Evangelho de São Lucas (Capítulos 23 e 24) - Parte IV
As mulheres choram, em luto.
Por quê? – pergunta Jesus.
Não devem chorar por ele e por
todos os justos que são sacrificados inocentemente. Devem chorar, sim, porque o
projeto de Deus está sendo rejeitado, e isso lhes custará muito caro.
Custou toda a luta realizada nos anos
66-70 d.C, quando a Palestina e Jerusalém foram completamente subjugadas pelo
império romano.
Custa até hoje todo o sofrimento da grande maioria da
humanidade, explorados e oprimidos por uma minoria poderosa. Jesus e seu
projeto são a esperança de um mundo novo.
Se fazem isso com um justo inocente o
que não farão com um injusto culpado?
A natureza das tentações é a mesma: deixar tudo para salvar a própria
pele.
Em outras palavras, trair o projeto de Deus, negar tudo o que fora dito e
feito até o momento, e salvar a própria vida.
Mas Jesus vence as tentações uma
a uma. Ambas perícopes apresentam Jesus como modelo de vitória humana sobre as
tentações. Jesus aparece como o novo Adão, o protótipo de cada cristão na
tentação e na vitória sobre ela. Após ter tentado Jesus exaustivamente no
deserto, o diabo deixou Jesus até o tempo oportuno (Lc 4,13). Agora chegou este
momento oportuno (Lc 23,35-39).
O coração
da fé cristã é a morte e ressurreição de Jesus. É madrugada e as mulheres vão
ao túmulo de Jesus, levando os perfumes que haviam preparado. Pensam encontrar
um morto.
A primeira surpresa foi, certamente, a de encontrar
a grande pedra da entrada removida. Entram no túmulo, mas não encontram o corpo
de Jesus, e ficam sem saber o que está acontecendo.
É o que se chama de prova negativa da ressurreição de Jesus: ele não se
encontra entre os mortos. Onde estará então? A
prova positiva é o anúncio cristão, que aqui é dado pelos dois homens, vestidos
com roupas brilhantes. São testemunhas que anunciam a ressurreição. Essa missão
continua hoje e o primeiro anúncio feito por todos os cristãos, é o de que
Jesus está vivo, conforme havia prometido. Jesus não deve ser procurado entre
os mortos, porque está vivo.
Desta forma, as primeiras a anunciarem são as mulheres. São elas que se
preocupam em primeiro lugar com o corpo de Jesus. Graças a esse cuidado que
elas são as primeiras a testemunhar o centro da fé, que é a passagem da morte
para a vida.
Não é dentro delas que o milagre da vida sempre se renova? Não são sempre elas que anunciam a boa notícia:
estou esperando um filho? Também são elas que anunciam o primeiro filho da
ressurreição. Contudo, os apóstolos não acreditaram nelas. Simplesmente porque
as mulheres naquele tempo não tinham valor na sociedade.
Pedro, porém, o chefe dos discípulos e futuro chefe da
Igreja, vai conferir. Também ele não vê Jesus morto.
Assim, temos o quadro completo: a ressurreição é testemunhada
pelos que não contam (as mulheres) e pelos que lideram. Por que o testemunho
dos pequenos e marginalizados é recebido com descrença? O fato de ser pobre e
sem poder influi no testemunho cristão? Não deveria ser exatamente o contrário?
O fato de os pobres e os fracos testemunharem é a
maior prova da força transformadora da fé cristã. É o testemunho em si que
derrota a arrogância dos poderosos que oprimem.
Até a quinta e última parte.
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