domingo, 25 de maio de 2014

As Fontes sobre Jesus

Fontes de Informação sobre Jesus

           Jesus não nos deixou nada escrito de próprio punho e podemos conhecê-lo somente da palavra das testemunhas próximas a ele no tempo e especialmente dignas de confiança.

Do mundo romano

           Os três mais importantes testemunhos do mundo latino que remontam aos primeiros vinte anos do século II, e dizem respeito aos cristãos, ao novo culto, ao fundador foram escritos por Tácito, Suetônio e Plínio.

·         Tácito: Falou do incêndio de Roma e acusou Nero de ter culpado injustamente os “crestãos” (por volta dos anos 120). Menciona que o fundador, conhecido não com seu nome Jesus, mas com o título “Cristo” (=ungido). De fonte própria ou, mais provavelmente de informação cristã, direta ou indireta, conheceu a condenação de Jesus à morte “Sob o império de Tibério, foi supliciado pelo procurador Pôncio Pilatos”
·         Suetônio: O envolvimento dos cristãos no incêndio de Roma é confirmado por Suetônio e, em publicação do ano 121, ao falar da expulsão dos judeus de Roma menciona “Cresto”. Fala dele como se tivesse sido ativo pessoal fomentador das desordens. Um conhecimento impreciso, porém válido.
·         Plínio: Provavelmente no ano 113, manteve um rico intercâmbio de cartas com o imperador Trajano, chegando a solicitar diretivas sobre o modo de comportar-se a respeito dos cristãos, denunciados no sue tribunal. O testemunho de Plínio fez-nos conhecer o processo de divinização de Jesus de Nazaré efetuado pelo cristianismo primitivo.
·         Outros autores: Marco Cornélio Frontão (100-160) expõe ao ridículo o fato de que “um homem punido por seu delito com a pena suprema e o lenho de uma cruz constituem a lúgubre substância da sua liturgia”, dos cristãos, “aqueles patifes sem lei”. Luciano de Samósata (120-190) denuncia a crendice de tantos cristãos e calunia o fundador.

Testemunhos judaicos

O mais importante testemunho é Flávio Josefo. Escreveu por volta do ano 93 e testemunha sobre Tiago, irmão de Jesus, condenado ilegalmente à morte em 62 pelo sumo sacerdote Anamo (filho do Anás dos evangelhos). Escreveu ainda que por aquele tempo “viveu Jesus, homem sábio, se na verdade se pode chamá-lo de homem; de fato, ele realizava obras extraordinárias, doutrinava os homens que com alegria acolhem a verdade, e convenceu muitos judeus e gregos. Ele era o Cristo.” E acrescentou que Cristo ” apareceu no terceiro dia, novamente vivo”. As três expressões são artigos da confissão cristã: divindade, messianidade, ressurreição de Jesus profeticamente predita.
Da literatura rabínica é importante a passagem de Sanherin 43ª do Talmude babilônico a história de um condenado identificado mais tarde com o nome e título: “Jesus, o nazoreu”.
Fontes Cristãs

Se prescindirmos dos evangelhos, canônicos e apócrifos, sabemos muito pouco de Jesus pelos outros escritos do cristianismo das origens.

·         As cartas Autênticas de Paulo: As cartas de Paulo são os escritos cristãos mais antigos. O importante é que as fontes cristãs não procuram atestar materialmente o que Jesus disse e fez, mas oferecer dele uma própria “leitura” ou compreensão.
·         Os quatro evangelhos canônicos: João mostra um Jesus terreno que aparece ali transfigurado em ser divino e o escrito se mostra como expressão de uma cristologia concentrada na Palavra eterna de Deus. No entanto, não abandona totalmente o campo histórico: a Palavra divina encarnada é sempre o Nazareno. Marcos oferece a imagem de Jesus filho de Deus não glorioso. Mas Deus o exaltou na ressurreição e ele virá no fim, desta vez, sim, de modo glorioso. Mateus trata Jesus como competente mestre de vida, em palavras e obras, Intérprete divinamente autorizado da lei mosaica e Lucas propõe a imagem de Jesus salvador do mundo. Fica, contudo, sempre a ligação geral com o Jesus Terreno: seu retrato teológico é nutrido substancialmente com material variado transmitido em um processo vital de memória. Fusco resume assim o sentido dos evangelhos: “Importância dos acontecimentos narrados, insuficiência das tentativas precedentes, acurada pesquisa, ordenada exposição, plena confiabilidade”.
·         Além dos Evangelhos: Outro resultado da crítica histórica do século XX, confirmado no século passado, é a solução do problema sinótico da fonte dupla, adotada pela maioria dos estudiosos em preferência da dependência entre si dos evangelistas. Os autores da fonte Q inseriram material tradicional, por eles estruturado, dentro de um preciso quadro de interpretação teológica. Isso inclui igualmente a fonte da qual Lucas extraiu o grosso de seu material exclusivo, não derivado nem de Marcos nem de Q (uma cinquenta perícopes).
·         Os Outros “Evangelhos”: Dos apócrifos (evangelhos de Tomé, de Pedro, de Egerton 2, Secreto de Marcos) o de Tomé tem maior importância, eis que conservou tradições que com toda a probabilidade são as mais autônomas e quase todos os ditos de Jesus são introduzidos com: “Jesus disse”.
·         Ditos esparsos de Jesus: os agrapha: Fora dos evangelhos canônicos, encontram-se muitas outras palavras do Jesus terreno atestadas em diversos escritos. No entanto, fora dos evangelhos canônicos poucas são as novas palavras de Jesus com atestado de certa autenticidade.

