sábado, 26 de setembro de 2015

Castidade do Jovem

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Castidade do Jovem

            Nos dias de hoje é grande a dificuldade que as famílias católicas encontram para transmitir aos jovens o valor da castidade e a importância da construção do autodomínio. Desta forma, considerando que somos chamados a dar razão da nossa esperança (1 Pd 3,15), o presente trabalho busca apresentar os elementos sociais, morais e religiosos que contribuem para que a castidade seja um marco importante na formação, na harmonia e no amadurecimento da personalidade de nossos jovens.
            Nossa primeira grande vocação é a vida. Em seguida, é o amor, ato que realiza mais plenamente a existência humana. De maneira específica, o amor entre a mulher e o homem é uma relação recíproca baseada na atitude individual e comum deles a respeito de um bem. Com efeito, uma pessoa normal necessita de alguém para comunicar-se, trocar idéias, permutar experiências de vida, caminhar lado a lado como amigos. No caso de um homem e de uma mulher, caso seja a vocação de ambos, irão formar um lar, gerar e educar filhos, expressar o próprio amor na intimidade do casal. A Palavra de Deus é clara: “Não é bom que o homem esteja só” (Gn 2,18).
            A sexualidade humana é um dom de Deus, um valor e não um mal menor. “Deus poderia ter prescindido do homem e da mulher para povoar a terra. Ele optou por criá-los sexuados, diferentes e complementares. Não há na sexualidade humana, na mútua atração do homem e da mulher, nada que em si mesmo desmereça a obra criadora de Deus” (CASTANHO, 2005). Ela dignifica a espécie, porque confere ao homem e à mulher uma participação na obra sábia, onipotente e amorosa de Deus. Por sua sexualidade masculina e feminina, ambos tornaram-se coparticipantes do poder de transmitir a vida de que Deus é o princípio. Assim, qualquer visão negativa e maniqueísta da sexualidade afronta a obra de Deus criador.
            A Castidade é uma atitude e, neste sentido, é uma virtude. Trata-se de uma capacidade prática, que torna a pessoa apta para atuar de um modo determinado. “Para ter esta capacidade, ou atitude, obviamente deve estar arraigada na vontade, no fundamento do querer e do atuar consciente da pessoa” (FUENTES, 2006).
Sexualidade Humana
            Há entre a sexualidade humana e a dos animais algumas identidades e diferenças, os irracionais machos têm o instinto que os leva a buscar a união com uma fêmea visando à reprodução. Nas espécies mais evoluídas e próximas ao homem, o acasalamento dá-se nos dias do cio. Instintivos entre os animais, os acasalamentos são incontroláveis e inconscientes. As espécies animais fazem exatamente o que deve ser feito, nada opondo aos planos e finalidades da natureza e do próprio Deus.
            Deus não colocaria um impulso no homem para atrapalhá-lo. Colocou o impulso da nutrição para o homem se fortificar. Colocou o impulso de conservação para o homem resistir à morte. Comer proporciona prazer, mas a alimentação não visa o mero prazer. “Também o impulso sexual causa prazer, mas o fim dele não é o prazer. O fim dele é a multiplicação do próprio homem. ” (MOHANA, 2002).  Assim, todos os animais têm esses três instintos e se regem por leis rígidas.
            Por que então o animal homem não se controla? Por que instala a desordem dentro do impulso? Imaginar que o rapaz tem de se desafogar no sexo é ligar o fim do sexo exclusivamente ao prazer, “é supor que o homem nasce com um par de testículos só para gozar. É pena que bons rapazes pensem assim” (MOHANA, 2002).
            No campo da medicina, vários são os depoimentos e entendimentos no sentido de que os jovens devem ser alertados de que não somente a castidade e a continência são possíveis e não são nocivas, mas também que estas virtudes são as mais recomendáveis sob o ponto de vista simplesmente médico e higiênico.
            A experiência de alguns jovens de guardar a castidade enriqueceu suas vidas e os aparelhou para vencerem em todos os setores. Porque o autocontrole exercita a vontade e torna o jovem apto para superar problemas futuros, quer em casa, quer na rua.  Não terá tendência ao desânimo, à fuga.   Tudo isso concorre para um sentimento nítido de valorização pessoal. A castidade cristã é incompatível com a empáfia e o jovem naturalmente refletirá no exterior o brilho interior de sua personalidade.
            A verdadeira castidade não é uma cadeia de complexo, mas, uma ponte de libertação. A opção pela castidade produz no jovem a paz interior e desenvolve nele forças físicas e mentais, capazes de servir de estímulo à execução de tarefas mecânicas e intelectuais. Ainda, favorece em grau máximo o amadurecimento sexual através do clima que cria para o amadurecimento humano, tanto nos fatores corporais (somáticos) como nos psíquicos e emocionais. O amor ativo e concreto, não faz aos outros aquilo que não quer que lhe façam.
