segunda-feira, 26 de junho de 2017

Racionalidade Econômica


    A Economia e a Escassez

A corrente principal de pensamento econômico ocidental define-se a si mesmo como a ciência da escassez. Muitas ciências analisam os comportamentos individuais e coletivos de muitos pontos de vista. A economia analisa esses comportamentos porquanto eles envolvem o problema da escassez. Por sua vez a escassez deve ser vista como um descompasso, um desajuste entre as necessidades e os recursos. A escassez só aparece quando existe desequilíbrio entre demanda e a oferta.
            A natureza humana produz inesgotáveis necessidades. E o simples fato de atender a determinados anseios não apaga os desejos, mas os desloca sobre outros objetos. As necessidades não se esgotam e o problema de escassez permanece sem solução. A palavra necessidade dá a impressão de que se trata de algo indispensável. A economia não cuida apenas do indispensável, interessa-se também pelo surpéfluo. A fronteira entre ambos é relativa. Hoje todos concordam que ter luz em casa é indispensável; há 200 anos, ninguém tinha; portanto era dispensável. No correr dos tempos certos bens e serviços tornam-se necessários simplesmente em função de seu uso social.  O curioso é que se observa certa tendência da pessoa em definir como dispensável e luxuoso  o consumo dos outros.
            A escassez lastreia uma propriedade econômica fundamental que é o valor. A falta que se sente ou que se irá sentir leva o homem a dar valor não só aos bens e serviços, mas também às pessoas, idéias, obras artísticas, emoções e a tudo e a todos que preza. A experiência humana universal confirma que o homem “valoriza apenas aquilo a que aspira em maior quantidade ou qualidade do que o disponível” (VERVIER, 1991, p 262).  O valor e seu conceito anexo de “riqueza” podem servir de fio da meada para contar a história do pensamento econômico.
            Para os mercantilistas primitivos, a riqueza era apenas o acúmulo de dinheiro. Os fisiocratas franceses refinaram o pensamento econômico identificando a verdadeira riqueza de uma nação com sua capacidade produtiva. Os marginalistas[1] escolhem um caminho mais abstrato: a riqueza aumenta com o grau de satisfação individual e coletiva. Para os economistas clássicos, o valor das coisas é de certa forma proporcional à quantidade de trabalho humano envolvido na sua produção. A definição aponta certamente um elemento gerador de valor essencial, mas ela peca por omissão, como ilustrado no exemplo abaixo:
A construção de uma ponte de concreto no meio da selva amazônica envolverá uma enorme quantidade de trabalho sem produzir nenhum valor. Se o produto não tem uma utilidade individual e social, ele não valerá nada mesmo que sua produção seja trabalhosa. (VERVIER, 1991, p 262).
            Assim, para se estabelecer o valor em regime de escassez no mercado, é importante levar em consideração os custos e as dificuldades para produzir algo e, também, a utilidade do produto. A definição do valor, certamente, irá atingir um maior grau de generalidade, eis que não abrange apenas os bens tradicionalmente econômicos, mas, sim, tudo o que o ser humano preza.   Por tudo isso o valor é individual, uma vez que as necessidades são heterogêneas e transitórias. O preço é para o valor uma medida convencional e relativa. A verdadeira medida do valor encontra-se no preço de determinado bem relativamente aos preços dos demais produtos e recursos disponíveis. Nesse sentido o preço serve de denominador financeiro comum de uma infinidade de coisas fisicamente heterogêneas.
            Não se pode reduzir o campo de aplicação do princípio da escassez como fonte do valor exclusivamente ao domínio do intercâmbio de bens materiais. “A superação da escassez se constitui numa dimensão fundamental e nobre da felicidade humana, e, portanto, a definição formal da ciência econômica vai muito além de seu campo de aplicação tradicional” (VERVIER, 1991, p 263).



[1] Os marginalistas são considerados economistas da escola neoclássica que sucedeu a escola clássica. Surgiram ao final do século XIX. O pensamento marginalista concentra sua análise na oferta e na demanda, na racionalidade de um indivíduo e sua capacidade de maximizar a utilidade ou o lucro. Emprestou grandes avanços no uso de modelos matemáticos na economia.

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