, do trato com os animais[167], da justiça econômica e social, da solidariedade entre as nações e do amor concreto pelos pobres[168]. O oitavo mandamento exige a virtude da veracidade[169]. Requer o testemunho em favor da verdade e do Evangelho[170]. Merecem atenção as referências a uma ética das comunicações[171] e aos temas da verdade, da beleza e da arte sacra[172]. A exposição sobre o nono e décimo mandamentos estabelece uma ponte dos Dez Mandamentos e as Bem-aventuranças: pureza e pobreza de coração mostram-se como as duas atitudes positivas que correspondem a esses mandamentos[173].
            A terceira parte termina como iniciou: como uma referência à meta última da vida humana: a eterna felicidade. Por esse caminho da perfeição, o Espírito e a Esposa chamam aquele que os ouve à comunhão perfeita com Deus [174].
Oração na Vida Cristã
            A parte IV é proposta como introdução prática à vida de oração, sem perder de vista o enfoque doutrinal adequado que há de supor. Porque o mistério da fé exige que os cristãos creiam, celebrem e vivam relação vivente e pessoal com Deus vivo e verdadeiro. Esta relação é a oração [175]. Tal objetivo alcança-se, antes de tudo, mediante a introdução na revelação trinitária da oração, porém também recorrendo à experiência orante dos santos e da tradição espiritual, tanto do Oriente como do Ocidente. O pai-nosso é meditato como “resumo de todo o evangelho” [176]. E a oração a Maria é apresentada, em perspectiva profundamente ecumênica, como comunhão[177] com aquela que é pura transparência de Cristo, a que “nos mostra o caminho” [178].
            A Seção I da parte IV trata da oração em geral, iniciando-se com uma espécie de definição da oração[179]. A oração é primeiramente dom de Deus. “Deus tem sede que tenhamos sede dele” [180]. O dom da oração corresponde ao anseio do homem. Orar é um ato humano; é a expressão daquela procura por Deus que o Criador colocou no coração do homem e da qual presta testemunho a busca de todas as religiões[181].
            “A revelação da oração” começa com a criação do homem por Deus. O homem é ser orante desde sua origem[182]. A oração incita o homem a se aprofundar cada vez mais em sua fidelidade a Deus. Abraão, Moisés, Davi, os profetas são etapas desse crescimento[183]. Os salmos constituem a forma sublime da oração no Antigo Testamento[184] constitui o centro misterioso de atração para a oração da Igreja[185]. Jesus ensina a orar, na medida em que ele próprio ora[186]. Enquanto verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, ele não somente ensina a orar, mas também acolhe a oração, investido de plenos poderes[187], A oração da Igreja desabrocha sob a ação do Espírito Santo[188] como bênção e adoração[189], como súplica e intercessão[190], como ação de graças e louvor[191]. A “Eucaristia contém e exprime todas as formas de oração” [192].
            Um capítulo especial é dedicado à tradição, à transmissão viva, e consequentemente ao aprendizado da oração[193]. Essas “fontes da oração” são a Palavra de Deus, sobretudo as três “virtudes teologais”: fé, esperança e caridade. O amor é a fonte mais profunda da oração[194]. O amor sabe viver no “hoje” de Deus[195]. Para aprender a oração precisamos não apenas de mestres da oração, mas também de um ambiente favorável[196].
            Fiel à visão trinitária do Catecismo, o “caminho da oração” é apresentado como oração no e ao Espírito Santo, em e a Jesus, o caminho para o Pai[197].  A oração em comunhão com Maria tem um lugar de destaque na oração da Igreja[198]. Não poderia faltar no Catecismo um breve comentário sobre a Ave-Maria[199].
            Tem um significado todo especial a exposição sobre as três formas de expressão da vida de oração: a oração vocal, a meditação e a oração mental, sendo que esta última pode também ser chamada de oração mística ou contemplativa[200], O trecho sobre a oração mental parte da conhecida definição de Santa Teresa D´Ávila, segundo a qual “a oração mental é apenas um comércio íntimo de amizade em que conversamos muitas vezes a sós com esse Deus por quem nos sabemos amados” [201]. A leitura reflexiva desse trecho é um convite para se procurar, com o auxílio do próprio Deus, o caminho da oração interior.
            Há um trecho especial dedicado ao combate da oração. Quem ora, conhece essa batalha: com a dispersão, a aridez, o tédio, a falta de confiança, a luta pela perseverança e pela fidelidade; sabe também como é imprescindível pedir a graça da perseverança final[202].