            Tomemos apenas um exemplo: o que ensina a vida nupcial da quase totalidade dos astros da tela? Ensina que a vida sexual precoce não garantiu o êxito conjugal de nenhum deles. Pelo contrário, é assombroso o número de experiências fracassadas. Assim é que se transmuda em veneno mortal a fonte da vida. Aqui se confunde amor com sensualidade, altruísmo com desejo, sentimento com posse física.
            Numa pesquisa realizada entre universitários norte-americanos perguntava-se o que era que julgariam certo ou errado em matéria sexual. A maioria respondeu que “errado é tudo aquilo que provoca desconfiança, falsidade e duplicidade; que separa, que desune, que diminui o respeito; que motive a exploração mútua, que frustre ou mutile a capacidade da pessoa” (CALLUF, 1968).
De fato, o ajustamento sexual não é uma conquista simples, e quando prejudicado pela desconfiança é quase impossível de ser conseguido. Ora, a castidade nos tempos de solteiro é o antídoto fulminante contra a desconfiança. O rapaz ou a moça habituados à polivalência da irresponsabilidade sexual dificilmente conseguirão se submeter à monovalência da fidelidade conjugal. Esse preparou o terreno para temores, ciúmes, suspeitas, incompreensões, ironias, rusgas, queixas, discussões – matéria-prima da separação ou do inferno doméstico. Está comprometida não só a fidelidade conjugal. Está comprometida a fidelidade familiar.
            O jovem, que é inteligente, já deve ter percebido o incomparável destino da castidade, a missão sem preço para todo rapaz e toda moça – a castidade existe, da parte do rapaz, para preparar um homem único para uma mulher única; e existe, da parte da moça, para preparar uma mulher única para um homem único. É essa a tendência de todo rapaz e de toda moça que ama. Ter a sua amada e o seu amado.
            Por mais que a alta safadeza social queira entrar lá no fundo do coração dos jovens e destruir esse desejo, saqueiam em vão, por que cada época se estarrece com mais de um “Romeu e Julieta”. Os jovens são assim porque esse é o destino do amor.  O amor pede um só amado, uma só amada. Por isso é que o amor pede castidade. Por isso é que a castidade existe para o amor. Por isso que o “amor livre” não é amor nem é livre. É irresponsabilidade.
            Ao dar ao ser humano uma inteligência angélica e instintos zoológicos, Deus criou dentro de nós as condições de uma saudável batalha. É importante que cada rapaz e cada moça trave essa batalha e se valorize pelas vitórias internas. “Dizem que se pedir a Deus qualidades, ele nos manda oportunidades de adquiri-las” (MOHANA, 2002)
“Amor Livre” (nem amor e nem livre)
            A sexualidade humana fica adormecida durante os anos da infância. Meninos e meninas brincam e convivem como se entre eles não houvesse diferenças sexuais, que na realidade existem, porém adormecidas. Pouco a pouco as forças da sexualidade vão despertando. A mulher está apta para gerar uma nova vida quando tem início a sua menstruação. Esse momento é sempre um pouco traumático se ela não for preparada pela própria mãe.
            No caso dos meninos, as manifestações da própria sexualidade chegam antes. As estatísticas provam que os adolescentes com os seus 14 ou 15 anos partem para experiências sexuais ou provocam em si mesmos o prazer erótico.
            Na convivência fora do lar, especialmente na escola e na rua, com adolescentes e jovens, multiplicam-se toques e atitudes que podem levar a intimidade sexual entre ambos. “Os incentivos vêm dos colegas, das leituras de certas revistas, de vídeos e de programas televisivos, de livres opções de namorados e, a cada dia mais frequentemente, em virtude de ampla publicidade e distribuição de preservativos, que envolve um subliminar incentivo à vida sexual imatura e irresponsável” (CASTANHO 2005).
            É frequente os jovens e adolescentes não estarem nem fisiológica nem psicologicamente preparados para o exercício de sua genitalidade. Lamentavelmente, há pais que têm a ousadia de incentivar os filhos a ter as primeiras experiências de sua vida sexual.  Há escolas em que a informação sexual se transforma em incentivo à vida sexual. O clima da sociedade ocidental em que vivemos não é propício para o autocontrole nem para a castidade dos jovens. Tudo parece conspirar contra uma reta sexualidade no tempo e momento adequado.
