sábado, 6 de dezembro de 2014

Heresias






O que é Heresia?

Consoante o Catecismo da Igreja Católica “Chama-se heresia a negação pertinaz, após a recepção do Batismo, de qualquer verdade que se deve crer com fé divina e católica, ou a dúvida pertinaz a respeito dessa verdade”.

Heresia Trinitária

Tema: Arianismo

       Defensor: Ario. Sacerdote de Alexandria pertencia à escola de Luciano de Antioquia e que, no ano de 313, foi encarregado da pastoral da Igreja Baukalis, de Alexandria onde defendia publicamente as suas teses.

Doutrina segundo a qual o Filho de Deus é uma criatura, certamente a mais eminente e a primeira criada; somente o Pai é eterno. Foi um dos mais sérios problemas doutrinários que se puseram na Igreja antiga, foi o da conciliação da unidade de Deus (firmemente professada no Antigo Testamento) com a Trindade de Pessoas (Pai, Filho e Espírito Santo, tais como nos foram revelados pelo Novo Testamento).

O arianismo era pior que um cisma, pois negava uma verdade da fé: a divindade de Cristo. Ario baseava-se em algumas frases do Evangelho que falavam que Jesus era “inferior” ao Pai. Por exemplo: Cristo disse: “O Pai é maior do que eu” (Jo 14,28). Daí Ario tirou uma conclusão: se Jesus é inferior ao Pai, Ele não é Deus, como o Pai, uma “criatura”. Segundo Ario, Cristo seria o mais perfeito de todos os seres humanos, adornado de todas as virtudes, mas não seria Deus.

Essa heresia espalhou-se rapidamente entre os teólogos e entre o povo. Era o mistério da Santíssima Trindade e a obra divina da Redenção que estavam em jogo. Pois, se Cristo não fosse Deus, não podia salvar ninguém.

O primeiro a levantar a voz contra essa heresia foi um leigo: o teólogo Atanásio, de Alexandria. Depois foi feito bispo e veio a ser um grande santo.  Ele mostrou que, quando Jesus dizia que era “inferior” ao Pai, a frase não podia ser entendida de maneira absoluta. Pois, aí, Jesus estava falando de sua condição humana. E, como Homem, realmente Ele se fez o “servidor” do Pai na obra da Redenção. Mas fazendo-se homem, Jesus não havia deixado de ser Deus. Atanásio lembrava que as frases da Bíblia não podem ser tomadas isoladamente. Devem ser vistas dentro de seu contexto. Pois, em outros lugares a Bíblia fala da divindade de Cristo.

Referida heresia estava criando polêmica e divisão. Então Constantino, preocupado com a unidade do Império, convocou uma reunião geral dos Bispos para que, juntamente com o Papa, resolvessem a questão. Foi este o primeiro Concílio Ecumênico, realizado em Nicéia, no ano 325.

Para definir a verdadeira fé frente à heresia de Ario, fez-se o Concílio em Nicéia. Reuniram-se 300 bispos. O arianismo foi condenado e o grande defensor da divindade de Cristo foi Santo Atanásio, que na ocasião era diácono. O Concílio acrescentou ao Símbolo Apostólico algumas frases referentes à divindade de Cristo. Daí surgiu o “Símbolo Niceno”. Diz que Jesus é:

Deus de Deus, Luz da Luz,
Deus verdadeiro de Deus verdadeiro
gerado, não criado,
consubstancial (homoousios) ao Pai,
Por ele todas as coisas foram feitas,
E por nós, homens, e por nossa salvação
Desceu dos céus.

A palavra homo ousios torna-se, de então por diante, a senha da reta doutrina. Significava que o Filho é da mesma natureza (= Divindade) que o Pai; não saiu do nada como as criaturas, mas desde toda a eternidade foi gerado sem dividir a natureza divina.

Mesmo sendo condenado como heresia, o arianismo continuou ganhando novos seguidores.  O Papa Libério (352-366) sofreu muito. Viu a maioria dos bispos passar para o arianismo. Os bispos arianos chegaram a eleger Ario para o importantíssimo cargo de Patriarca de Constantinopla. Mas Ario morreu antes de tomar posse. Hoje ela não existe mais como o nome de arianismo, mas há seitas modernas que não acreditam na divindade de Cristo.

Heresia Cristológica

Tema: Nestorianismo

         Defensor: Nestório. Elevado à cátedra episcopal de Constantinopla de 422 a 432. Afirmava que o Logos habitava na humanidade de Jesus como um homem se acha num templo ou numa veste. Haveria duas pessoas em Jesus: uma divina e outra humana. Elas estariam unidas entre si por um vínculo afetivo ou moral.

