Escatologia
e o seguimento de Jesus na visão de São Lucas
No presente trabalho busquei trabalhar os aspectos relacionados à escatologia e ao seguimento de Jesus, presentes nos
capítulos 20 a 24 do evangelho de Lucas, enaltecendo as questões ligadas ao
comportamento dos discípulos de Jesus no tocante a sacrificar a segurança
pessoal, os deveres filiais e, até mesmo, os sentimentos e vínculos familiares em
um comprometimento radical de suas vidas.
Foi deveras apaixonante. Espero que seja para você também. Boa Leitura! Não se esqueçam de me enviar seus comentários.
Aspectos
do Novo Testamento
Para o exame
destas e questões e uma melhor compreensão, dividimos o texto em três partes, a
saber:
a) Ministério de
Jesus em Jerusalém[1]: Inicia-se com
a entrada majestosa de Jesus na cidade na qual consumará o seu “destino”; marca
o começo do seu ministério no templo de Jerusalém, antes dos acontecimentos que
porão fim à sua vida terrena.
b) Relato da Paixão[2]: Apresenta de
forma detalhada os relatos sobre o processo e condenação de Jesus à pena
capital. Em dois capítulos, aparece o clímax do “êxodo” de Jesus, no qual
começa sai “ascensão” ao Pai.
c) Relatos da
Ressurreição[3]: Mostram a
exaltação de Jesus, o qual experimenta sua própria glorificação, envia
oficialmente seus discípulos como testemunhas de sua pessoa e do seu projeto, e
é elevado ao céu.
Fica evidente
que as pessoas estavam cansadas, medrosas, desanimadas e perdidas por causa da
situação na qual viviam[4].
Os seguidores de Jesus formam uma minoria perdida no meio de um imenso império,
nas periferias das grandes cidades. Uns começam a abandonar a comunidade;
outros duvidam que Jesus seja Salvador e têm dificuldade de acreditar que seja
possível viver em fraternidade e resistir ao império com suas seduções
opressoras.
O evangelho de
Lucas é o único dos quatro evangelhos canônicos que começa e termina sua ação em
Jerusalém, precisamente no templo. Imediatamente depois do prólogo geral à obra
de Lucas[5], a
primeira cena se desenvolve “no santuário do Senhor”[6].
Depois da ressurreição, os onze voltam para o templo em Jerusalém[7].
Lucas nos
convida a não ter medo e andar com Jesus, que agora chega a Jerusalém, a cidade
para onde caminhava. Chegando perto, Jesus continua muito firme e decidido:
Caminha à frente da turma que vai com ele[8] .
Em Jerusalém,
Jesus encontra um luxo que atrapalha e será destruído[9];
encontra uma estrutura que explora os pobres[10].
Mas, por outro lado, encontra sinais de esperança na atitude de uma viúva
indigente que coloca no Tesouro do Templo duas pequenas moedas. Outros, ricos,
depositam aí grandes quantias. Mas estes dão daquilo que têm sobrando. A viúva, ao contrário, dá tudo o que tem para
viver[11].
Jesus vem
encontrando opositores desde o início de sua pregação. Mas agora, em Jerusalém,
encontra-os reunidos, articulados, em maior número e dispostos a agir[12].
Assim, desde sua entrada em Jerusalém, tudo indica que Jesus não vai
sobreviver, pois se depara com um poder que devora os pobres e também mata os
que se solidarizam com eles e cobram justiça. Foi sempre assim e não será diferente
desta vez[13].
Os seguidores de
Jesus não devem esperar outra sorte. Como o próprio Jesus nos ensina: “Filhas
de Jerusalém, não choreis por mim; chorai, antes, por vós mesmas e por vossos
filhos! Pois, eis que virão dias em que se dirá: Felizes as estéreis, as
entranhas que não conceberam e os seios que não amamentaram! Então começaram a
dizer às montanhas: Caí sobre nós! e às colinas: Cobri-nos! Por que se fazem
assim com o lenho verde, o que acontecerá com o seco?”[14] .
Ao iniciar seu
ministério em Jerusalém, Jesus entra montado em um jumentinho, como messias
humilde e pacífico, festejado e seguido pelos pobres[15].
Isso mexe com a opinião pública e apavora os poderosos. Mas Jesus vai mais
longe. Entra no Templo e expulsa os vendedores. Ele não espera que os
adversários o provoquem. Ele toma a iniciativa e conta a parábola que acusa
abertamente os poderosos de assassinar os profetas e roubar do próprio Deus o
seu povo. Em vez de entregar frutos de justiça e de vida, apropriam-se do povo
e da religião e colocam tudo a seu próprio serviço[16].