            A Seção II é um comentário sobre o Pai-nosso, a Oração do Senhor, em grande parte baseado na riqueza dos comentários feitos pelos Padres da Igreja. Nisso podemos ver mais uma vez, de forma bastante clara, que o Catecismo também é um livro para a meditação.
            Diz o Catecismo que o Pai Nosso é a oração da Igreja e que este dom indissociável das palavras do Senhor e do Espírito Santo que lhes dá vida no coração dos crentes, a Igreja o recebeu e viveu desde as origens.  Os três primeiros pedidos têm por objeto a Glória do Pai: a santificação do Nome, a vinda do Reino e o cumprimento da Vontade divina. Os quatro seguintes apresentam-lhe nossos desejos: esses pedidos concernem à nossa vida, para nutri-la ou para curá-la do pecado, e se relacionam com nosso combate visando à vitória do Bem sobre o Mal[203]. Pelo “Amém” exprimimos nosso “Fiat” em relação aos sete pedidos: “Que assim seja” [204]

            A elaboração deste trabalho permitiu-me antever que a aplicação do Catecismo da Igreja Católica é muito útil na questão da transmissão, dos métodos e da tradução, mas nada se compara a sua função mais nobre que é oferecer uma catequese para os catequistas, revelando-se um livro de fé fundamental para os transmissores da fé e uma valiosa ajuda para todos aqueles que querem conhecer melhor sua fé.
            Para concluir este trabalho vale destacar a declaração de Bento XVI sobre a singeleza e importância do Catecismo para a fé católica: “foi apresentada a um bispo já idoso, muito respeitado por sua erudição, uma das últimas redações do Catecismo antes da publicação, para que fosse por ele avaliada. Ele devolveu o manuscrito com uma expressão de alegria. Sim, disse ele, nisso é que minha mãe acreditava. Estava feliz porque a fé, que ele aprendera quando criança e que o conduzira ao longo de sua vida, estava ali expressa em palavras, em toda a sua riqueza e beleza, mas também em toda a sua simplicidade e indestrutível identidade. Essa é a fé de minha mãe: a fé de nossa mãe, da Igreja. Para esta fé é que o Catecismo nos convida”.
                                                       Referências
A BÍBLIA DE JERUSALÉM. Nova edição, revista e ampliada. 6ª. Reimpressão. São Paulo: Paulus, 2010.
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA: Edição Típica Vaticana. São Paulo: Loyola, 2000.
HASTENTEUFEL, Dom Zeno. O Catecismo ao Alcance de Todos: Uma síntese do catecismo da Igreja Católica. Brasília, Edições CNBB, 2013.
NAVARRO, V. M. DICIONÁRIO DE CATEQUÉTICA. São Paulo: Paulus, 2004.
RATZINGER, Joseph – Breve Introdução ao Catecismo da Igreja Católica. 1 Ed. Aparecida, SP: Santuário, 1997.
SANTA SÉ. Symbolum – Percursos e aprofundamentos sobre o Catecismo da Igreja Católica. Brasília: Edições CNBB, 2014.



[1] CIC 194
[2] CIC 195
[3] CIC 191
[4] CIC 234
[5] CIC 427
[6] CIC 515
[7] CIC 1084-1109
[8] CIC 1116
[9] CIC 1694-1698
[10] CIC 2565
[11] CIC 282
[12] CIC 280
[13] CIC 290
[14] CIC 638
[15] CIC 750
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[17] CIC 199-421
[18] CIC 222
[19] CIC 232
[20] CIC 236, 258
[21] CIC 282-289
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[24] CIC 302
[25] CIC 303; 305
[26] CIC 307
[27] CIC 309
[28] CIC 313
[29] CIC 337-349
[30] CIC 328-336
[31] CIC 355-379
[32] CIC 362-368
[33] CIC 388
[34] CIC 389
[35] CIC 391
[36] CIC 422-682
[37] CIC 487-507
[38] CIC 512-570
[39] CIC 515
[40] CIC 574-591
[41] CIC 599-618
[42] CIC 673-674; 1096
[43] CIC 595-617
[44] CIC 638
[45] CIC 694-701
[46] CIC 689-690
[47] CIC 751-776
[48] CIC 781-801
[49] CIC 817-865
[50] CIC 871 e 933.
