O presente trabalho tem como
objetivo produzir uma síntese do conteúdo das duas cartas endereçadas à Timóteo
pelo apóstolo Paulo no intuito de permitir o entendimento geral de seus
conteúdos.
O nome Timóteo significa no grego “o que honra a Deus”. O destinatário das Epístolas sob enfoque,
assim chamado, era natural de Lystres em Lycaonia e filho de um grego casado
com uma judia[1].
Foi por sua mãe e avó educado no judaísmo[2],
Vale destacar que as mencionadas cartas, juntamente com a
carta endereçada a Tito, desde o século XVIII são geralmente conhecidas como
‘cartas pastorais’. “Essas cartas se distinguem das outras do corpus paulinum não tanto porque endereçadas a uma pessoa em
particular, mas, sobretudo porque dirigidas a chefes de comunidade com um
discurso de caráter oficial que interessa a toda a comunidade (FABRIS, 1992 p
211).
A crítica bíblica moderna tem contestado seriamente a
tese de que Paulo escreveu as chamadas epístolas pastorais. O vocabulário de
tais escritos difere das cartas indiscutivelmente paulinas. “Os temas
audaciosos das cartas paulinas aqui são apenas preceitos, mas acima de tudo a
visão da Igreja tem significativa diferença das encontrada nas cartas de
Paulo.” (BERGANT, 2013 p 283).
Embora valiosa para os estudos históricos, aqui a questão
da autenticidade autoral não se faz importante, eis que, pelo motivo elencado, as
cartas não são menos valiosas para fé e o seu valor neste trabalho vem do fato
de serem inspiradas por Deus e importantes para a Igreja entender a si mesma.
Podemos notar que tais cartas, sobretudo a 1 Timóteo,
parecem códigos ampliados de deveres domésticos, forma comum de exortação na
literatura pagã, judaica e cristã. Além disso, são coletâneas de matérias
morais bastante tradicionais, que repercutem não só fontes evangélicas, mas
conselhos paulinos a suas Igrejas e também elementos originários de Pedro. O
que é mais importante é que nelas encontramos um documento formal que atesta a
situação atual de Timóteo como chefe religioso e que posteriormente confere
autoridade a seus sucessores. “Essas cartas, portanto, realçam a ordem
religiosa e a moralidade e, assim, funcionam como constituições oficiais”
(BERGANT, 2013 p 283).
Como todas as Epístolas de Paulo, temos que as cartas sob
comento foram compostas em grego. Pode-se notar que a primeira epístola a
Timóteo não é organizada e desenvolvida de um modo sistemático e uniforme. Os
assuntos tratados são variados e sucedem-se rapidamente. Consta dela duas
partes, a saber:
a) A
primeira (capítulos 1 a 3) expõe o que são o serviço e o bem da Igreja.
b) A
segunda (capítulos 4 a 6) o que deve fazer o fiel ministro desta.
A
primeira parte começa pelo endereçamento, saudação e uma espécie de preâmbulo
sobre o bom combate que o pastor de almas deve sustentar por Cristo e pela
Igreja[3], onde Paulo destaca o
comportamento genuíno de uma pregação, que deve excluir tudo que seja doutrina
vã e estimular o zelo e a caridade. Em seguida, pede orações por todos,
principalmente pelos que governam, porque destes depende a conservação da ordem
e a tranquilidade pública. Acentua a verdade dogmática de que Deus quer a
salvação de todos os homens e Cristo morreu por ela e é o mediador entre seu
Eterno Pai e a humanidade. Traça regras sobre o modo licito, decoroso e
conveniente de celebrar o culto, mostrando como e por quem devem ser feitas as
preces públicas, e que nelas não tem as mulheres papel saliente, e lhes cumpre
só acompanha-las[4].
Por último, dá instruções sobre a escolha e formação dos ministros sagrados,
rendendo uma solene homenagem à santidade e infalibilidade da Igreja[5].