Jesus pode agir porque o povo está com ele e do lado dele. Durante o dia todo
Jesus está protegido pela presença do povo que se reúne para ouvi-lo[17] .
À noite, quando o povo não está, Jesus se refugia fora da cidade[18].
A curta atuação
de Jesus em Jerusalém ajuda muito para abrir os olhos dos discípulos. Diante
deles, Jesus desmascara a corrupção do templo e enfrenta os chefes dos
sacerdotes. Silencia saduceus, escribas e fariseus. E até alerta sobre falsos
movimentos messiânicos[19].
Enfim, a sedutora estrutura de poder fica à mostra diante da prática profética
de Jesus. Os discípulos podem entender quem são os chefes do povo e que
interesses representam. Jesus também prepara os discípulos para não se
atrapalharem com anúncios alarmistas de fim de mundo. Dá-lhes clareza sobre sua
missão e anima-os a perseverar nela, sabendo que enfrentarão perseguições e
incompreensões, até no ambiente familiar [20].
Por outro lado, ensina-os a olhar confiantemente para o futuro[21].
É verdadeiro que
nos capítulos finais de Lucas, podemos observar marcas de violência, mas,
sobretudo, iremos verificar sinais de misericórdia e de amor. Até mesmo os
pecadores e bandidos sentem uma estranha confiança[22].
A caminhada de Jesus chega ao fim. Resta-lhe enfrentar a grande tentação de
rejeitar a cruz, despedir-se dos seus discípulos, ser traído, condenado por
todos os poderes, morrer na cruz e manifestar-se vivo aos discípulos. “Fica
conosco”[23] . A separação em
consequência da morte é muito difícil para os seus seguidores. Mas a descoberta
de sua nova presença como ressuscitado enche-os de alegria e eles se
transformam em testemunhas de Jesus. É o que relatam os capítulos 22 a 24 do
Evangelho de Lucas.
“Doar
toda a vida, por toda a vida”
Fica evidente
que a terra é o lugar onde o céu se constrói, eis que o Cristo permanece
conosco todos os dias[24].
O Cristo invisível é plenamente glorificado em Sua humanidade, entra na
participação da onipotência do Pai e, por esse motivo, está mais do que nunca
relacionado a cada um de nós[25]·.
A reação dos
discípulos e das discípulas diante da execução de Jesus foi diferente. Enquanto
os homens fogem, as mulheres permanecem fiéis e, apesar de os romanos não
permitirem nenhuma interferência em seu criminoso trabalho, elas assistem de “longe”
à sua crucificação e observam mais tarde o lugar do sepultamento[26]. Mas,
sem dúvida, o que mais chama a atenção é seu protagonismo na origem da fé
pascal. O anúncio primeiro da ressurreição de Jesus está ligado às mulheres[27].
O relato acerca
dos discípulos de Emaús evita a linguagem tradicional das “aparições” e
insiste-se no reconhecimento de uma presença. É o único relato em que o
Ressuscitado passa horas com os discípulos, convivendo com eles e os acompanha
pelo caminho, discute com eles e fica para a ceia.[28]
Enfim, “O que
Lucas sugere é de grande importância” (PAGOLA, 2013): o Ressuscitado se faz
presente e é uma presença real de alguém que nos acompanha no caminho. Uma
presença não fácil de captar, porque nossos olhos podem estar incapacitados
para reconhecê-lo; uma presença que nos convida a reconhecer que somos “insensatos
e lentos de coração para crer” [29].
Mas é uma presença que vai despertando em seus discípulos a esperança. Mais
tarde confessarão que, enquanto Jesus lhes falava pelo caminho, o coração ardia
dentro deles[30]. Um caminho para
encontrar-nos com Cristo ressuscitado e sentir que nosso coração se inflama com
a sua presença é reunir-nos em seu nome, ler os evangelhos procurando descobrir
o sentido profundo de suas palavras e de seus atos, lembrar sua crucificação e
ouvir a partir de dentro, com coração confiante. O anúncio de sua ressurreição.
E
não basta isso. É necessária, além disso, a experiência da ceia eucarística
para reconhecer a presença do Senhor ressuscitado[31],
não só como alguém que ilumina nossa vida com sua Palavra, mas como alguém que
nos alimenta em sua Ceia. É suficiente reconhecer sua presença, mesmo que seja
apenas por alguns instantes. A experiência de sentir-se alimentados por ele
transforma suas vidas. Agora se dão conta de que a esperança que haviam
depositado em Jesus não era excessiva, mas demasiado pequena e limitada.
