sexta-feira, 17 de abril de 2015

Dons Carismáticos


Dons Carismáticos nas Epístolas de Paulo à comunidade de Corinto

Trata o presente trabalho de examinar as Epístolas de Paulo aos Coríntios (I e II) sob a ótica dos dons carismáticos do Espírito Santo que, segundo o próprio São Paulo, é uma manifestação do Espírito em proveito do Corpo de Cristo (I Cor 12,27-30).
“A propósito dos dons do Espírito, irmãos, não quero que estejais na ignorância”. Assim começa São Paulo o capítulo 12 de sua primeira carta aos Coríntios com o desejo de informá-los sobre os dons espirituais. “Quer que compreendam o que sejam e como devem funcionar na vida da Igreja. Está preocupado porque sabe que os dons espirituais podem ser uma fonte de força para a Igreja, tanto quanto ocasião de problemas” (CLARK, 1983 p.5). As palavras-chave empregadas por São Paulo são: manifestação do Espírito, para proveito comum, dom gratuito, espiritual, poder, serviço.
        Em ambas as cartas, São Paulo evidencia a dimensão renovadora e escatológica da obra do Espírito, que visto como a fonte da vida nova e eterna comunicada por Jesus à sua Igreja. Na primeira Carta aos Coríntios lemos que Cristo, novo Adão, em virtude da ressurreição, Se tornou “Espírito vivificante” (I Cor 15,45-46). Isto é, foi transformado pela força vital do Espírito de Deus de maneira que Se tornou, por Sua vez, princípio de vida nova para os crentes. “Cristo comunica esta vida precisamente através da efusão do Espírito Santo” (AQUINO, 2003, p.12).
        O crente como indivíduo e a Igreja como um todo, são o templo do espírito, que os habita (I Cor 3,16; 6,19; 8,11). A posse atual do espírito é um penhor (II Cor 1,22; 5,5) da salvação escatológica do cristão. O espírito torna o cristão capaz de orar (I Cor 12,3). E o efeito característico do espírito são os “dons” como a profecia e as línguas (ICor 12 e 14). Estas e semelhantes manifestações são um testemunho do Cristo ressuscitado e certeza da esperança cristã (I Cor 14,14-16).
    O espírito é uma força da fé; ele revela e perscruta “as profundezas de Deus”, seus atos salvíficos, que são conhecidos pelo cristão somente pelo espírito que ele possui (I Cor 2,10-16), por isso ele é chamado espírito de fé (II Cor 4,13). Quando falamos em dons carismáticos, falamos de graças de Deus e da ação divina na Igreja e em nossas vidas. Se a Igreja nasce de Deus e é manifestada no mundo aos homens na pessoa e na missão de Jesus, edificada sobre os apóstolos, ela é também vivificada pelo Espírito Santo, enviado no Pentecostes, a fim de santificar a Igreja e adorná-la com seus frutos (I Cor 12, 4-7). É do Espírito Santo que a Igreja recebe seus carismas conforme lhe apraz. Espírito e carisma pertencem à Igreja unicamente porque ela os recebeu como dons gratuitos do Pai por Jesus Cristo. Por conseguinte, os carismas, como todos os outros dons espirituais, são a manifestação de uma única realidade: a vida abundante do Espírito, pois os dons não são separáveis do Doador. O Espírito Santo é o dom por excelência.
Os carismas são graças, isto é, são manifestações de Deus em nós; são ação criadora de Deus presente e atuante no homem. São dados a nós como dons gratuitos, não dependendo de méritos nem esforços humanos, como dons espirituais, que provêm do Espírito Santo, que consistem em um poder, capacidade para realizar algo, e cuja finalidade é um serviço em favor da comunidade cristã.
        O espírito aparece também em Paulo como sede da consciência e das funções psíquicas (I Cor 7,34; 2 Cor 7,11), equivale à alma (I Cor 16,18; II Cor 2,13). O Espírito Santo habita na Igreja não como um hóspede que, em todo o caso, permanece estranho, mas como a alma que transforma a comunidade em “templo santo de Deus” (I Cor 3,17; 6,19). À parte os diversos elementos descritos por São Paulo, é necessário sublinhar o critério que há de reger qualquer participação dentro da comunidade: que “tudo se faça com decoro e com ordem” (I Cor, 14,40).