            Fazendo uma análise da realidade atual, temos que essa virtude está em situação de descrédito em nossa sociedade. No Brasil, até 1960, a virgindade da mulher solteira era considerada um valor e era sustentada pelas famílias. Não havia, entretanto, a mesma exigência para os rapazes, sendo natural e até desejável que adquirissem experiência sexual na adolescência. Isso configurava uma grande hipocrisia da sociedade, pois se ele não podia ter relações sexuais com a namorada, deveria então procurar uma prostituta, que era e continua sendo uma figura marginalizada.
            Três fatores contribuíram fortemente para a mudança desse cenário na década de 70 do século passado, na esteira do que acontecera nos EUA, onde ocorreu a chamada revolução sexual, nos anos 60. Houve o movimento feminista (liberdade sexual) e os hippies com o lema “paz e amor” (amor livre). Outro fator de importância determinante foi a popularização da pílula anticoncepcional.
            Essa noção de liberdade equivocada e o despreparo dos pais para formar os filhos para a castidade levou à cultura ocidental atual, na qual é normal começar a prática do ato sexual na adolescência, desde que se use o preservativo. E isso não se faz escondido dos pais, mas com o conhecimento e, em muitos casos, com o apoio deles.
            Um estudo realizado nos EUA sobre o problema da promiscuidade sexual entre adolescentes, mostrou números alarmantes. A população de adolescentes com 15 anos, que já mantiveram relações sexuais subiu de 2,5% (1955) para 27% (1987); com 16 anos de 7,5% para 33%, com 17 anos de 14% para 50% e com 18 anos de 23% para 70%, respectivamente (FUENTES, 2006)
            No Brasil, uma pesquisa realizada entre 2001 e 2002 entrevistou 4.634 jovens, entre 18 e 24 anos, nas cidades de Porto Alegre, Rio de Janeiro e Salvador e mostrou que apenas 587 jovens se declararam virgens. Os demais, na primeira relação sexual, o parceiro foi predominantemente o namorado, companheiro ou esposo para as moças e a pessoa com que “ficou” ou garota de programa para os rapazes.
            Nossa cultura está quase totalmente genitalizada. Os anúncios comerciais, filmes, novelas e programas de entretenimento estão carregados de conteúdo erótico, quando não exibem explicitamente imagens pornográficas. E a imagem visual é um elemento condicionante e impactante na psicologia humana, que dificilmente se apaga, retornando ocasionalmente à memória sensitiva da pessoa. (FUENTES, 2006)
            A sexualidade desordenada tornou-se uma obsessão para muitas pessoas, é uma idéia obsessiva e exaustiva. Muitos acabam com problemas reais psíquicos, com um comportamento oposto à virtude que é o vício, sendo escravo e não sendo dona de si mesma.
A Castidade na Tradição da Igreja
Na obra Confissões, Santo Agostinho relata sua trajetória até a descoberta de Deus e afirma que só Ele conhece verdadeiramente o homem e só nele encontra a felicidade. Ensina que Deus nos propõe a continência, porque é graças a ela que nos reunimos e nos reconduzimos à unidade (integração), da qual nos afastamos para nos perder na multiplicidade. “Pouco te ama aquele que ao mesmo tempo ama outra criatura, sem amá-la por tua causa... Tu me ordenas a continência: concede-me o que ordenas e ordenas o que quiseres” (AGOSTINHO, Confissões, Livro X n. 40). Para ele a castidade é um movimento ordenado da alma, que não submete os bens maiores aos menores.
            Sobre a concupiscência da carne, Santo Agostinho relata que sobrevivem na sua memória as imagens dos prazeres a que se entregou na juventude. Como conheceu em Deus um bem infinitamente superior, quando acordado essas memórias não tem força para desviá-lo, embora durante o sono suscitem o prazer. É claro que nessa situação não existe consentimento, não é ato da vontade, mas serve para demonstrar como as paixões subsistem em nossa mente, mesmo depois de dominadas.
Citando Aristóteles, em sua Suma Teológica, São Tomás de Aquino declara que o termo castidade deriva do fato de a razão “castigar” a concupiscência, que precisa ser corrigida como uma criança. Conclui que a virtude humana consiste, essencialmente, em ser regulada pela razão, logo, é evidente que a castidade é uma virtude (Suma Teológica, II-II, q. 151, a1, co.). Para ele a castidade tem sua sede na alma, mas sua matéria é o corpo, pois ela tem como função fazer que se use moderadamente os membros do corpo, segundo o juízo da razão e a decisão da vontade.
Reflete que quanto mais necessária for uma coisa, tanto mais necessário é que a ordem da razão seja observada; portanto, será mais viciosa, quanto mais se esquecer a ordem racional. A atividade sexual é extremamente necessária ao bem comum, qual seja, a conservação da espécie, por isso deve ser muito respeitada nessa matéria a ordem da razão e, consequentemente, será vicioso o que se fizer contra essa ordem. É próprio da luxúria exceder a medida e a ordem da razão nos atos sexuais, logo, sem dúvida alguma, a luxúria é pecado (Suma Teológica II-II, p. 153, a3 co.). Afirma que os prazeres sexuais luxuriosos são os que mais degradam a mente humana.
