Nossa origem e
nosso destino: Deus
Gradualmente
as instituições financeiras e econômicas acabaram se tornando as instituições supremas.
A produção econômica tornou-se, em nossa sociedade atual, a preocupação central
e o crescimento econômico passou a ser a principal medida pela qual cada nação –
e a humanidade como um todo – julga o seu progresso.
Em poucos
séculos o ser humano desviou o foco de interesse do seu mundo interior para o
mundo exterior. É um grande paradoxo que os chamados pecados capitais
praticamente se transformaram em virtudes: a cobiça, também conhecida por
inveja, se transvestiu de ambição; e vários outros comportamentos modernos servem
para encobrir a gula, a luxúria, a soberba, a avareza, a ira. Parece que
somente a preguiça não se coaduna com o falso sucesso proporcionado pelas
frágeis forças motrizes do mercado: ambição, fortuna, competição, concorrência,
vaidade, posse e poder.
Por mais
benigna e positiva que seja a nossa visão acerca das instituições humanas, ou
por mais brilhantes que pudéssemos considerar suas realizações, temos que ao desprezarem
a ação de Deus em cada uma dessas realizações, tornam-se profundamente
violentas em seu poder de autodestruição e uma ameaça permanente para os
sistemas básicos de sustentação da vida em nosso planeta.
Nessa
caminhada, o ser humano é levado a um estado de confusão permanente acerca do
que vale a pena fazer e busca alternativas para preencher o vazio. Criou conceitos
e indicadores para medir o bem-estar social, como se mede a febre de um enfermo.
Apelidou-o de “PIB” (Produto Interno Bruto) ou “PNB” (Produto Nacional Bruto). Se for muito positivo é ótimo e se for
negativo: “salve-se quem puder”. O Discurso é privatizar o lucro e socializar o
prejuízo.
Assim, não
estamos preocupados com a Felicidade Interna Bruta e a trocamos por uma cultura
de morte, que leva ao desequilíbrio social e à robotização do ser humano
transformado em mais uma peça da engrenagem, que pode ser substituída em
qualquer tempo. Não resta dúvida que manter a riqueza nas mãos de muito poucos
é a razão maior da situação caótica do mundo e das relações humanas de hoje. Os
problemas se acumulam permeados de ações dolosas e fraudulentas envolvendo uma
gama variada de crimes que se relacionam diretamente com toda essa confusão.
O econômico
muitas vezes é o parâmetro único. É muito triste constatar que, na sua
insensatez, o ser humano busca mergulhar no mais profundo materialismo aquisitivo
e aperta o botão de sua própria desintegração.
Há tempo e
necessidade para mudança.
Neste ponto
temos que abrir a porta para a atuação da Doutrina Social da Igreja que nos
trás a vivência e experiência cristã de séculos de atuação voltada para a
essência e dignidade do ser humano. Não há razão alguma para acreditarmos que a
racionalidade econômica nos conduzirá a decisões sábias em termos de levar o
ser humano a realizar sua vocação espiritual, afetiva e ecológica.
Os pseudos
valores que dominam a sociedade apenas parecem valores por causa dos enganos e
confusões acerca do que é meio e o que é fim e se fazem acompanhar de premissas
falsas tais como: os fins justificam os meios. Podemos afirmar que o verdadeiro
destino do ser humano está situado em Deus e, por isso, é preciso que o ser
humano transcenda e liberte-se da obscuridade do poder que delega a uma visão
de mundo meramente materialista. Não temos dúvida de que o materialismo é a
marca registrada da chamada sociedade “avançada”, enquanto ao mundo religioso/espiritual
é reservada a alcunha de “retrógrado”.
Podemos
observar à luz da Doutrina Social da Igreja o materialismo é insensível aos
valores mais caros ao ser humano e que simplesmente deixa de considerar o
caráter transcendental e espiritual das pessoas. A existência e o bem-estar de
cada ser humano não podem ser considerados barreiras para a ciência, eis que a
criatura é a própria razão desta mesma ciência e deve ser por ela auxiliado na
sua caminhada para o encontro com o seu fim último: por Cristo, com Cristo e em
Cristo.
Assim, o ser
humano estará liberto de todos os domínios e formas de escravidão, podendo buscar
sólido apoio na doutrina cristã, que é o suporte das ações da Igreja Católica,
cujo empenho está na orientação e na remoção das formas estruturais do pecado e
no fortalecimento da autonomia do ser humano presentes a sua dignidade e a sua liberdade de filho adotivo de Deus feito
à sua imagem e semelhança.
Não podemos nos
deixar levar simplesmente pelas estruturas
e conceitos equivocados de progresso que nos faz perder o contato com a verdadeira
essência de “ser” e nos faz escravos do “ter”. É preciso vencer os preconceitos
e entraves na busca de maneiras novas de viver – revestir-nos de um “coração
novo” – e de fortalecer o “ser” e que nos leve ao “ter” compaixão e amor pelo
próximo e que nos faça participantes bem aventurados do progresso da consciência
humana rumo ao destino transcendente e comum a todos nós: Deus.
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