        Os dons efusos do Espírito Santo são dons extraordinários dados pelo Espírito aos batizados, são também conhecidos como dons de serviço, pois servem para a evangelização e o pastoreio da Igreja. São “Carismas”.  São concedidos para a edificação do Corpo de Cristo, a saber:
  1. Dom de falar em Línguas: O dom de línguas é um dom de oração. Este dom vem socorrer a nossa dificuldade de orar: nós não sabemos “o que” nem “como” pedir a Deus ou o que dizer a Deus. Ele vem suprir nossa oração fraca e débil, vem nos fazer orar, mas orar segundo a vontade de Deus. O próprio Espírito Santo que habita em nós, ora em nós e por nós. Vem nos capacitar a orar de forma divina. Concede aos fiéis o dom de “cantar” em línguas. “Cantarei com o Espírito” (I Cor 14,14). Isto significa que o Espírito Santo através do dom de línguas, utiliza-nos para elevarmos um canto ao nosso Deus, levando-nos a expressar-lhe um louvor no Espírito a Deus. O Espírito nos capacita a glorificar o Senhor de maneira profunda, sincera e perfeita. Nesse louvor no Espírito, unimo-nos aos anjos e santos, que não cessam de, no céu, louvar o Senhor. O dom de línguas também se manifesta através de “falar” em línguas, que significa proclamar uma mensagem de Deus a um grupo ou assembléia de oração, através de línguas estranhas.
  2. Dom de Interpretação das Línguas: “… a outros, por fim, a interpretação das línguas” (I Cor 12,10). Ao proclamarmos uma mensagem de Deus em línguas é necessário suplicarmos o dom de interpretar-la, pois toda mensagem de Deus para o seu povo tem o objetivo de edificá-lo. E ao proferirmos palavras ininteligíveis, como se compreenderá o que dizemos? Seremos como quem fala ao vento (I Cor 14,9). O Espírito Santo concede que se compreenda o que está sendo dito em línguas. Esta compreensão se dá com o “coração”, e não através de uma tradução conceitual e gramatical das palavras. Este carisma pode ser dado tanto à pessoa que está orando ou falando em línguas, quanto a outra pessoa que está participando do grupo de oração. “Aquele que tem o dom de falar em línguas reze para ter o dom de interpretá-las (I Cor 14,13).
  3. Dom de Profecia: Deus se manifesta aos homens também através do dom da profecia. São Paulo considera o dom da profecia superior a todos os outros dons (I Cor 14,13), pois reconhece que através deste dom, Deus fala claramente e de forma simples, mas direta, com o homem (I Cor 14,5). O dom da profecia é para todos os homens de boa vontade e de fé que querem recebê-lo (I Cor 14,30).
  4. Dom de Ciência: A palavra de ciência é o dom através do qual o Senhor faz com que o homem entenda as coisas da maneira que ele entende; faz com que o homem penetre na raiz de cada acontecimento, fato, situação, estado de espírito. Portanto, através deste dom o Senhor dá um diagnóstico de um fato, uma situação, um estado de espírito… e do que Ele quiser revelar (I Cor 12,8).
  5. Dom da Sabedoria: “A um é dada pelo Espírito uma palavra de sabedoria” (I Cor 12,8). A palavra de sabedoria inspira o homem a conhecer como deve ser seu comportamento em cada situação, em cada vez que tem que resolver um fato ou um problema, a falar inteligentemente em situações concretas da sua vida ou de sua comunidade, levando-o a decidir acertadamente e de acordo com a vontade de Deus.
