terça-feira, 29 de abril de 2025

      Sofrer sem nunca deixar de Amar



       Nosso Senhor aceita o amor na forma que oferecemos a Ele e não devemos viver o presente e os dias futuros com os olhos apenas no retrovisor. O amor de Jesus Cristo nos trás a esperança e Ele sentou conosco para que não ficássemos sentados nos nossos pecados. Santo Agostinho nos ensina que fomos feitos para Deus e o nosso coração estará inquieto até não repousar em Deus.  E de onde poderia surgir em nós a fonte do ser e da vida, senão de Deus? (Sl 99,3).


      No início a experiência das trevas faz parte do mistério da fé. No evangelho encontramos a glória do Tabor e a aniquilação do Getsâmini. Encontramos essa atitude na vida dos santos, que vivenciam as iluminações mais fervorosas, bem como as desolações mais pesadas. É importante renunciar a certos pensamentos que são verdadeiros venenos: "Porquê aconteceu?" ou "Se não tivesse acontecido". O desafio maior é nos abrir a toda a vida, aprender  a improvisar, a partir das dissonâncias e não apesar delas, para compor a sinfonia da nossa felicidade. "Alegrai-nos, alegrai-vos no Senhor".

     Esse caminho a ser trilhado não é linear, pois indo e vindo, trevas e luz, tudo é graça e Deus nos conduz, e o tempo que é uma criatura é também o remédio para que possamos convalescer e suportar os dias cinzentos até que a cura ocorra pois a feridas não desaparecerão, como vimos igualmente dos Santos Estigmas de Jesus Cristo. É preciso uma fé plena e não gigantesca e, aos poucos, experimentaremos um novo começo alicerçados na nossa oração e, principalmente, na oração dos demais cristãos.

      A misericórdia de Deus é o nosso conforto e devemos estar atentos ao Seu Chamado  para a missão maior de evangelizar e reconhecê-lo no sofrimento dos irmãos e ser instrumento para manifestar-lhes e testemunhar-lhes a bondade e a palavra de Deus.

       Amém







            

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Pai de um grande povo: Abraão

 


                                             Pai de um grande povo: Abraão

Ao ler a história do Patriarca Abraão no livro do Genesis notaremos que, embora sua vida não tenha sido tranquila, ele tinha, porém, a grande vantagem de ter Deus bem por perto. Sua caminhada foi repleta de testemunhos de fé e isso, por si só, o transforma em uma personagem cheia de peculiaridades que merecem ser realçadas, sobretudo o seu estreito relacionamento com Deus, as ricas características de sua pessoa, além de inúmeras contribuições doutrinárias.

Na dimensão histórica, temos que Abraão é um descendente de Sem e em obediência ao chamado de Deus, deixou sua terra e foi em direção à Terra Prometida. Esta obediência implicava grandes sacrifícios, mas a sua fé era ainda maior. Pôs-se em viagem, deixou sua pátria e suas propriedades e chegou à terra de Canaã. Caminhou por Siquem, Hebron, Betel e Bersabé. Andou também pelo Egito.

Algumas características da personalidade de Abrão, modelo de fé, levaram-no a uma conversão total implicando transformação de sua própria vida. A narração bíblica de sua   vocação mostra-nos um homem temente e obediente a Deus e que nem as condições de limites físicos e emocionais o levaram a desacreditar na vontade do Senhor. Diante da sua adiantada idade, com mais de cem anos, e tendo presente a condição de esterilidade de sua esposa, demonstrou personalidade decidida e buscou fazer a sua parte e não ficar de braços cruzados na espera da realização das promessas. Adotou como filho um servo, mas foi-lhe dirigida pelo Senhor a palavra de que “não será esse o seu herdeiro, mas alguém saído de seu sangue” (Gn 15,14). A fé de Abraão é a confiança numa promessa humana irrealizável.

