sábado, 9 de agosto de 2014

São Lucas: Paixão e Ressurreição de Jesus

Evangelho de São Lucas (Capítulos 23 e 24) - Parte IV


As mulheres choram, em luto. 

Por quê? – pergunta Jesus. 

Não devem chorar por ele e por todos os justos que são sacrificados inocentemente. Devem chorar, sim, porque o projeto de Deus está sendo rejeitado, e isso lhes custará muito caro.

Custou toda a luta realizada nos anos 66-70 d.C, quando a Palestina e Jerusalém foram completamente subjugadas pelo império romano. 

Custa até hoje todo o sofrimento da grande maioria da humanidade, explorados e oprimidos por uma minoria poderosa. Jesus e seu projeto são a esperança de um mundo novo.

Se fazem isso com um justo inocente o que não farão com um injusto culpado?

A natureza das tentações é a mesma: deixar tudo para salvar a própria pele. 

Em outras palavras, trair o projeto de Deus, negar tudo o que fora dito e feito até o momento, e salvar a própria vida. 

Mas Jesus vence as tentações uma a uma. Ambas perícopes apresentam Jesus como modelo de vitória humana sobre as tentações. Jesus aparece como o novo Adão, o protótipo de cada cristão na tentação e na vitória sobre ela. Após ter tentado Jesus exaustivamente no deserto, o diabo deixou Jesus até o tempo oportuno (Lc 4,13). Agora chegou este momento oportuno (Lc 23,35-39).

O coração da fé cristã é a morte e ressurreição de Jesus. É madrugada e as mulheres vão ao túmulo de Jesus, levando os perfumes que haviam preparado. Pensam encontrar um morto. 

A primeira surpresa foi, certamente, a de encontrar a grande pedra da entrada removida. Entram no túmulo, mas não encontram o corpo de Jesus, e ficam sem saber o que está acontecendo. 

É o que se chama de prova negativa da ressurreição de Jesus: ele não se encontra entre os mortos. Onde estará então? A prova positiva é o anúncio cristão, que aqui é dado pelos dois homens, vestidos com roupas brilhantes. São testemunhas que anunciam a ressurreição. Essa missão continua hoje e o primeiro anúncio feito por todos os cristãos, é o de que Jesus está vivo, conforme havia prometido. Jesus não deve ser procurado entre os mortos, porque está vivo. 

Desta forma, as primeiras a anunciarem são as mulheres. São elas que se preocupam em primeiro lugar com o corpo de Jesus. Graças a esse cuidado que elas são as primeiras a testemunhar o centro da fé, que é a passagem da morte para a vida. 

Não é dentro delas que o milagre da vida sempre se renova? Não são sempre elas que anunciam a boa notícia: estou esperando um filho? Também são elas que anunciam o primeiro filho da ressurreição. Contudo, os apóstolos não acreditaram nelas. Simplesmente porque as mulheres naquele tempo não tinham valor na sociedade. 

Pedro, porém, o chefe dos discípulos e futuro chefe da Igreja, vai conferir. Também ele não vê Jesus morto. 

Assim, temos o quadro completo: a ressurreição é testemunhada pelos que não contam (as mulheres) e pelos que lideram. Por que o testemunho dos pequenos e marginalizados é recebido com descrença? O fato de ser pobre e sem poder influi no testemunho cristão? Não deveria ser exatamente o contrário? 

O fato de os pobres e os fracos testemunharem é a maior prova da força transformadora da fé cristã. É o testemunho em si que derrota a arrogância dos poderosos que oprimem.

Até a quinta e última parte.


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