Recuperam o sentido da vida. Com isso o evangelista sugere duas experiências
privilegiadas no seguimento de Jesus pela comunidade cristã: a escuta pessoal
da Palavra interpretada por Cristo e em Cristo e a experiência da ceia fraterna
da eucaristia.
Seguir Jesus
Fica claro que Jesus
não deixou atrás de si uma “escola”, no estilo dos filósofos grego, para
continuar aprofundando-se na verdade última da realidade. Tampouco pensou numa
instituição dedicada a garantir no mundo a verdadeira religião. Jesus pôs em
marcha um movimento de “seguidores” que se encarregassem de anunciar e promover
seu projeto do “reino de Deus”. Daí provém a Igreja de Jesus. Por isso, não há
nada mais decisivo para nós do que reativar sempre de novo, dentro da Igreja o
seguimento fiel à pessoa de Jesus. O seguimento de Jesus é a única coisa que
nos faz cristãos.
Embora às vezes
o esqueçamos, é essa a opção primeira de um cristão: seguir Jesus. Esta decisão
muda tudo. É como começar a viver de maneira diferente a fé, a vida e a
realidade de cada dia. Encontrar, por fim, o eixo, a verdade, a razão de viver,
o caminho.
Na visão de
Lucas, seguir Jesus implica por no centro de nosso olhar e de nosso coração os
pobres. Situar-nos na presença dos que sofrem. Fazer nossos seus sofrimentos e
aspirações. Assumir sua defesa. Seguir Jesus é viver com compaixão. Sacudir de
nós a indiferença. Não viver só de abstrações e princípios teóricos, mas aproximar-nos
das pessoas em situação concreta. Seguir Jesus pede desenvolver a acolhida. Não
viver com mentalidade de seita. Não excluir nem excomungar. Fazer nosso o
projeto integrador de Jesus. Derrubar fronteiras e construir pontes. Eliminar a
discriminação.
Seguir Jesus é
assumir a crucificação pelo reino de Deus. Não deixar de definir-nos e tomar
partido por medo das consequências dolorosas. Carregar o peso das atitudes que
não são cristãs e tomar a cruz de cada dia em comunhão com Jesus e os
crucificados do nosso tempo. Seguir Jesus é confiar no Pai de todos, invocar
seu nome santo, pedir a vinda de seu reino e semear a esperança de Jesus contra
toda esperança.
O evangelista
Lucas é um dos escritores do Novo Testamento que mais questiona os discípulos
com relação ao uso das riquezas materiais. Nos capítulos sob comento temos
algumas passagens que realçam este aspecto: a oferta da viúva[32],
o tributo a César[33], a
traição de Judas[34]. Há, ainda, o caso do
jovem rico e seu caráter emblemático: “vende
tudo o que tens, distribui aos pobres e terás um tesouro nos céus; depois vem e
segue-me”[35].
Nestas passagens
ficam claras as condições de seguimento de Jesus: ser pobre, libertar-se do
desejo de acumular, ser desprendido e solidário, não agarrar as coisas para si
mesmo e livrar-se da idolatria do dinheiro.
Uma das
primeiras exigências para seguimento de Cristo é aceitar a perseguição que vem
da luta contra o ódio, a violência e a injustiça do nosso tempo[36].
Não fugir da luta e trabalhar a favor da vida, da justiça e da verdade exige a
coragem de carregar a cruz na história[37].
Diante da busca de uma libertação de tudo o que oprime e desumaniza o ser
humano, a cruz é o sinal que mostra a vitória da luta.
Viver
e morrer com esperança de Jesus
De acordo com o
relatado no evangelho de São Lucas “Era já mais ou menos a hora sexta quando o
sol se apagou, e houve treva sobre a terra inteira até a hora nona, tendo
desaparecido o sol. O véu do Santuário rasgou-se ao meio, e Jesus deu um forte
grito: “Pai, em tuas mãos entrego o meu
espírito”. Dizendo isso, expirou”[38].
Não era só o
grito final de um moribundo. Naquele grito estavam gritando todos injustiçados
da história. Era um grito de indignação e de protesto. Era, ao mesmo tempo, um
grito de esperança. Provavelmente os primeiros cristãos nunca esqueceram este
grito de Jesus que ecoa até os nossos dias. No grito do Cristo rejeitado e
executado por buscar a felicidade de todos está a verdade da última vida. No
amor do Crucificado está o próprio Deus, identificado com todos os que sofrem,
gritando contra todas as injustiças, torturas e abusos de todos os tempos.