Por conselho de sua mulher, Sara, Abraão se uniu a uma escrava, Agar, que deu à luz a Ismael. Fez isto porque era costume na época considerar filho da esposa o filho da escrava da esposa, quando ela consentia. Também desta vez Deus se manifestou dizendo que a sua descendência proviria dele e de Sarai (Gn 17,19). Abraão ficou agora sem saber, mas acreditou e esperou. No entanto, Abrão e Sara envelheciam. Um dia, enquanto estava acampado em Mambré, apareceram três anjos sob a forma humana e lhe anunciaram o nascimento de um filho, o que aconteceu um ano depois. O filho foi chamado de Isaac (Gn 21,3). O significado do nome é “filho da alegria”.

Tudo parecia resolvido, mas a fé de Abraão deveria ser ainda duramente provada. O filho cresceu com saúde e se tornou adolescente. Deus mando que lhe imolasse Isaac no monte Moriá. Sem duvidar mais uma vez, Abraão passou na prova da fé e da obediência. No último momento Deus impediu o sacrifício. No último momento Deus impediu que o sacrifício fosse consumado e renovou todas as promessas a Abraão (Gn 22,15-18).

Que sentido pode-se tirar desse episódio? Deus é o Deus da vida e não da morte. O testemunho dado por Abraão de obedecer fielmente à vontade de Deus denotou sua disposição sempre viva de fazer o que Deus lhe ordenasse, mesmo que lhe custasse a vida de seu único e tão desejado filho. Abrão morreu aos 175 anos de idade e foi sepultado numa gruta que ele comprou de um heteu e sem tem um palmo de terra de sua propriedade. Deus lhe tinha prometido que seria pai de uma grande nação numa Terra Prometida. A promessa de Deus se cumpriu na sua descendência (Gn 25,7-11).

Do ponto de vista concreto “em nenhuma narrativa do Gênesis figura alguma histórica mencionada pode ser identificada. Tampouco nenhum antepassado hebreu mencionado foi revelado ainda em nenhuma inscrição contemporânea” (BRIGHT 2010). Se por um lado a arqueologia ainda não provou que as histórias dos patriarcas aconteceram exatamente como a Bíblia as narra, de outro lado não apareceu ainda nenhuma evidência que contradiga algum item da tradição judaica.

A história daquela época nos diz que era muito grande o movimento migratório de povos naquela região e que, também, muitas tribos saíram de suas terras, com seus “deuses” próprios buscando vida melhor. O que Abrão tinha então de especial? Abraão buscava o ideal da vida, o valor absoluto dentro da sua religiosidade. Enquanto outros buscavam, sem pensar em religiosidade, apenas para fazer o que é mais justo e correto, Abraão o fazia buscando seguir a Deus, o valor absoluto.

E foi assim que Deus entrou na vida de Abraão, como entra na nossa também. É na hora em que ele buscava ser homem verdadeiro, realizar seu ideal, sendo fiel consigo mesmo e com os outros. “A vida de Abraão se apresenta como um itinerário singular com uma dupla dimensão: geográfica e espiritual” (LOPEZ 2006), começa com a saída de Ur (Ex 11,31) e termina com sepultamento em Macpela (Ex 25,9). Do ponto de vista espiritual, começa com um mandato e algumas promessas de Javé (Ex 12,1-3) e culmina num outro mandato e com novas promessas divinas (Ex 22,1-19). A primeira e a última palavra são de Deus, que transforma num itinerário espiritual extraordinário o que poderia ter sido um simples itinerário geográfico.

A história narrada nas Sagradas Escrituras mostra-nos um homem de carne e osso que procura acertar na vida e que nesse esforço encontra o Deus verdadeiro. A entrada de Deus em sua vida foi silenciosa, mas intensa. Abrão aceitou as condições de Deus e caminhou na fé.