Leitura Crítica

  A dificuldade não está no número das fontes cristãs, mas na sua natureza. São testemunhos da fé dos crentes das primeiras gerações, interessados não em reconstruir minuciosamente o passado, mas em dar sentido ao presente, referindo-se, porém sempre àquele passado vivido como carregado de significado. Portanto: in dúbio pro traditio, a menos que se demonstre sua inconfiabilidade dos casos específicos e neste caso: o onus probandi cabe a quem intenta afirmar a autenticidade jesuana deste ou daquele testemunho. Vários são os critérios, a saber:

·         Critério metodológico da diversidade ou dessemelhança:  Procura contrapor o Nazareno ao Cristo do dogma das Igrejas, fazendo valer, na prática o que na new quest dos anos 1950-70 tornou-se imperante. Evidencia a originalidade de Jesus com relação ao judaísmo, destacando-o de sua matriz cultural para fazer dele o fundador de uma nova “religião”, aquela da graça em contraste com a relegião da lei. “Uma estrita aplicação desse método produz um Jesus que não foi um judeu e que não teve nenhum seguidor”, segundo Charlesworth.
·         Critério do constrangimento: aquele da Igreja nascente no conservar e transmitir alguns aspectos da vida e do ensinamento de Jesus, que por isso não podem remontar a ele. Mas é análogo ao critério da diversidade, mesmo que seja visto somente de uma ótica psicológica.
·         Critério da múltipla atestação (Crossan) de um dado presente em mais fontes independentes.  Considera o testemunho tanto mais válido quanto mais numerosas são suas fontes independentes.
·         Critério da análise da linguagem e do estilo dos ditos de Jesus, das nossas fontes à descoberta de aramaísmos e estilemas semíticos.
·         Critério tradicional da coerência, consistente em atribuir a Jesus um dado congruente em relação ao quanto já dele conhecemos, de fato está subordinado ao critério da diversidade.
·         Critério da coerência histórica (Sanders) põe na sua base a pesquisa fundamentada sobre alguns fatos certos e busca apresentar uma imagem de Jesus coerente com tais certezas, no intuito de ser “um sério esforço de explicar historicamente alguns dos principais problemas sobre Jesus, em particular por que ele atraiu a atenção sobre si, por que foi condenado à morte, por que foi seguidamente divinizado”.
·         Critério da razão suficiente (Fusco com outros) que se aplica mais aos fatos que aos ditos de Jesus e se baseia sobre dados certos estabelecidos por outra via.
·         Critério plausibilidade histórica (Theissen e Winter) que objetiva demonstrar “a coerência de uma imagem geral de Jesus no contexto do judaísmo e do cristianismo das origens”.

  Na pesquisa histórica sobre Jesus, a via mestra deve ser marcada pela aplicação convergente dos diversos critérios indicados. Desta forma o autor considera promissor o método de Sanders de partir não dos ditos de Jesus mas de fatos certos. O Jesus histórico não pode pretender sobrepor-se AP Jesus terreno que viver então: é uma construção nossa que, feita com honestidade científica, ciente das possibilidades mas também dos limites do método histórico, ambiciona aproximar-se de qualquer modo dele.


Bibliografia:

BARBAGLIO, Giuseppe. Jesus, Hebreu da Galileia: Pesquisa Histórica. SP: Paulinas, 2012.

2 comentários:

  1. Respostas
    1. Oi Paulo.
      Fico muito feliz por estarmos juntos neste caminho de pesquisa e registro da história. Vou visitar e ler o que você escreveu.
      Abraço
      Cesar

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