“Há no mundo um
“excesso” de sofrimento inocente e irracional” (PAGOLA, 2013). Nós que vivemos
satisfeitos na sociedade da abundância podemos alimentar algumas ilusões
efêmeras, mas será que existe algo que possa oferecer ao ser humano um
fundamento definitivo para esperança. Se tudo acaba na morte, quem nos pode
consolar. Nós, seguidores de Jesus, nos atrevemos a esperar a resposta
definitiva de Deus lá onde Jesus a encontrou: para além da morte.
Toda a vida de
Jesus é orientada para a cruz. Ele é o servo, o inocente que sofre por puro
amor sob o peso da injustiça e do pecado do mundo. A Paixão é o resultado de
sua solidariedade com os esquecidos, abandonados e perdidos. A cruz, portanto,
é a chegada de um caminho de fidelidade de Cristo ao Pai, ao Reino e ao amor
pelas pessoas. Jesus morre no monte Calvário, isto é, monte da Caveira[39].
A cruz nunca está separada da ressurreição. Nela está o mistério cristão. A ressurreição sem cruz é vazia e a cruz sem
ressurreição é cega. Pela cruz Deus julgou o mundo e a sua decisão foi
pronunciada na ressurreição do Crucificado. Enquanto os representantes da Lei e
do poder dizer um não a Jesus, manifestando a vitória do mal, Deus destrói esse
não, sentenciando o seu sim.
O universalismo
de Jesus vai além do âmbito “geográfico” e racial. É muito mais forte no
sentido social. Jesus mantém um relacionamento aberto com os mais diversos
representantes de todas as classes sociais marginalizadas e excluídas[40].
Lucas propõe a
imagem de Jesus salvador do mundo: “Deve ser anunciada no seu nome a conversão
para o perdão dos pecados a todas as nações”[41].
Solidarizar-se
com os crucificados deste mundo – empobrecidos, injustiçados, marginalizados –
é defendê-los. Deus não ficou indiferente às vítimas e aos sofredores da
história. Por amor e solidariedade ele se fez pobre, foi condenado, crucificado
e assassinado. Deus morre unido ao sofrimento da humanidade. Deus, porém, não é
solidário apenas na dor; é solidário também na esperança.
A salvação
acontece com base na história da humanidade e significa que resgatar a
integridade do ser humano é, na realidade, restabelecer sua relação inata com
Deus, com os outros, com toda a criação e consigo mesmo. “Não podermos esquecer
que o credo cristão afirma a convicção na ressurreição da “carne”, na apenas da
“alma” (MOREIRA, 2012). Salvação é um dos efeitos mais importantes do
acontecimento Cristo, pelo menos na mentalidade de Lucas. Ele é o único dos
evangelistas sinóticos a chamar Jesus de “Salvador”. O melhor resumo que mostra
o que é salvação e: “O filho do Homem
veio buscar o que estava perdido e salvá-lo”[42].
Fidelidade de Jesus à Missão
Mas a vertente
mais profunda da morte de Jesus é a sua decisão pessoal de não abandonar o
caminho quando surge a cruz. Jesus vai até o fim, Sua fidelidade à missão vai
às últimas consequências. Com os discípulos, antecipa o que vai acontecer e
prepara-os para isso. Diante das autoridades, fala pouco, às vezes, prefere
mesmo calar. Ressuscitado, Jesus se manifesta aos seus e confirma-os na sua
missão. O demônio, que não conseguiu desviar Jesus do caminho traçado pelo Pai,
volta ao ataque no momento da Paixão[43].
É o momento mais
difícil na vida dos discípulos. Um dos doze trai Jesus. Os outros não entendem
o que está acontecendo. A tentativa de acompanhar Jesus a certa distância
também se frustra. Pedro nega conhecer Jesus. Os outros já se haviam sumido.
Alguns, poucos, porém, destacadamente as mulheres, acompanham Jesus de longe. A
crença na ressurreição também é difícil. Mas ela acaba envolvendo a todos.
Lucas tem um
jeito próprio de contar a história da prisão, condenação, morte e ressurreição
de Jesus. Ele está em sintonia com as grandes linhas dos outros evangelistas.
Mas põe também seu coração nesta narração. Ele dá destaque ao fato de que Jesus
supera as dificuldades pela oração[44].
Mas não basta que Jesus vença a tentação. Os discípulos também terão de
enfrentá-la e precisam preparar-se para isso através da oração, oração deles
próprios e de Jesus[45].