A promessa de Deus a Abrão abrangeu três aspectos, a saber:

a)        Terra: Deus promete a Abraão uma nova terra é a segurança. Emprego, moradia, solo, estabilidade. Da terra se tira todo o sustento, se estabelecem as famílias, se garante a sobrevivência.

b)      Nação: Deus promete a Abraão uma descendência mais numerosa do que as estrelas do céu! Abraão seria o pai de um povo, com sua cidadania, pertença, identidade pessoal. Um povo de filhos, descendentes por laços afetivos, famílias, grupos, comunidades, organizações.

c)      Benção: Em Abrão serão abençoadas todas as famílias da terra, toda a humanidade com a garantia de Deus, na vida Plena, na paz e na prosperidade. A bênção é a própria realização, felicidade e sentido da vida.

As atitudes firmes de Abraão transformaram-se em ensinamentos doutrinários que propugnavam a crença em um único Deus e passaram para dentro do sangue Hebreu dando características singulares ao culto que este povo prestava ao Senhor, com influências decisivas na estrutura e na fé do povo hebreu que, em virtude disso, assumiu em seus cultos uma feição mais profunda. Havia entre o povo, igualmente, um sentimento de solidariedade tribal, de solidariedade entre o povo de Deus, que contribuiu para este senso intensamente forte de “povo”.

Além disso, a ideia de promessa e aliança estava arraigada na mente dos Hebreus. “Embora continuem existindo muitos hiatos é possível estabelecer a confiança de que o quadro dos patriarcas apresentado pela Bíblia está profundamente fundamentado na história” (BRIGHT 2010).

Abraão é o Pai de um grande povo. Com ele, começou a busca incessante do cumprimento da promessa, a qual, embora realizada pela posse da Terra e da posteridade, não podia ser satisfeita só por estes dons, mas, como um dedo apontado através de todo o Antigo Testamento que conduz a humanidade à cidade “da qual Deus é arquiteto e construtor” (Hb 11,10). Ele acreditou e por isso pôs-se a caminho. Assim, somos também convidados a “sermos! Abraão, buscando caminhar com sinceridade de vida para encontrar a Deus; vivendo uma atitude de abandono absoluto e confiança plena em Deus através da fé e da obediência na certeza de que quem caminha por esta estrada descobrirá o rosto de Deus na vida. Não é, portanto, sem sólida razão histórica que os cristãos e os judeus o consideram como pai de toda a fé (Gn 15,6; Rm 4,3; Hb 11,8-10).

 

Referências para aprofundamento do tema:

Bíblia de Jerusalém

Dom Estevão Bittencourt: Livro Para Entender o Antigo Testamento

John Bright: Livro História de Israel

Catecismo da Igreja Católica

Wilfrid J. Harrington: Livro Chave para a Bíblia: A revelação, A promessa, A realização.

 

 


sexta-feira, 4 de outubro de 2024


 

Educação Católica - Documento de Aparecida

Descobrindo ou integrando a dimensão religiosa e transcendente


        O Documento de Aparecida, ao abordar a Educação Católica, diz " A Igreja é chamada a promover em suas escolas uma educação centrada na pessoa humana que é capaz de viver na comunidade oferecendo a esta o bem que a Igreja possui. Diante do fato de que muitos se encontram excluídos, a Igreja deverá estimular uma educação de qualidade para todos, formal e não formal, especialmente para os mais pobres. Educação que ofereça às crianças, aos jovens e aos adultos o encontro com valores culturais do próprio país, descobrindo ou integrando neles a dimensão religiosa e transcendente" (DA no.  334).

    A missão que, com grande esperança, a Igreja confia à educação reveste-se de um significado cultural e religioso de importância vital, pois diz respeito ao futuro da própria  humanidade. A renovação no modo de pensar a educação irá tornar os agentes da sociedade, envolvidos com atitudes cristãs, capazes de corresponder ao carisma e a missão que lhes foram confiadas para atuarem como discípulos e missionários de Jesus Cristo e, com coragem, corresponderem ao dever de levar a mensagem do Evangelho aos vários cantos do mundo. Ai de mim se não pregar o Evangelho (1 Cor 9,16).