[51] CIC 946-959
[52] CIC 988-1060
[53] CIC 1064
[54] CIC 1324
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[56] CIC 1116
[57] CIC 1077-1083
[58] CIC 1359-1361
[59] CIC 1084-1090
[60] CIC 1091-1109
[61] CIC 1103
[62] CIC 1105-1107
[63] CIC 1100-1102
[64] CIC  1113
[65] CIC 1136-1144
[66] CIC 1145-1152
[67] CIC 1153-1162
[68] CIC 1163-1178
[69] CIC 1179-1186
[70] CIC 2500-2502
[71] CIC 1204-1206
[72] CIC 1214-1216
[73] CIC 1113-1116; 1210
[74] CIC 1286-1292
[75] CIC 1234-1245
[76] CIC 1246-1274
[77] CIC 1250-1252
[78] CIC 1261
[79] CIC 1262-1266
[80] CIC 1290-1292
[81] CIC 1308
[82] CIC 1245-1355
[83] CIC 1362-1372
[84] CIC 1380
[85] CIC 1391-1397
[86] CIC 1398-1401
[87] CIC 1130
[88] CIC 1402-1405
[89] CIC 1458; 1470
[90] CIC 1432, 1439, 1456, 1465
[91] CIC 1474-1477
[92] CIC 1506-1510; 1512
[93] CIC 1521
[94] CIC 1522
[95] CIC 1523-1525
[96] CIC 874-899
[97] CIC 1544-1547
[98] CIC 1548
[99] CIC 1585-1588
[100] CIC 1602-1617
[101] CIC 1618-1620
[102] CIC 1620
[103] CIC 1642
[104] CIC 1658
[105] CIC 1667-1670
[106] CIC 1674-1676
[107] CIC 1690
[108] CIC 27-30; 1718-1719.
[109] CIC 1972
[110] CIC 2062
[111] CIC 2053
[112] CIC 2055
[113] CIC 1995
[114] CIC 1693-1695
[115] CIC 1697-1698
[116] CIC 1701-1709
[117] CIC 1716-1724
[118] CIC 1730-1742
[119] CIC 1749-1756
[120] CIC 1762-1770
[121] CIC 1776-1794
[122] CIC 1803-1811
[123] CIC 1812-1832
[124] CIC 1846-1848
[125] CIC 1849
[126] CIC 1850
[127] CIC 1845-1856
[128] CIC 1865-1869
[129] CIC 1877-1942
[130] CIC 1949
[131] CIC 1965-1974
[132] CIC 1985
[133] CIC 1996-2005
[134] CIC 2006-2011
[135] CIC 2012-2016
[136] CIC 2031;2041
[137] CIC 2057
[138] CIC 1052-1055
[139] CIC 2064-2068
[140] CIC 2074
[141] CIC 1067, 2083, 2197
[142] CIC 1735
[143] CIC 1860
[144] CIC 2343
[145] CIC 2344
[146] CIC 2345
[147] CIC 2095-2109
[148] CIC 2104-2109
[149] CIC 2244-2246
[150] CIC 2214-2220
[151] CIC 2238-2243
[152] CIC 2238
[153] CIC 2241
[154] CIC 2221-2231
[155] CIC 2235-2237
[156] CIC 2263-2267
[157] CIC 2268-2269
[158] CIC 2284-2301
[159] CIC 1909
[160] CIC 2302-2317
[161] CIC 2337-2347
[162] CIC 2351-2359
[163] CIC 2360-2379
[164] CIC 2380-2391
[165] CIC 2407
[166] CIC 2408
[167] CIC 2415-2418
[168] CIC 2443-2449
[169] CIC 2468
[170] CIC 2471-2474
[171] CIC 2493-2499
[172] CIC 2500-2502
[173] CIC 2518; 2546
[174] CIC 2550
[175] CIC 2558
[176] CIC 2761
[177] CIC 2673
[178] CIC 2674
[179] CIC 2559-2565
[180] CIC 2560
[181] CIC 2566
[182] CIC 2569
[183] CIC 2570-2584
[184] CIC 2585-2589
[185] CIC 2598-2606
[186] CIC 2607-2615
[187] CIC 2616
[188] CIC 2623-2625
[189] CIC 2626-2628
[190] CIC 2629-2636
[191] CIC 2637-2643
[192] CIC 2643
[193] CIC 2650-2651
[194] CIC 2658
[195] CIC 2659-2660
[196] CIC 2683-2691
[197] CIC 2664-2672
[198] CIC 2617-2619; 2673-2675
[199] CIC 2676-2679
[200] CIC 2799-2719
[201] CIC 2709
[202] CIC 2725-2745
[203] CIC 2857
[204] CIC 2865

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