Em sua doutrina sobre as virtudes, São Tomás vê de modo direto o objeto da pureza na faculdade do desejo sensível, ao qual chama de apetite concupiscível. Essa faculdade deve ser particularmente dominada, ordenada e tornada capaz de atuar de modo conforme à virtude, a fim de que a pureza possa ser atribuída ao homem. Segundo essa concepção, a pureza consiste, antes de tudo, em conter os impulsos do desejo sensível, que tem como objeto o que no homem é corporal e sexual. A pureza é uma variante da temperança (JOÃO PAULO II, catequese de 28.01.1981).
Castidade e o Magistério da Igreja
            A Mãe Igreja, com base na Revelação, ensina que o ato sexual fora do casamento é gravemente contrário à dignidade das pessoas e da sexualidade humana, naturalmente ordenada para o bem dos esposos, bem como para a geração e a educação dos filhos. (Catecismo da Igreja Católica n 2353)
            O Diretório da Pastoral da Família defende que a inclinação afetiva tem uma essencial tendência heterossexual, na qual reside a condição da complementariedade plena, tanto na sua dimensão corpóreo-sexual, como na sua profundidade pessoal, afetiva e espiritual. Assim, todos os aspectos, corporais e espirituais, devem ser orientados para a comunhão plena de duas pessoas, de duas vidas. Ademais, destaca que, segundo a antropologia e a psiquiatria experimental contemporânea, quando se marginaliza o compromisso afetivo nas relações interpessoais, a relação humana perturba-se e desce a um nível mais baixo do que o das relações entre animais. O homem e a mulher, quando se tratam como objetos, cometem uma violência contra a essência da sua humanidade. Na sexualidade humana ditada apenas pelo instinto, que tem como meta o alívio da libido, a escolha do parceiro se dá a partir de estímulos sensíveis, sem qualquer envolvimento sentimental. A realização pessoal é fugaz, física e a fecundidade é meramente acidental.
            O Catecismo da Igreja Católica deixa claro que a união livre destrói a ideia de família e é contrária à lei moral e exclui da comunhão sacramental. O amor humano não tolera a “experiência”, exige uma doação total e definitiva das pessoas entre si. Sua meta é a comunhão e o sentimento é o da oblação da própria vida. É o mandamento novo de Jesus: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 13,14). É sair de si mesmo, em direção ao outro, comprometendo-se e acolhendo-o no que ele tem de único e irrepetível.
            O Conselho Pontifício para a Família publicou o documento “Sexualidade Humana: Verdade e Significado”, sob a forma de orientações educativas para a família. A par das dificuldades enfrentadas pelos pais na educação sexual dos filhos, lembra que eles não podem fugir do seu dever e direito de primeiros educadores.
            A Declaração Persona Humana sobre Alguns Pontos de Ética Sexual fala dos princípios fundamentais contidos na lei natural e na lei revelada, recordando que existe uma verdade imutável, baseada na natureza do homem. Não pode haver verdadeira promoção da dignidade do homem, senão com o respeito da ordem essencial da sua natureza. A evolução dos costumes deve ser mantida dentro dos limites que impõem os princípios imutáveis fundados nos elementos constitutivos e nas relações essenciais de toda a pessoa humana.[1]
O Desafio na Busca da Verdade
Sobre a castidade, vivemos no antigo preconceito romântico que a felicidade suprema, o grande interesse “consiste nas satisfações dos sentidos do relacionamento homem e mulher” (CANTALAMESSA, 2002). Entretanto, a alma é uma realidade igualmente forte, tão exigente quanto a carne, e se concedemos a essa tudo quanto exige, nós o fazemos em detrimento de outras alegrias, de outras regiões luminosas que ficarão para sempre fechadas. Ter muito claro na mente o que se quer alcançar é o passo seguinte.
A inteligência é a faculdade que determina o que é o bem, o que é a verdade. A vontade acompanhará a inteligência naquilo que ela identificar como um bem. Podemos nos enganar e confundir a mente, chegando a persuadi-la com uma “verdade” que, na realidade, é falsa. As ideias, quando revestidas de modo atrativo, seduzem a inteligência. Esse revestimento das ideias são os estados afetivos. Não existem ideias nuas, puras, sempre se apresentam carregadas de emoções, paixões, sentimentos, que as revestem, fazendo-as atraentes, convincentes ou repulsivas. Nesse sentido devemos obrigar a nossa inteligência a buscar a verdade das coisas, pois muitas ideias e programas nos são apresentados como verdades, quando se tratam apenas de falácias bem estruturadas.