         A ação salvífica da Igreja, sobre as diversas culturas existentes, realiza-se, antes de tudo, por intermédio das pessoas, das famílias e dos educadores. Assim, a todos que pertencem ao Corpo místico de Cristo. Portanto, é crucial que todos e cada um de nós tomemos consciência desta importante missão, auxiliados pelos ensinamentos do documento de Aparecida. Juntos devemos atuar para que a força do Evangelho penetre e regenere as mentalidades e os valores destrutivos dominantes e que inspiram cada uma da culturas e são contrários ao plano de amor de Deus para a humanidade. 

         Sabemos que a educação está inserida em um contexto de dificuldades, mas a esperança nos move a vencê-las (Rm 15,13), sobretudo em razão da importância, urgência e necessidade da causa maior da evangelização. Nossa amada Igreja e o mundo têm grande necessidade do testemunho de bons e comprometidos educadores, com suas contribuições competentes, livres e reesposáveis. "Não vos chamo  servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor, mas chamei-vos amigos, pois tudo quanto ouvi do Pai vos dei a conhecer" (Jo 15,15).

          São muitos os espaços onde podemos e devemos entrar no debate, a saber:

          I - Nos excessos da vida técnica voltada para o sucesso. É um drama humano e precisamos superar o medo e ter coragem para pensar além do pão terrestre.

                 II - A racionalidade, que nos permita trabalhar a indagação acerca do princípio e o fim último das coisas, pois a razão humana é escatológica por natureza, ou encontra Deus ou encontra o vazio.

               III - A riqueza e o patrimônio do Magistério da Igreja e sua identidade milenar para além do senso comum contemporâneo.

           Podemos afirmar que o zelo pastoral da nossa amada Igreja em todo este contexto está relacionado com o respeito à diversidade e direitos das minorias e na busca da emancipação da pessoa humana no plano intelectual, ético, social e espiritual. Não podemos nos esquecer de que o fator espiritual é uma tendência natural do ser humano, na busca da transcendência, sobretudo quando a pessoa toma consciência da fragilidade de sua própria existência.


Referência: Documento de Aparecida










quinta-feira, 14 de setembro de 2023

Exaltação a Santa Cruz


 Exaltação a Santa Cruz

Jesus Cristo disse que:

Os que o seguem devem tomar a própria cruz, perdendo assim a vida para conquistá-la.

Mt 10,38

Mt 16,24

Mc 8,34

Lc 9,23

Lc 14,27

Não se trata apenas de uma alusão à sua própria morte, mas também da afirmação de que o seguimento exige a “negação de si mesmo” (Mc 8,34-35)

1) Total desprezo pela própria vida

2)  Pelo bem-estar

3)  Pelas posses pessoais

E tudo aquilo a que se deve renunciar para seguir Jesus Cristo.

Quero aqui lembrar São Paulo.

Ao anunciar Jesus Cristo crucificado não era sua intenção pregar o Evangelho da Cruz em uma linguagem refinada.

Tudo isso para não privar a cruz do seu real valor (1 Cor 1,17)

A linguagem da cruz é absurda para os que, sem ela, se perdem; entretanto é poder de Deus para aqueles que se salvam (1 Cor 1,18).

Escândalo para os Judeus e loucura para os gentios (1 Cor 1,23; 2,2).

Levado por uma força interior, São Paulo sabia que se pregasse a circuncisão, não haveria o escândalo da cruz (Gl 5,11)

Com isso, ele quer dizer que a Cruz, um escândalo para os Judeus, perderia o seu valor redentor se a circuncisão fosse necessária.

Para São Paulo, o único motivo de glória é a cruz de Jesus Cristo (Gl 6,14).

Na Cruz Jesus uniu Judeus e Gentios (Ef 2,16)

Alguns falsos apóstolos são inimigos da cruz de Cristo (Fl 3,18).

Esses inimigos não têm a noção do verdadeiro e infinito significado da cruz.

Na cruz o ódio da humanidade se contrapõe ao amor de Deus.

Nessa mesma cruz o amor de Deus se contrapõe ao ódio da humanidade.