A
segunda parte, que é mais pessoal, subdivide-se também em três partes, sendo
que a primeira se ocupa das heresias que surgem, razão pela qual adverte o
discípulo para que se lhe dê combate, esclarecendo e instruindo os fiéis e em tudo
os guie com a sua palavra e o bom exemplo[6]. Na segunda[7], discorre sobre os deveres
do bispo em relação às diversas categorias de pessoas de que se compõe o seu
rebanho. Na última parte[8], refere-se às paixões e
aos erros e desordens dos que corrompem e repelem o ensino de Jesus Cristo,
assinala o mérito inextinguível das boas obras e conclui dirigindo conselhos e
exortações especiais e intimas do mestre ao discípulo, que terminam pela de que
se acautele contra as novidades da linguagem no que respeita às verdades da fé
e contra o que com o falso nome de ciência se opõe a doutrina e aos preceitos
da salvação eterna.
Os
ensinamentos práticos da primeira epístola a Timóteo são numerosos e de
aplicação geral para todos – bispos, sacerdotes, diáconos e leigos.
A
segunda epístola de São Paulo a Timóteo pode ser igualmente dividida em três
partes, a saber:
a) Preâmbulo
com endereço, saudação e ação de graças[9], seguindo com uma
exortação a Timóteo, para que, se envergonhar nunca de seu ministério, o
desempenhe cada dia mais zeloso e intrépido, tendo inteira confiança em Deus,
que o chamou e a Paulo, e o tem sustentado em sua pregação no meio de tantos
perigos[10];
b) Segunda
parte dirigida contra falsos doutores que já se mostram em Éfeso, e cujos erros
e vícios o apostolo descreve em rápidos e vivos traços, animando-o a
combatê-los com coragem, mas sem temer pela Igreja, a qual triunfará também
encima de inimigos cada vez mais audazes que hão de surgir[11];
c) Na
terceira[12]
faz considerações sobre o dever de guardar a doutrina recebida, o valor
múltiplo da Sagrada Escritura e a necessidade, para o pastor, de não cessar a
pregação e defender de todos os perigos o rebanho. O epílogo[13] comunica que ele espera a
morte, mas com ela o prêmio eterno, que também tocará aos que o imitarem. Dá
notícias de si e de outros, pede a Timóteo que venha até ele e consigo Marcos,
envia saudações suas a alguns, saúda-o em nome de outros e conclui.
Entre
os pontos dogmáticos tratados nesta Epístola notam os seguintes:
a) O
caráter sacramental da Ordem[14];
b) A necessidade
e mérito das boas obras[15];
c) A
inspiração e utilidade das Santas Escrituras[16];
d) O
respeito e a fidelidade à tradição[17]
Sobre
o estilo e caráter desta Epístola, observa-se que esta tem mais forma epistolar
que a primeira, a qual parece antes uma instrução do que uma carta e, sobre o
seu valor doutrinal e literário, podemos notar que reina uma ternura de
expressão e de imagens que fazem desse último escrito do grande Apóstolo um
modelo de eloquência, “no qual a sua mente e coração projetam como que um
derradeiro fulgor, semelhante ao do sol no momento em que, prestes a sumir-se
no horizontem expede raios suaves com os quais parece enviar-nos seu adeus”
(PEREIRA, 1912 p 149).
Finalmente,
podemos afirmar que essas preciosas Epístolas devem ser lidas e relidas, bem
como mantidas, por pastores e fiéis, continuamente diante dos olhos para delas
fazer a regra constante de sua conduta e chegar assim, cada um no que lhe toca,
à santidade e à perfeição de que o Apostolo Paulo, guiado pelo Espírito Santo,
elencando regras que nunca deixaram de consultar os membros do corpo místico de
Cristo que quiserem desempenhar fielmente suas obrigações e corresponder à
vocação a que os chamou aquele que é Salvador do mundo.
REFERÊNCIAS
BERGANT, Dianne. Comentário
Bíblico Volume 3: Evangelhos, Atos, Cartas e Apocalipse 7ed. São Paulo: Loyola,
2013.
BÍBLIA DE JERUSALÉM. Nova
edição, revista e ampliada. São Paulo: Paulus, 2010.
FABRIS, Rinaldo. As Cartas
de Paulo (III). São Paulo: Loyola, 1992.
PEREIRA, José Basílio. Novo
Testamento: Epístolas dos Apóstolos e Apocalipse. Salvador (BA): Tipografia de
São Francisco, 1912.
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