Mesmo sendo óbvio que a verdade se impõe por si mesma, a cultura atual tem uma habilidade especial para apresentar suas ideias e projetos de uma forma que esconde a força da verdade, seduzindo-nos a aceitar e a seguir tudo quanto nos é oferecido. Ainda que exista algo em nosso interior que nos alerte ao perceber a mentira, a verdade não consegue se impor.  ‘Torna-se imprescindível revestir bem as verdades, ligando-as a estados afetivos positivos e motivadores, até que sintamos o desejo, o gosto e a firme convicção de vivê-la” (BERGO, 2014). Se a verdade não foi bem alicerçada, não será convincente e não poderá ser sustentada.
É necessário olhar-se com honestidade, conhecer-se. “Vigiai e orai” (Mt 26,41) é o ensinamento do Mestre. Vigiar, no caso, é observar-se, conhecer os próprios pensamentos. Ao mesmo tempo, é necessário fortalecer a vontade. Nesse aspecto a vontade é como um músculo que precisa ter o exercício na medida certa para fortalecer-se (autodomínio).
Um dos meios sugeridos pela Igreja é o jejum, ou outra mortificação, que deve ser bem calculada, para que a pessoa não se imponha um ideal inalcançável, mas que represente um esforço. Serão benéficas também outras práticas de ascese que o próprio jovem pode definir. Concomitantemente, a oração e a frequência aos sacramentos são importantes para a que a virtude natural seja ajudada pela virtude sobrenatural. A castidade é uma virtude moral, mas é também um dom de Deus, uma graça, um fruto da obra espiritual. “O Espírito Santo concede o dom de imitar a pureza de Cristo àquele que foi regenerado pela água do Batismo” Catecismo da Igreja Católica, n 2345). Ela possui leis de crescimento, que passa por graus, marcados pela imperfeição e muitas vezes pelo pecado. “Dia a dia o homem virtuoso e casto se constrói por meio de opções numerosas e livres. Assim, ele conhece, ama e realiza o bem moral seguindo as etapas de um crescimento".
Muitos dos que se convencem que a castidade não é importante “fazem-no porque não são capazes dela” (CANTALAMESSA, 2012). Quando se pretende um valor mais elevado, exige-se um esforço maior da vontade. Para se livrar subjetivamente desse esforço, para justificar-nos a nós mesmos pela falta dessa virtude, diminuímos a sua importância, recusando o valor que na realidade possui. Esse sentimento tem os traços característicos da preguiça. Entretanto, a preguiça não falsifica o valor do bem, mantém interiormente a verdade do seu valor. O ressentimento, que é a negação do valor do bem, esse sim, falsifica a imagem do bem e deprecia seu valor. Assim a pessoa não precisa esforçar-se para adquirir o verdadeiro bem e pode admitir como bem aquilo que lhe convém, que é mais cômodo. O ressentimento faz parte da mentalidade subjetiva em que o prazer desempenha as funções de valor dominante (WOJTYLA, 1982.
Realidade da Igreja Particular
            No que se refere às práticas heterossexuais que ocorrem fora do matrimônio, não é percebida grande diferença no comportamento adotado pelos jovens católicos. A vivência sexual independente do matrimônio acontece também entre jovens católicos e até muito mais do que a gente pensa. Isso se dá até mesmo com os que têm funções específicas: “o exemplo dado por um sacerdote era o de uma catequista, que apareceu grávida. Se nem sempre a prática sexual se dá de forma explícita, sua existência se torna patente quanto acontecem estes casos” (RIBEIRO, 2001).
            Entretanto, os padres observam um elemento que diferencia o comportamento dos jovens católicos em relação a outros jovens. Neste caso há um controle maior, as práticas sexuais não se dão com a mesma facilidade. Na perspectiva dos sacerdotes, tal diferença se explicaria, porque existe uma maior compreensão do problema.  Houve, portanto, uma mudança significativa no comportamento sexual dos jovens, na perspectiva de uma liberalização. Entretanto, o processo não é linear nem homogêneo: implica a persistência de valores "tradicionais" junto com a emergência de novos valores; inclui também diferenciações, conforme a classe social, o gênero e a pertença religiosa.
            Os padres situam tal mudança no contexto da sociedade brasileira atual e acentuam dois condicionamentos sociais cumulativos:
a)      Predominância de uma cultura sexualmente permissiva, incentivada pela influência da mídia. Neste caso, vale destacar que não se trata de um processo linear: alguns jovens ainda preferem ter suas experiências sexuais às escondidas, para evitar conflitos familiares. “Isto indicaria a permanência de alguns valores tradicionais, que seguem vigentes embora nem sempre de forma explícita” (RIBEIRO, 2001)
b)      Falta de informação/formação dos jovens, atribuída, sobretudo às carências da estrutura familiar.