E a morte e o pecado são derrotados na glória da ressurreição.

Deus anulou a dívida da humanidade para consigo, pregando Jesus Cristo na cruz.

Isto é, fazendo-O vítima para pagamento dessa dívida (Cl 2,14).

Aqueles que pertencem a Jesus Cristo “crucificam a carne”, ou seja, dominam eficazmente as paixões sensuais da natureza e aceitam a renúncia e o desapego.

Por meio da cruz de Jesus Cristo, São Paulo é crucificado para o mundo e o mundo é crucificado para Paulo (Gl 6,14).

Essa metáfora utilizada por São Paulo indica uma renúncia completa: o mundo é a cruz sobre a qual a vida de São Paulo é sacrificada.

São Paulo, o apóstolo de Cristo. “O leão”. Como a ele se referiu Santo Agostinho.

Portanto, trazendo para a nossa realidade de hoje, devemos, também, ser pessoas nas quais o amor de Deus tenha a intensidade suficiente para nos conservarmos apóstolos solícitos em comunicar ao maior número possível de almas os ardores da caridade.

Se o nosso apostolado visasse tão-somente a fazer bons cristãos, como seria acanhado nosso ideal!

São legiões de seguidores de Jesus Cristo que nós devemos criar, a fim de que essa célula fundamental da sociedade, que chamamos de família, se torne por sua vez um centro de apostolado.

 

Lc 12,54-59

Não se faça de desentendido!

Lucas 12

54 E dizia também à multidão: Quando vedes a nuvem que vem do ocidente, logo dizeis: Lá vem chuva, e assim sucede.

55 E, quando assopra o Sul, dizeis: Haverá calma; e assim sucede.

56 Hipócritas, sabeis discernir a face da terra e do céu; como não sabeis então discernir este tempo?

57 E por que não julgais também por vós mesmos o que é justo?

58 Quando, pois, vais com o teu adversário ao magistrado, procure entrar em acordo como ele no caminho, para que não suceda que te conduza ao juiz, e o juiz te entregue ao meirinho, e o meirinho te encerre na prisão.

59 Eu te digo, não sairás de lá antes de pagares o último centavo”

 

Enquanto estamos a caminho. O tempo que temos é agora.

Mc 8, 36-38

Nenhuma arte humana, por maravilhosa que seja, é comparável à ação de Jesus Cristo. Portanto, somos servos inúteis a quem Deus nos dá a graça de servir.

Conforme dito na epístola de São Paulo aos Gálatas (Gl 3,1) Jesus Cristo nos é apresentado na sua morte redentora e sua imagem na cruz nos é desenhada diante de nossos próprios olhos, todos os dias no sacrifício eucarístico.

Concluo, com as palavras do próprio Jesus Cristo

Em verdade vos digo que estão aqui presentes alguns que não provarão a morte até que vejam o Reino de Deus chegando com poder (Mc 9,1)

sábado, 29 de maio de 2021

O tempo passa e não podemos segurá-lo


 

     O Evangelista São Lucas narra que:

Caminhando Jesus e os seus discípulos, chegaram a um povoado onde certa mulher chamada Marta o recebeu em sua casa. Maria, sua irmã, ficou sentada aos pés do Senhor, ouvindo a sua palavra. Marta, porém, estava ocupada com muito serviço. E, aproximando-se dele, perguntou: "Senhor, não te importas que minha irmã tenha me deixado sozinha com o serviço? Dize-lhe que me ajude!" Respondeu o Senhor: "Marta! Marta! Você está preocupada e inquieta com muitas coisas; todavia apenas uma é necessária. Maria escolheu a melhor parte, e esta não lhe será tirada". (Lc 10, 38-42)

Que significa a afirmação de que Maria escolheu a melhor parte? Mas quais são as situações existentes, dentre as quais Maria pode escolher a melhor de todas? Temos a vida ativa representada por Marta. Temos a vida contemplativa representada por Maria. Na parte que cabe à Marta, vemos que está de pé, ocupada em praticar obras corporais de misericórdia e caridade, boas e honestas. Na parte que cabe à Maria, vemos que está deitada. Absorvida em meditações espirituais salutares, durante as quais o ser humano considera a sua própria miséria, a Paixão de Cristo e as alegrias do Céu.

