Parte II
Nem o tempo de Jesus nem o da Igreja aparecem como realidade última.
Embora Lucas insista no fato de que, através de Jesus, realizaram-se as
promessas de Deus feitas no passado através dos profetas, ele não vê no tempo
da Igreja o fim da história.
Em um sentido é o reino de Deus presente na história que representa a
salvação hoje e no outro sentido a parusia que é o reino de Deus em sua
plenitude com a salvação escatológica na morada eterna.
O fim do caminho de Jesus é difícil e trágico, pois ele vai ser
incluído “entre os fora da lei”, isto é, como criminoso social. O caminho
exige, pois, resistência e luta. Na primeira missão nada faltou. O primeiro
anúncio é alegre e compensador. Mas as consequências são duras: perseguição,
traição, prisão, tortura, morte. É hora da luta: A espada é simbólica: lembra a
resistência e a ousadia de não voltar atrás. Não se trata da violência que
abafa ou destrói a vida, mas daquela que força o caminho para que a própria
vida se manifeste. É a atitude daqueles que estão convencidos de que vale a
pena lutar para que todos conquistem a liberdade e a vida. É preciso cumprir a
vontade de Deus, mesmo ao custo da própria vida com morte de cruz.
Em meio à Páscoa-Eucarística, surge a questão: Quem é o maior? Sinal
que os apóstolos não entenderam nada. Não perceberam que a justiça produz
igualdade, e esta se manifesta como partilha e fraternidade. Pelo contrário,
desejam o poder! Em resposta, Jesus contrapõe o costume das nações. O maior
será como aquele que serve. Dessa forma, Jesus inverte completamente o esquema
do poder. Não se trata mais de agir com o pano de fundo da desigualdade, mas
com o da igualdade. Em vista da igualdade, o poder de dominação cede o seu
lugar ao poder do amor, que não se impõe pela violência nem produz dominação. E
Jesus é o modelo. Ele é o maior, mas está entre todos como aquele que serve.
Quando soubermos respeitar aquele último que serve então certamente saberemos
respeitar a todos. E mais: é aquele que serve que se sentará como juiz para
julgar o povo de Deus!
Em Lucas 22,32, onde aparece o conteúdo da oração de Jesus, é por
Pedro que Jesus promete rezar, porque esse apóstolo terá um papel particular a
desempenhar na Igreja. Pedro recebe a missão de confirmar a fé de seus irmãos.
Por isso, é importante que sua fé não despareça. Seu serviço terá mais chance
de exercer-se na humildade e no amor a seus irmãos. O mais importante é que Ele tinha a atitude de um
servo com aqueles a quem Ele mirava (Lc 22,25-27). A vida e a morte de Jesus
são uma lição de serviço que os discípulos de ontem e de hoje devem assimilar.
O serviço está intimamente relacionado com a celebração da Eucaristia. A
Eucaristia é a celebração do radical serviço de Jesus, dando a sua vida.
Esta narração apresenta pormenores exclusivos de Lucas. Primeiro, o
costume de Jesus passar noites rezando no Monte das Oliveiras. “Os discípulos
seguiram a Jesus”.
Jesus está plenamente consciente da gravidade da situação. Sabe da
traição, e sabe que chegou o momento fatal. Por isso recomenda aos discípulos:
“Rezem para não caírem na tentação”. Essa frase de Jesus podia inspirar a
insistência de Lucas sobre a constância que deve caracterizar a oração do
discípulo de Cristo. Como Jesus, o cristão também deve rezar para não sucumbir.
A palavra tentação aparece duas vezes. A oração que Jesus dirige ao Pai
mostra que é a grande tentação: deixar tudo para salvar a própria pele. Em
outras palavras, trair o projeto de Deus, negar tudo o que fora dito e feito
até o momento, e salvar a própria vida. Mas Jesus vence a tentação: “Não se
faça a minha vontade, mas a tua”. Jesus
será fiel até o fim.
E os discípulos dormem. Estão completamente inconscientes do que está
para acontecer. E então descobrirmos o sentido da oração: manter-se consciente
e de prontidão, para não ser pego de surpresa e nem cometer a insensatez de
sair correndo.
É o momento mais difícil na vida dos discípulos. Um dos Doze trai
Jesus. Os outros não entendem o que está acontecendo. A tentativa de acompanhar
Jesus a certa distancia também se frustra. Pedro nega conhecer Jesus. Os outros
já se haviam sumido. A crença na ressurreição também é difícil. Mas ela acaba
envolvendo a todos.
Boa Leitura. Até Breve!!!
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