O Evangelista
coloca no contexto da última ceia de Jesus a discussão dos discípulos sobre
quem seria o maior[46].
Maior é aquele que serve. Jesus mesmo é apresentado como aquele que serve. A
vida e a morte de Jesus são uma lição de serviço que os discípulos de ontem e
de hoje devem assimilar. O serviço está intimamente relacionado com a
celebração da Eucaristia. A Eucaristia é a celebração do radical serviço de
Jesus, dando sua vida. Mesmo na cruz, Jesus demonstra misericórdia. Reza pelos
que o torturam e matam: “Pai,
perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!”[47].
Conclusão
Com efeito,
podemos notar que a nossa fé em Cristo ressuscitado não é só fruto do sinal do
sepulcro vazio nem do testemunho dos que viveram a experiência de encontrar-se
com ele. É necessário, além disso, reconhecer a presença de Cristo vivo em
nossa própria vida. O ressuscitado é o crucificado. Jesus ressuscitado não é um
espírito, não é alguém outro que não o próprio crucificado. Os discípulos de
Jesus daquele tempo e de hoje não podem criar um Jesus ressuscitado distante e
diferente do crucificado. É o Jesus da pregação do Reino de Deus na Galileia e
da cruz em Jerusalém que ressuscitou. Para deixar claro isso, Jesus mostra as
mãos e os pés e come com eles[48]. O
encontro com Jesus ressuscitado não acontece no túmulo, mas na caminhada da
vida e na comunidade reunida. O túmulo vazio é apenas um indicativo da
ressurreição. Ele precisa ser iluminado pela palavra de Jesus. Jesus
ressuscitado manifesta-se aos seus discípulos.
Na medida em que
a vida vai sendo retomada no diálogo e vai sendo relacionada com a Bíblia,
acende-se um ardor nos corações. Algo como um sentimento de que nem tudo está
morto. A vida da comunidade e, particularmente, a celebração litúrgica são
espaços de experiência forte do ressuscitado. Eles remetem para a vida
concreta. Enviam para a vivência do testemunho e renovam a esperança.
Acompanhados pela “força do Alto” que capacita o discípulo para a missão[49]. Todo
o ministério de Jesus é visto por São Lucas como uma progressiva realização do
plano salvador predito pelos profetas. O tempo de Jesus é o HOJE DA SALVAÇÃO. Esse tempo,
inaugurado por Jesus, continua no tempo da Igreja. O Ressuscitado continua vivo
e ativo na sua Igreja: “Fica conosco”
[50]
dizemos também nós.
A ressurreição
de Jesus é para nós a razão última e a força diária de nossa esperança: o que
nos alenta para trabalhar por um mundo mais humano, segundo o coração de Deus,
e o que nos faz esperar confiantes na salvação. São Lucas nos mostra que em
Jesus ressuscitado descobrimos a intenção profunda de Deus confirmada para
sempre: uma vida plenamente feliz para toda a criação, uma vida libertada para
sempre do mal. A vida vivida a partir de sua Fonte: “então verão o Filho do
Homem vindo numa nuvem com poder e grande glória. Quando começarem a acontecer
essas coisas, erguei-vos e levantai a cabeça, pois está próxima a vossa
libertação”[51].
[1] Lc 19,28 – 21,38
[3] Lc 23,56b – 24,53
[5] Lc 1,1-4
[6] Lc 1,5-23
[7] Lc 24,53
[8] Lc 19,28
[9] Lc 21,5-6
[11] Lc 21,1-4
[12] Lc 20,2-19
[13] Lc 20,9-15
[15] Lc 19,29-38
[16] Lc 20,9-19
[17] Lc 21,8
[18] Lc 21,37
[19] Lc 21,8
[20] Lc 21, 12-19
[21] Lc 21,28
[22] Lc 23,42
[23] Lc 24,29
[24] Lc 21,33; 22,28-30
[25] Lc 24,30-53
[26] Lc 23,55-56
[28] Lc 24, 13-35
[29] Lc 24,25
[30] Lc 24,32
[32] Lc 21,1-4
[33] Lc 20,25
[34] Lc 22,5
[35] Lc 18,22
[36] Lc 21,8-18
[37] Lc 21,34-36
[38] Lc 23, 44-46
[39] Lc 23,33-47
[40] Lc 21,1-4; 23,27-31; 23-43
[42] Lc 19,10
[43] Lc 22,3.53
[44] Lc 22,41-44
[45] Lc 22,31-32.40-46
[47] Lc 23,34
[49] Lc 24,49
[50] Lc 24,29
[51] Lc 21, 27-28
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