Afirmada a existência da natureza humana completa em Jesus, os teólogos puderam estudar mais detidamente o modo como a humanidade e Divindade se relacionaram em Custo. Antes, porém, vale mencionar as duas principais escolas teológicas da antiguidade: a alexandrina e a antioquena, que muito influíram na elaboração da cristologia. Por conseguinte, Maria não seria a Mãe de Deus (Theotókos), como diziam os antigos, mas apenas Mãe de Cristo (Christokós); ela teria gerado o homem Jesus, ao qual se uniu a Segunda pessoa da Santíssima Trindade com a sua Divindade. Os predicados humanos e divinos não podem ser usados a não ser para o Cristo, mas não para o Logos (Verbo).

Nestório propunha suas idéias em pregação ao povo, nas quais substituía o título “Mãe de Deus” por “Mãe de Cristo”. As suas concepções suscitaram reação não só em Constantinopla, mas em outras regiões também, especialmente em Alexandria, onde São Cirilo era Bispo ardoroso. Este escreveu em 429 aos bispos e aos monges do Egito, condenando a doutrina de Nestório.

As duas correntes e dirigiram ao Papa Celestino I, que rejeitou a doutrina de Nestório num sínodo de 430. Deu ordem a São Cirilo para que intimasse Nestório a retirar suas teorias, sob pena de exílio. São Cirilo enviou ao Patriarca de Constantinopla uma lista de doze anatematismos, que condenavam o Nestorianismo. Nestório não quis se dobrar, uma vez que contava com o apoio do Imperador.

O Imperador Teodósio II, instado por Nestório, convocou para Éfeso em 431, o terceiro Concílio Ecumênico a fim de solucionar a questão discutida. São Cirilo, como representante do Papa Celestino I, abriu a assembleia diante de 153 Bispos. Logo na primeira sessão, foram apresentados os argumentos da literatura antiga favoráveis ao título Theotókos, que acabou sendo solenemente proclamado; daí se seguia que em Jesus havia uma só pessoa (a Divina); Maria se tornara Mãe de Deus pelo fato de que Deus quisera assumir a natureza humana no seu seio.

Todavia, chegou a Éfeso o Patriarca João de Antioquia, com 43 Bispos seus seguidores, todos favoráveis a Nestório. Não quiseram unir-se ao Concílio presidido por São Cirilo e por isso formaram um conciliábulo, que depôs São Cirilo. O Imperador acompanhava tudo de perto e sentia-se indeciso. Mas São Cirilo, com o auxilio da irmã piedosa e influente do Imperador, Pulquéria, convenceu Teodósio II a seguir a reta doutrina e, assim, Nestório foi exilado.

Apesar de condenado, o Nestorianismo não se extinguiu. Os seus adeptos, expulsos do Império Bizantino, foram buscar refúgio na Pérsia, onde fundaram a Igreja Nestoriana.

Ao Papa São Celestino atribui-se também a introdução da segunda parte da Ave-Maria, isso é: “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte!”.

Heresia sobre questões Soteriológicas

Tema: Pelagianismo

       Defensor: Pelágio (360 a 420). Monge da Grã-Bretanha, asceta e diretor espiritual, que residiu durante longo tempo em Roma, de 384 a 410; depois, diante da invasão de Alarico, refugiou-se na Palestina.

Sua doutrina minimizava o papel da graça. Exaltando o primado e a eficácia do esforço voluntário na prática da virtude, Pelágio estima que esta esteja em poder do homem; basta que Deus dê o livre arbítrio e a lei moral: a graça desempenha no máximo o papel coadjuvante; a liberdade não sofreu nada pelo pecado de Adão, que se reduz a mau exemplo. Batava querer. Segundo sua doutrina, o homem (ou a mulher) nascia sem o pecado original, num estado de perfeição, como Adão e Eva antes da queda. No fundo, era um orgulho por parte da criatura.

A favor de Pelágio estava um ex-monge chamado Celéstio. E contra a heresia de Pelágio estava Santo Agostinho, que defendia a necessidade da graça de Deus para nossa Salvação. Para Agostinho, nós nascemos numa natureza fraca, propensa ao pecado. Somente por nossa força, jamais chegamos à Salvação. Não basta querer. Precisamos do auxílio da graça. É Jesus quem nos salva. A Salvação é obra de Deus, não dos homens.

E, para afirmar isso, Santo Agostinho baseava-se na própria palavra de Deus. Jesus disse aos discípulos: “Sem mim, nada podeis fazer” (Jo 15,5). Falou ainda o Senhor: “É pela graça que fostes salvos, mediante a fé. Não é de vós mesmos que bem a fé: é dom de Deus. Não provém das boas obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2,8-9).

A heresia de Pelágio foi condenada no Sínodo de Cartago (411) e no Concílio de Éfeso (431). Ficou definido que a salvação é fruto da graça de Deus. É claro que o homem entra também com sua participação, acolhendo a graça no seu coração, para que esta não fique em vão. Santo Agostinho disse: “Deus te criou sem ti, mas não quer salvar-te sem ti”.


Até a próxima!

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