      Segundo pesquisa realizada pela socióloga Lúcia Ribeiro as orientações dos padres situam-se em três esferas:
a)      Pregação da ortodoxia: identificada com a doutrina oficial. No que se refere à vivência da sexualidade, preconiza que a mesma deve se dar, exclusivamente, no âmbito do heterossexualismo e dentro do matrimônio. Foram poucos padres que se situam nesta posição. O hiato entre o que prega a Igreja e a prática dos fiéis é imenso, e os sacerdotes têm consciência disto.
b)      Silêncio estratégico: A diferença entre este tipo de orientação e a anterior não é doutrinal, mas prática. Os padres que aqui se situam, embora não contestem a validade da doutrina oficial, questionam sua aplicabilidade às situações concretas. Diante desta questão específica, reconhecem a inutilidade de querer manter a ortodoxia: você, não tem como dizer para o homem, o menino, a menina, ou o jovem: “olha, se você namora não pode ter relação sexual”. “A gente pode até dizer isso, mas eles não vão vivenciar”.
c)      Orientação contextual: Consiste em tentar dar uma orientação, a partir das especificidades de cada contexto. É adotada pela maioria dos entrevistados. Observa-se certa flexibilidade, que enfatiza a importância dos valores cristãos fundamentais, mas que tenta traduzi-los às circunstâncias concretas. Tal posição implica também certas margens de tolerância: em vez de uma atitude de condenação, está presente a busca da melhor alternativa possível. Alguns dos sacerdotes, inclusive, avançam ainda mais um passo, ao aceitar um comportamento que extrapola a norma concreta da Igreja: isto significa, neste caso, admitir a possiblidade de experiências sexuais antes do casamento. Entretanto, os padres que adotam esta terceira posição têm consciência das dificuldades que esta implica: eu acho que seria muito mais fácil dizer: “olha, a lei da Igreja é essa, acabou, não tem papo”. Porque o que acontece é que a gente entra num terreno que é realmente complicado, difícil. Este tipo de orientação dificilmente se formaliza em público: a estratégia passa muito mais pela orientação provada, através das conversas pessoais e do contato direto.
Educação para o Amor
            O amor é concebido por muitos como uma aventura do coração, portanto não precisa e não pode ser ensinado. Assim concebido. Ele não passa de uma situação psicológica que não se subordina às exigências da moralidade objetiva. Como consequência, sua integração fica quase impossível. Na realidade o amor é uma norma, da qual se deve deduzir o máximo valor da situação psicológica, para que atinja a própria plenitude. A educação para o amor implica uma série de atos interiores, em sua maior parte, profundamente pessoais. Tais atos tendem para integração do amor dentro da pessoa e entre as pessoas.[2]
            O amor verdadeiro nunca é algo dado, é uma tarefa, uma construção a cada instante. A base para a construção é aquilo que nasce espontaneamente, por isso as vivências fundadas na sensualidade e na afetividade são a matéria-prima do amor.
            Primeiramente, a família proporciona o clima afetivo que, nos primeiros anos da infância, promovem os dinamismos emocionais e profundos das crianças. Nada induz tanto a amar quando o saber-se amado. Adicionalmente, a harmonia do casal é fundamental. Nas famílias cristãs, existe ainda a vivência do amor a Deus, o que facilita o aprendizado. A educação para o amor “é ao mesmo tempo educação do espírito, da sensibilidade e dos sentimentos”.[3]
            Na infância a criança está à vontade com o seu corpo, mas esse não é um período desprovido de significado no seu desenvolvimento psico-sexual. A criança aprende com os exemplos dos adultos o que é ser homem ou mulher.
            Deve-se instruir sobre o valor positivo da castidade e a capacidade de gerar verdadeiro amor para com as pessoas, consoante os ensinamentos da Exortação Apostólica Familiaris Consortio:
“O conhecimento deve conduzir à educação para o autocontrole: daqui a absoluta necessidade da virtude da castidade e da permanente educação para ela. Segundo a visão cristã, a castidade não significa de modo nenhum nem a recusa nem a falta de estima pela sexualidade humana: ela significa antes a energia espiritual que sabe defender o amor dos perigos do egoísmo e da agressividade e sabe volta-lo para a sua plena realização”[4]
            Os cristãos são chamados a viver o dom da sexualidade segundo o plano de amor de Deus e auxiliados por sua graça. Todo esse cuidado tornará os filhos capazes de avaliar os ambientes que frequentam e as diversas situações da vida com sentido crítico e de autonomia.