Tanto a primeira como a segunda parte, embora sejam boas e santas, terminam com a vida presente. Conforme dito pelo próprio Senhor, Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada. Não somos deste mundo. Assim, na outra vida, já não haverá necessidade, como agora, de praticar obras de misericórdia, nem de chorar por causa da nossa miséria ou da Paixão de Cristo. Ninguém terá fome nem sede. Não morrerá de frio, nem andará doente, nem se encontrará sem abrigo ou na prisão; não será necessário enterrar os mortos, porque ninguém morrerá. Contudo, essa parte, que Maria escolheu, também será escolhida por aqueles que ouvirem o apelo da graça. Tal parte nunca lhes será tirada, pois começa aqui, mas durará para todo o sempre.

   Uma importante graça que podemos receber de Deus é cairmos de nosso pedestal. A partir daí, toda uma série de graças sucessivas nos irão fortalecer em nossa árdua missão. Jesus Cristo, Nosso Senhor, nunca deixou de estar junto de nós, derramando graças atrás de graças a fim de nos fazer aptos para a missão que nos confiou. (Jo 20,21-23).

   É desta forma que Jesus Cristo atua em cada um de nós, seus discípulos. Fortalece-nos com sua graça para que, atravessando dificuldades atrás de dificuldades, muros atrás de muros, possamos levar a cabo nossa missão, pois não há discípulos sem missão, pois são dois termos indissociáveis.

   Ao chamar os discípulos para segui-lo, Jesus Cristo lhes dá uma missão muito precisa: “Anunciar o Evangelho do Reino a todas as nações” (Lc 24,46-48). Por isso, todo discípulo é necessariamente, um missionário. Cumprir essa missão não é uma tarefa opcional, mas parte integrante da identidade cristã, porque é a extensão testemunhal da própria vocação.

   No antigo testamento, podemos relembrar a narrativa do Pentateuco, em especial dos Livros dos Números e do Deuteronômio, acerca da caminhada do povo de Israel rumo à terra prometida tendo à frente o patriarca Moisés. Refletindo sobre essa caminhada podemos verificar e avaliar sobre:

1)     1. O período do deserto e das provações nele passadas;

2)     2. Considerar com seriedade as advertências para que a posse da terra traga felicidade; e

3)     3. Trazer sempre presente na mente a memória do tempo passado.

   Fazendo uma analogia com os tempos de hoje temos que ao depararmos, em nossa caminhada terrena, com momentos mais críticos e difíceis, somos levados a esquecer do período de “deserto” e voltar nossos olhos para a “terra prometida”, e muitas vezes não nos damos conta de que o “deserto” é uma oportunidade de preparação, extremamente necessária para a purificação e para conversão. Significa uma mudança de vida.

   É nesta época de “deserto” que brota o ensinamento para compreendermos o verdadeiro sentido do Mistério que tem necessidade, primariamente, de exprimir-se por si em um maravilhoso encontro pessoal com Jesus Cristo.

   Se de um lado podemos observar que nossos dias se caracterizam por uma incessante busca de um sentido autêntico para nossa existência. De outro, devemos combater a indiferença e a tibieza que muitas vezes toma conta de nossas atitudes e comportamentos. O tempo passa e não podemos segurá-lo.

   Vale à pena trazer presente a memória histórica que nos permite reconhecer que existe um patrimônio histórico e cultural construído pela Santa Igreja, que não se pode desprezar: a Escritura, a Tradição e o Magistério e que pode nos servir à orientação, para compreender, aprofundar e direcionar nossa existência.