  6. Dom carismático da Fé: “a outros é dado pelo Espírito, a fé” (I Cor 12,9). O carisma da fé é uma graça especial que nos dá a certeza de que Deus agirá, de que o poder de Deus irá intervir em alguma situação da vida do homem confirmando nossa ação e oração com o sinal que lhe pedimos. É uma graça à qual devemos nos abrir e pedir a Deus. Pela fé carismática cremos que Deus opera hoje maravilhas em favor do seu povo. A fé move a manifestação do poder de Deus.
  7. Dom dos Milagres: “a um é dado pelo Espírito o dom de milagres” (I Cor 12,10). O dom de milagres é a ação do Espírito Santo que, para o bem de alguém, modifica o curso normal da natureza. O milagre é uma intervenção clara, sensível e visível de Deus no decurso “ordinário” ou “normal” dos acontecimentos: curas instantâneas de doenças incuráveis, ressurreição dos mortos, fenômenos extraordinários da natureza.
  8. Dom das Curas: “a outro, a graça de curar as doenças no mesmo Espírito” (I Cor 12,9). O dom das curas pode se manifestar de três formas. Tomando-se por base as três dimensões do homem: corpo, alma e espírito, compreendemos que este mesmo homem pode ser atingido por enfermidades em suas três dimensões. Existem os males físicos, os da alma ou interiores e espirituais. Se somos atingidos em qualquer área interior, necessitamos de uma cura interior. Se somos atingidos em nosso espírito, contaminando-nos com falsas doutrinas e apartando-nos sã doutrina da salvação, precisamos de uma cura espiritual ou libertação. Se somos atingidos no corpo com alguma enfermidade, necessitamos de uma cura física.
  9. Dom do discernimento dos Espíritos: “A outro é dado pelo Espírito o discernimento dos espíritos” (I Cor 12,10). Este dom nos permite discernir, examinar, perceber e identificar em nós mesmos, nas outras pessoas, nas comunidades, nos ambientes e nos objetos o que é de Deus ou o que é da natureza humana, ou ainda, o que é do maligno.
Ao falar dos dons espirituais, São Paulo nos dá uma relação do tipo de dons que tem em mente. “Há outras listas de dons espirituais, no Novo Testamento, mas não são os mesmos relacionados em I Cor 12,4-11, donde se conclui que São Paulo não estava tentando dar uma relação completa de todos os dons espirituais. Dá-nos exemplos suficientes destes para que possamos entender de que está falando” (CLARK, 1983 p. 11)
Podemos depreender que Carisma é uma manifestação do Espírito em proveito do Corpo de Cristo. Mais especialmente, é um dom gratuito (logo não depende de méritos nem de esforços humanos), espiritual (isto é, do Espírito Santo que atua em nosso espírito), que consiste em um poder (ou capacidade de realizar algo) e cuja finalidade é um serviço em favor da comunidade cristã. É difícil saber o que Paulo escreveria para a Igreja de hoje. Ele não queria que os Coríntios permanecessem ignorantes, mas poucos católicos, hoje, sabem alguma coisa sobre aquilo que Paulo queria que os Coríntios soubessem. São poucos os que compreendem o que são os dons espirituais e qual o seu lugar na vida da Igreja, razão pela qual se torna mais importante compreender o significado e o lugar dessas “manifestações do Espírito” na vida da Igreja.
  
Referências
ALDUNATE, CARLOS. Carismas, Ciência e Espíritos. 2ed. São Paulo: Loyola, 1981.
AQUINO, FELIPE. O Espírito Santo: Papa João Paulo II. Lorena, SP: Cléofas, 2003.
BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulus, 2010.
BÍBLIA DO PEREGRINO. 3 ed. São Paulo: Paulus,2011.
CHAVE BÍBLICA CATÓLICA. Organizado pela Equipe Editorial Ave-Maria. São Paulo: Ave-Maria, 2012.
CLARK. STEPHEN B. Os Dons Espirituais. 5ed. São Paulo, Loyola, 1983.
FLORES, JOSÉ H. PRADO. As Reuniões de Oração: como prepará-las e dirigi-las. São Paulo, Loyola, 1978.
McKENZIE, JOHN L. Dicionário Bíblico. São Paulo: Paulus, 1984

Boa Leitura

Nenhum comentário:

Postar um comentário