            A castidade representa uma tarefa eminentemente pessoal. Entretanto, ensina o Catecismo da Igreja Católica, implica também um esforço cultural, porque o homem desenvolve-se em todas as suas qualidades mediante a comunicação com os outros. Supõe o respeito pelos direitos da pessoa, particularmente o de receber uma informação e uma educação que respeitem as dimensões morais e espirituais da vida humana (Catecismo da Igreja Católica, n. 2344).
            Ela é também, como as demais virtudes, uma educação no Espírito Santo, que ensina de forma suave às almas que lhe são dóceis. Não é comportamento intermitente, improvisado. É orientação conhecida, amada e seguida com constância e firmeza. Quem deseja um coração puro não opõe resistência a ser plasmado pelo objeto de amor, pelo bem, pelo fim, deixa-se cativar por ele e adere livremente às suas exigências. Nesta constância, cresce a experiência que qualifica o gosto e a alegria de agir.
            O domínio de si é um aprendizado que se inicia na infância e nunca está completamente concluído. Entretanto, aquele que não foi educado no início da vida não deve desanimar, sempre é tempo de começar.
            A castidade é uma parte da virtude da temperança. Temperança é a virtude cardeal que tem em vista fazer depender da razão as paixões e os apetites da sensibilidade humana: “A castidade implica uma aprendizagem do domínio de si, que é uma pedagogia da liberdade humana. A alternativa é clara: ou o homem comanda as suas paixões e alcança a paz, ou se deixa dominar por elas e torna-se infeliz” (Catecismo da Igreja Católica, n. 2339).
            O homem faz a gradual experiência da própria dignidade e, mediante a temperança, manifesta o próprio autodomínio e mostra realizar aquilo que nele é essencialmente pessoal. E, além disso, experimenta gradualmente a liberdade do dom, que por um lado é a condição, e por outro é a resposta do sujeito ao valor esponsal do corpo humano, na sua feminilidade e na sua masculinidade.
            A pureza é exigência do amor, é a dimensão da sua verdade interior no “coração” do homem. Na prática, não bastam as virtudes que diretamente se relacionam com a matéria sexual. São necessárias outras qualidades que preparam o terreno à castidade, como por exemplo, a generosidade, a capacidade de mortificação e de renúncia, a humildade, a capacidade para perdoar. Estas qualidades têm muito a ver entre si. “Não se pode, por exemplo, ser realmente casto se não é manso. O que domina sua sensualidade dominará a ira, o rancor, os ciúmes e o egoísmo” (FUENTES, 2006). E o egoísmo só nos prepara para uma coisa: o infortúnio.
            No Sermão da Montanha Cristo chama o homem a reencontrar, no fundamento dos significados perenes daquilo que é “humano”, as formas vivas do “homem novo”. Cristo indica com clareza que o caminhar deve ter presente a temperança e o domínio dos desejos, isto na raiz, na esfera puramente interior. O ethos da redenção contém em todos os âmbitos o imperativo do domínio de si, a necessidade de uma imediata continência e de uma habitual temperança. (João Paulo II, Catequese de 03.12.1980).
            O pudor, entendido como sentimento de recato e de vergonha, especialmente no que se refere à esfera sexual, representa elemento fundamental da personalidade. É uma experiência instintiva de proteger o que consideramos íntimo, tanto em nosso corpo como em nossas vivências pessoais. É um sinal de que devemos atenuar ou retirar tudo aquilo que poderia suscitar a malícia nos demais e que ameaça a transparência, a retidão de intenção e, consequentemente, a espontaneidade em nossas relações com os outros. No plano moral, trata-se da “consciência vigilante”.  Desse modo o pudor não é somente um mecanismo de proteção, mas também “órgão do desenvolvimento espiritual” e o “mediador da unidade da alma com o corpo”.
            O pudor atinge a relação do homem consigo mesmo, com os outros e com o mundo. Seu valor não é absoluto, nem mesmo na esfera sexual, já que neste campo a primazia cabe ao amor, para o qual é orientado e ordenado o próprio pudor. Onde há amor, o pudor se aperfeiçoa e amadurece, continua sendo, neste caso, o guardião atendo do ser e o sinal de que se rejeita a redução do encontro amoroso à sua mera dimensão corpórea. É uma reserva de intimidade, de segredo, de força, gerador de força espiritual e, como tal, principalmente nos anos de formação da personalidade, o baluarte mais seguro da vida moral. Se o pudor é força, o impudor é fraqueza espiritual e até metafísica. Quem reduz a pessoa à corporeidade desconhece seu sentido mais profundo e sua dimensão metafísica.
            Quando a vergonha desaparece, significa que a pessoa é experiente na delinquência, já não pode esconder suas misérias.