   Finalmente, rezemos como o doutor da Igreja, São Tomás de Aquino, suplicando essa graça:  “Concedei-me, suplico-vos, uma vontade que vos procure, uma sabedoria que vos encontre, uma vida que vos agrade, uma perseverança que nos espere confiadamente e uma confiança que no final chegue a possuir-vos”

 

 

 


quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Temer o fogo Eterno da Condenação


Resultado de imagem para são policarpo de esmirna
São Policarpo de Esmirna
Aproveitamos o início da Quaresma para meditarmos sobre este grande santo da nossa Igreja, tratamos de alguns aspectos relacionados à vida de São Policarpo (†156) que foi bispo de Esmirna.
Policarpo, extremamente jovem, foi convertido pelo apóstolo João no ano 80 e “instituído pelas testemunhas oculares da vida do Verbo” (SGARBOSSA, 2005). Sua investidura no cargo de bispo de Esmirna foi realizada pelo próprio apóstolo São João.
Em depoimento de Santo Irineu, que foi seu discípulo, Policarpo foi discípulo de São João Evangelista. Além disso, recebeu instruções diretas de Santo Inácio de Antioquia acerca de seus deveres de pastor, tendo sido exortado a “ser atleta, firme como bigorna sob os golpes do martelo” (ALTANER, 2004).
Com relação à sua doutrina, há referência a diversas cartas a comunidades e a bispos em particular, conforme atestado em depoimento de Santo Irineu, das quais resta uma carta escrita aos cristãos de Filipéia, na Macedônia, em resposta ao pedido de alguns bons conselhos, formulado a quem conhecera de muito próximo o apóstolo predileto de Jesus, assim como alguns escritos de Inácio de Antioquia, ou de “outros que tinham visto o Senhor” (SGARBOSSA, 2005).
No ano 155 estava em Roma com o Papa Aniceto tratando de vários assuntos da Igreja, inclusive a data da Páscoa. Mas, não se conseguiu um entendimento entre ambos. Combateu os hereges gnósticos e quando Marcião, o heresiarca, destituído por seu bispo, perguntou a Policarpo se o conhecia, este respondeu: “Sim, eu te conheço: És o primogênito de Satanás” (ALTANER, 2004).
O procônsul romano Estácio Quadratus conseguiu descobrir Policarpo escondido em um celeiro. O Bispo não bramia como seu amigo Inácio para ser enviado como pasto às feras. Era já idoso, completara 86 anos e estava ciente de não poder depositar muita confiança em suas próprias forças.
Mas, uma vez capturado, deu prova de serena coragem, e o procônsul, que o exortava a renegar a Cristo, dele ouviu esta resposta tranquila: “Já sirvo há 86 anos e não me fez nenhum mal; como poderei blasfemar agora contra o rei que me redimiu?”. E diante da ameaça de ser queimado vivo, retrucava: “O fogo que me ameaça queima um momento, depois passa; eu temo, isto sim, o fogo eterno da condenação”.
A profissão de fé do idoso bispo custou-lhe a condenação à pira. Tornou-se assim “um pão que se cozinha”, eucaristia viva, enquanto seus lábios pronunciavam a última e maravilhosa oração: “Sê, pois, bendito para sempre, ó Senhor...”
O martírio de São Policarpo é a mais antiga narrativa da paixão e morte de mártir que se tenha conservado.
Na Igreja latina, São Policarpo é honrado a 26 de janeiro. Seus companheiros recolheram seus ossos, mais valiosos que pedras preciosíssimas, mais apreciados que ouro, e os sepultaram num lugar apropriado.

Referências

ALTANER, B; STWIBER, A. Patrologia. 3 ed. São Paulo: Paulus, 2004.
LIÉBAERT, JACQUES. Os Padres da Igreja: Séculos I-IV. 3ed. São Paulo: Loyola, 2000.
PADOVESE, LUIGI. A Introdução à Teologia Patrística. 2 ed. São Paulo: Loyola, 2004.
SGARBOSSA, MARIO. Os Santos e os Beatos: da Igreja do Ocidente e do Oriente. 2 ed. São Paulo: Paulinas, 2005