Que
significa a afirmação de que Maria escolheu a melhor parte? Mas quais são as situações
existentes, dentre as quais Maria pode escolher a melhor de todas? Temos a vida
ativa representada por Marta. Temos a vida contemplativa representada por
Maria. Na parte que cabe à Marta, vemos que está de pé, ocupada em praticar
obras corporais de misericórdia e caridade, boas e honestas. Na parte que cabe
à Maria, vemos que está deitada. Absorvida em meditações espirituais salutares,
durante as quais o ser humano considera a sua própria miséria, a Paixão de
Cristo e as alegrias do Céu.
Tanto
a primeira como a segunda parte, embora sejam boas e santas, terminam com a
vida presente. Conforme dito pelo próprio Senhor, Maria escolheu a melhor
parte, que não lhe será tirada. Não somos deste mundo. Assim, na outra vida, já
não haverá necessidade, como agora, de praticar obras de misericórdia, nem de chorar
por causa da nossa miséria ou da Paixão de Cristo. Ninguém terá fome nem sede. Não
morrerá de frio, nem andará doente, nem se encontrará sem abrigo ou na prisão; não
será necessário enterrar os mortos, porque ninguém morrerá. Contudo, essa parte,
que Maria escolheu, também será escolhida por aqueles que ouvirem o apelo da
graça. Tal parte nunca lhes será tirada, pois começa aqui, mas durará para todo
o sempre.
Uma importante graça que podemos
receber de Deus é cairmos de nosso pedestal. A partir daí, toda uma série de
graças sucessivas nos irão fortalecer em nossa árdua missão. Jesus Cristo,
Nosso Senhor, nunca deixou de estar junto de nós, derramando graças atrás de
graças a fim de nos fazer aptos para a missão que nos confiou. (Jo 20,21-23).
É desta forma que Jesus Cristo atua em
cada um de nós, seus discípulos. Fortalece-nos com sua graça para que,
atravessando dificuldades atrás de dificuldades, muros atrás de muros, possamos
levar a cabo nossa missão, pois não há discípulos sem missão, pois são dois termos
indissociáveis.
Ao chamar os discípulos para segui-lo,
Jesus Cristo lhes dá uma missão muito precisa: “Anunciar o Evangelho do Reino a
todas as nações” (Lc 24,46-48). Por isso, todo discípulo é necessariamente, um
missionário. Cumprir essa missão não é uma tarefa opcional, mas parte
integrante da identidade cristã, porque é a extensão testemunhal da própria
vocação.
No antigo testamento, podemos
relembrar a narrativa do Pentateuco, em especial dos Livros dos Números e do
Deuteronômio, acerca da caminhada do povo de Israel rumo à terra prometida
tendo à frente o patriarca Moisés. Refletindo sobre essa caminhada podemos verificar
e avaliar sobre:
1) 1. O período do deserto e das provações nele passadas;
2) 2. Considerar
com seriedade as advertências para que a posse da terra traga felicidade; e
3) 3. Trazer
sempre presente na mente a memória do tempo passado.
Fazendo uma analogia com os tempos de
hoje temos que ao depararmos, em nossa caminhada terrena, com momentos mais
críticos e difíceis, somos levados a esquecer do período de “deserto” e voltar
nossos olhos para a “terra prometida”, e muitas vezes não nos damos conta de
que o “deserto” é uma oportunidade de preparação, extremamente necessária para
a purificação e para conversão. Significa uma mudança de vida.
É nesta época de “deserto” que brota o
ensinamento para compreendermos o verdadeiro sentido do Mistério que tem
necessidade, primariamente, de exprimir-se por si em um maravilhoso encontro
pessoal com Jesus Cristo.
Se de um lado podemos observar que
nossos dias se caracterizam por uma incessante busca de um sentido autêntico
para nossa existência. De outro, devemos combater a indiferença e a tibieza que
muitas vezes toma conta de nossas atitudes e comportamentos. O tempo passa e
não podemos segurá-lo.
Vale à pena trazer presente a memória
histórica que nos permite reconhecer que existe um patrimônio histórico e
cultural construído pela Santa Igreja, que não se pode desprezar: a Escritura,
a Tradição e o Magistério e que pode nos servir à orientação, para compreender,
aprofundar e direcionar nossa existência.
Finalmente, rezemos como o doutor da
Igreja, São Tomás de Aquino, suplicando essa graça: “Concedei-me, suplico-vos, uma vontade que
vos procure, uma sabedoria que vos encontre, uma vida que vos agrade, uma
perseverança que nos espere confiadamente e uma confiança que no final chegue a
possuir-vos”