            A castidade não deve ser confundida com beatice. Uma pessoa que vive castamente não é um joguete dos seus desejos, mas vive conscientemente a sua sexualidade pelo amor e como expressão desse amor. A falta de castidade enfraquece o amor e obscurece o sentido. A Igreja Católica defende o princípio “ecológico”, isto é, totalizante, da sexualidade: primeiro, contém o desejo sexual que é algo bom e belo; segundo, o amor pessoal; terceiro, a vitalidade, ou seja, abertura aos filhos. Tais aspectos são indissociáveis. Quando um homem tem uma mulher para o prazer sexual, uma segunda para o romantismo e uma terceira para ter filhos, ele instrumentaliza todas as três e não ama realmente nenhuma.
            Uma pessoa torna-se livre para o amor através da autodisciplina, que se deve adquirir, exercitar e conservar em cada etapa da vida. Para isso contribui, em qualquer situação, permanecer fiel aos Mandamentos de Deus, fugir ou guardar-se das tentações, evitar toda a forma de vida dupla. Poder viver um amor puro e indiviso é, portanto, uma graça e um maravilhoso dom de Deus.
            Está claro que ninguém conseguirá combater eficazmente o mau hábito se não adquirir a consciência de que a pretensa “necessidade” é meramente fictícia, podendo ser debelada mediante reta atitude de ânimo ou mediante firmeza de vontade (à qual jamais faltará a graça de Deus). Caso alguém, talvez vencido pela vergonha, se disponha a reprimir o vício da incontinência, julgando que vai sufocar um ímpeto vital com prejuízo para a sua saúde, cairá naturalmente num estado de exacerbação nervosa ou de neurastenia, acrescentando novo mal ao anterior.
            Recomenda-se, igualmente, em vista da conservação da castidade, a disciplina geral dos sentidos e dos prazeres: o jovem se acautelará contra conversas, leituras e divertimentos tendenciosos ou libertinos, os quais, contribuindo para amolecer o ânimo, só fazem diminuir ou solapar o poder de resistência às paixões.
            Além do mais, o cristão sempre levará em conta o papel imprescindível da graça divina para a reforma dos costumes e a aquisição das virtudes. Em consequência, na sua  vida espiritual, o discípulo de Cristo recorrerá à oração; a seguir, utilizará os múltiplos meios de santificação que Cristo oferece aos seus fiéis na Santa Igreja (entre os quais ocupam lugar primacial os sacramentos). A fidelidade ao Senhor será sempre o grande esteio de uma vida humana nobre e reta; o amor a Deus vem a ser a expressão por excelência do instinto de amor que todo ser humano experimenta dentro de si e que tão espontaneamente tende a se atuar na vida sexual; esta será digna e dignificante se for plenamente subordinada ao amor de Deus. “Conhecer a Deus é viver, e servir a Deus é reinar”. 

Conclusão
            Vimos que a castidade é um caminho seguro para chegar ao amor verdadeiro, base sobre a qual se pode formar uma família estável. A pessoa que não aprende o autodomínio terá maior dificuldade para viver a sua relação com o outro.
            Assim, como mandamento de Deus, há duas formas de obediência. A primeira é a de quem reconhece o poder de quem manda e se submete e a segunda é a de quem reconhece os valores que motivam a autoridade e assume esses valores como próprios, vendo na obediência a grande forma de concretização desses valores. Jesus não veio mudar a lei, mas mostrar as suas motivações, os seus valores, a fim de que a sua observância não seja um jugo, mas uma forma de realização pessoal. Uma verdadeira castidade não se poderá cultivar senão na base de conceitos claros e de noções morais que o indivíduo procurará aprofundar continuamente e que ele aprenderá a estimar.
            Vivemos em um ambiente social no qual já não se pode, para guardar a castidade, confiar em proteções exteriores, como a separação dos sexos, a ausência de contato com o mundo e as outras numerosas precauções com que, no passado, se rodeava a observância desse voto. Hoje tudo isso depende em grande parte de cada pessoa e pode basear-se apenas em fortes motivações pessoais. Mas, o desenvolvimento de uma educação sexual firme e responsável, que busque mostrar o papel insubstituível da virtude na realização como pessoas humanas e como herdeiros da eternidade. Não há uma terceira escolha: ou o jovem converte a sexualidade em força personalizadora ou ela há de perverter a juventude. Nesta aprendizagem custosa haverá fracassos e recuos, mas isto mesmo irá ajudar no aprofundamento e compreensão do sentido verdadeiro relacionado com o amor, a vida, a fecundidade e a doação.

           
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[1] Declaração Persona Humana sobre Alguns Pontos de Ética Sexual, n. 3-5.
[2] Dicionário de Teologia Moral, 1997, p. 845.
[3] Sexualidade Humana: Verdade e Significado, n. 54
[4] Exortação Apostólica FamiliarisConsortio, n. 33

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